O Tempo Redescoberto
para Marcel Proust
----
No primeiro dia, enfiei as mãos na terra
arranquei o mato, reguei meu jardim
e pus a alma pra secar ao sol
No segundo dia, cuidei dos cachorros
dei atenção especial aos passarinhos
e varri o quintal
No terceiro dia, fiz meu próprio bife
com feijão preto, muito alho e um ovo
(um não, dois) com gemas moles por cima
No quarto dia, rabisquei um poema
No quinto dia, li um capítulo inteiro do romance
que adiei por tanto tempo e ainda
assisti a um bom filme
No sexto dia, depois de ligar para um
amigo com quem há muito não falava
apenas para ouvir sua voz
fui passear na pracinha
no intervalo de almoço, num clima de sol à meia estação,
ver de perto como é que andam as pessoas que eu não conheço
No sétimo, tomei um café bem forte
logo pela manhã e me deitei na minha rede
preferida na varanda pra ler o jornal
Depois de tanto sangue
joguei as notícias fora e imaginei
no caderno B misturado ao sonho
das duas da tarde um país impossível
que só habita minha imaginação
de astronauta
(Às vezes o que um homem precisa
mais é sossego e distância do mundo)
Agora, em prelúdios de sol se pondo
vou juntando miolos de pão na palma da mão
pra jogar aos pardais que se aglomeram
sobre o telhado
----
No primeiro dia, enfiei as mãos na terra
arranquei o mato, reguei meu jardim
e pus a alma pra secar ao sol
No segundo dia, cuidei dos cachorros
dei atenção especial aos passarinhos
e varri o quintal
No terceiro dia, fiz meu próprio bife
com feijão preto, muito alho e um ovo
(um não, dois) com gemas moles por cima
No quarto dia, rabisquei um poema
No quinto dia, li um capítulo inteiro do romance
que adiei por tanto tempo e ainda
assisti a um bom filme
No sexto dia, depois de ligar para um
amigo com quem há muito não falava
apenas para ouvir sua voz
fui passear na pracinha
no intervalo de almoço, num clima de sol à meia estação,
ver de perto como é que andam as pessoas que eu não conheço
No sétimo, tomei um café bem forte
logo pela manhã e me deitei na minha rede
preferida na varanda pra ler o jornal
Depois de tanto sangue
joguei as notícias fora e imaginei
no caderno B misturado ao sonho
das duas da tarde um país impossível
que só habita minha imaginação
de astronauta
(Às vezes o que um homem precisa
mais é sossego e distância do mundo)
Agora, em prelúdios de sol se pondo
vou juntando miolos de pão na palma da mão
pra jogar aos pardais que se aglomeram
sobre o telhado
--------
poema editado, publicado originalmente em 21-03-2018