No caminho
"(...) até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa, rouba-nos
a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos
a voz da garganta. E já não podemos dizer nada".
(Eduardo Alves da Costa, "No Caminho com Maiakóvski)
Tomei a dignidade do teu trabalho
atei correntes ao teu calcanhar
Turvei tua melhor razão
te dei um mito para adorar
Concebi um novo alfabeto
e te obriguei a decorar
Exterminei as diferenças
e pus uma nova imagem no lugar
Atentei contra as mulheres
botando a raiva pra funcionar
Matei teu amigo negro
mas não sem antes o humilhar
Eliminei as outras bandeiras
mas não sem antes
caluniar
Queimei todos os livros
mas não sem antes me vangloriar
Extingui toda dissidência
botei a força pra legislar
Extingui toda dissidência
botei a força pra legislar
Ceifei os filhotes índios
plantando a praga em seu lugar
Censurei todas as cores
pra outra era se anunciar
Calei todas as noites
levando os cães pra passear
Calei todas as noites
levando os cães pra passear
E por incrível que pareça
nunca foi tão fácil começar