O Graal

A quanto andas Cavaleiro
                        onde está o teu graal?

cansado de batalhas
teu cavalo tá perdido
sem ver  mais
qualquer sentido
no final
                                                (há final?)


A quanto andas, Cavaleiro

onde estão teus ideais?

teus motivos tão perdidos

coletividades relegadas ...

           estão perdidos teus motivos

               agora pra não mais


Eles
(destituídos e fatigados)
morrem, se entregam, se recusam
a olhar muito adiante
ou desafiando qualquer premonição
se refazem agora, no instante
em que o mundo la´fora
em pavor e aberração
reestrutura essa mistura
de tédio, banalidade e terror

No momento em que, sob os olhos
insones do inquisidor
camuflam-se à luz do dia
as ilimitadas formas de amor

Como se a morte o assassinato e a dor
obedecessem a alguma normalidade
e espreitar a liberdade soasse sempre
como a fuga de algum perigo

E  permitem-se e  glorificam-se
com tamanha criatividade
novas formas de se delatar
e se enclausurar os amigos

A quanto andas, Cavaleiro
ainda não te disseram
o que importa não é o fim
a que se destina
mas o meio, o processo
a lavra

sentido liberto para o que se cava
um corpo desperto
integrado, coeso
                    sanidade

por outras vias
cuja morte ora se celebra

Várias potências em uma
trabalhadas incansavelmente
corpo demorado construído
(subitamente esquecido)
tudo renegado, sob o nome
desse novo moralismo

Cavaleiro
se o mundo antigo em cujo texto
militavas já é morto
e o que resta
não é mais para ti algo além
do mais profundo desgosto

Quantas lacunas em teu ideal
quantos monstros ainda dormem
Cavaleiro do Graal
                  em teu mais recôndito calabouço