Rastro
A escadaria
De dia,
o campo aberto de nossas excelências
que desfilam , cenhos fechados
Grandes questões do mundo para decidir
os carros brilhantes, o comércio
dotô pra cá, dotô pra lá
De noite,
puteiro- cracolândia
o mercado das carnes
em promoção
pedra a dez real
tem de cinco
tem de dois
sexo a trinta
amor por duas pedras
"aceitamos qualquer moeda:
até cartão"
as marcas de sangue
com pegadas no chão
na descida da esquina
mais conhecida
pés de homem, coisa de ontem
pelo tamanho, pelo tempo
seguindo com um bordo
de havaianas
rodeado de vermelho
muito escuro e denso
(sangue arterial)
um esfaqueamento
um tiro
um acidente?
na porta da casa rosada
onde sobem os marinheiros
com a bagagem do mundo
e de onde descem aliviados
no espaço enorme
de uns quarenta metros
de calçada nova, cidadã
margens de pastilhas vermelhas
centro de cimento clarinho
os passos , de início
mais abertos, tortos
(o susto do golpe
a surpresa da dor
ainda em choque)
metros à frente,
tornam-se mais curtos
centrados
(a consciência da
hemorragia, a iminência
do desmaio, sangue
arterial, corte profundo
ainda não coagulado)
a gastura daqueles passos
que apenas algumas horas atrás
antes de raiar este sol forte
de torrar a pele
antes de virem á rua
esses mesmos carros
e os mesmos rostos
eram passos trôpegos
de um homem
saindo (fugindo?)
da casa dos prazeres
com suas havaianas
sigo mesmo sem querer
por ser parte do caminho
com uma cesta mesura
de não querer pisar nos passos
que poderiam ter sido os últimos
de alguém
um marinheiro?
um junkie?
um curioso burocrático
da metrópole que afoga suas mágoas
às luzes turvas de uma capital em segredo?
os passos subitamente somem
perto do bueiro bem em frente
ao maior supermercado da região
não há outros traços, indo,
nem voltando, as pegadas
simplesmente param ao lado
do bueiro, onde tem
uma grande poça de sangue
seco e cimento misturado
algum carro, ambulância
alguma nave espacial
desfragmentando corpos
o teriam levado?
alguém que começou
a ação metros atrás
teria voltado para
completar a missão?
ou ele simplesmente
se liquefez no próprio
sangue, esvaindo-se
bueiro abaixo
sem deixar outros sinais?
o dia segue mesmo
sem saber, e ainda hoje
quando retorno, passados
dez dias, estão lá
aqueles passos,
eu continuo evitando
pisar em cima, uma
espécie de homenagem
silenciosa a um
cidadão misterioso
que talvez nem viva mais
as marcas ainda estão
lá, todos os dias
e nem a chuva as consegue
demover, essa tinta rubra
e pegajosa que marca a história
havaianas trôpegas
de sangue arterial
escuro, profundo
sem saber dos vivos
aonde foi dar o mundo
De dia,
o campo aberto de nossas excelências
que desfilam , cenhos fechados
Grandes questões do mundo para decidir
os carros brilhantes, o comércio
dotô pra cá, dotô pra lá
De noite,
puteiro- cracolândia
o mercado das carnes
em promoção
pedra a dez real
tem de cinco
tem de dois
sexo a trinta
amor por duas pedras
"aceitamos qualquer moeda:
até cartão"
as marcas de sangue
com pegadas no chão
na descida da esquina
mais conhecida
pés de homem, coisa de ontem
pelo tamanho, pelo tempo
seguindo com um bordo
de havaianas
rodeado de vermelho
muito escuro e denso
(sangue arterial)
um esfaqueamento
um tiro
um acidente?
na porta da casa rosada
onde sobem os marinheiros
com a bagagem do mundo
e de onde descem aliviados
no espaço enorme
de uns quarenta metros
de calçada nova, cidadã
margens de pastilhas vermelhas
centro de cimento clarinho
os passos , de início
mais abertos, tortos
(o susto do golpe
a surpresa da dor
ainda em choque)
metros à frente,
tornam-se mais curtos
centrados
(a consciência da
hemorragia, a iminência
do desmaio, sangue
arterial, corte profundo
ainda não coagulado)
a gastura daqueles passos
que apenas algumas horas atrás
antes de raiar este sol forte
de torrar a pele
antes de virem á rua
esses mesmos carros
e os mesmos rostos
eram passos trôpegos
de um homem
saindo (fugindo?)
da casa dos prazeres
com suas havaianas
sigo mesmo sem querer
por ser parte do caminho
com uma cesta mesura
de não querer pisar nos passos
que poderiam ter sido os últimos
de alguém
um marinheiro?
um junkie?
um curioso burocrático
da metrópole que afoga suas mágoas
às luzes turvas de uma capital em segredo?
os passos subitamente somem
perto do bueiro bem em frente
ao maior supermercado da região
não há outros traços, indo,
nem voltando, as pegadas
simplesmente param ao lado
do bueiro, onde tem
uma grande poça de sangue
seco e cimento misturado
algum carro, ambulância
alguma nave espacial
desfragmentando corpos
o teriam levado?
alguém que começou
a ação metros atrás
teria voltado para
completar a missão?
ou ele simplesmente
se liquefez no próprio
sangue, esvaindo-se
bueiro abaixo
sem deixar outros sinais?
o dia segue mesmo
sem saber, e ainda hoje
quando retorno, passados
dez dias, estão lá
aqueles passos,
eu continuo evitando
pisar em cima, uma
espécie de homenagem
silenciosa a um
cidadão misterioso
que talvez nem viva mais
as marcas ainda estão
lá, todos os dias
e nem a chuva as consegue
demover, essa tinta rubra
e pegajosa que marca a história
havaianas trôpegas
de sangue arterial
escuro, profundo
sem saber dos vivos
aonde foi dar o mundo