Trópico de Câncer (Henry Miller)
Eros como fonte de vida. Um Nietzscheano em sua imersão no "mundo real". Escritos fortemente autobiográficos (existe isso, ou toda autobiografia também não é um tipo de ficção?) Seja como for, a prosa de Miller põe em campo a noção de como podem caminhar juntas filosofia e arte, desde que Logos não insista em governar Eros. O resgate do erótico como motor da vida, por uma linguagem livre que contudo não o torna panfletário ou senso comum, mas o re-humaniza e redireciona para o que lhe foi tirado de essencial: sua naturalidade. O corpo indócil contra as correntes, o indivíduo contra o sistema, em belíssimas e inspiradas divagações que tornam o texto de Miller algo único e fazem entender uma vez mais o quanto a moral tacanha e repressora (hoje tão em moda por nossas tristes terras brasis) atua como um inimigo mortal de todo tipo de arte.
Inspirador de toda uma geração, de Anaís Ninn e Philip Roth a Foucault e escritor instigante ainda hoje, passados quase cem anos dos seus primeiros textos. A lição de tenacidade e busca de um escritor incansável em suas compulsivas leituras. Abandonar tudo pela literatura fez de Miller um pensador em tempo integral, e engana-se quem busca no seu texto uma noção mais rasa e hedonista.
Amigo de pintores, músicos e da vida boêmia na Paris dos anos 30, estudioso de temas que variam de história, artes, literatura e filosofia a biologia, como bom rato de biblioteca, sua concepção da corporeidade vai muito além da superfície: nietzscheana, quer outra perspectivação desse corpo ainda mal resolvido tanto na literatura quanto na vida. Seu erotismo é rebeldia consciente opondo o prazer contra o dever pra gangrenar a fábrica. Propõe o resgate desse corpo mais negado que celebrado, até então. Objeto ou sujeito de um discurso fugidio, uma fala sem lugar. Presente na fala, ou em fantasmagorias, mas desprovido de sua vitalidade por ideologias niilistas ou arregimentado pelo trabalho e sucumbindo em tantos outros espaços ao negar seu potencial. A anarquia dos sentidos e do sentir contra esses velhos grilhões insidiosos. A fuga da América puritana do início de século para Paris, em busca de maior liberdade de expressão. A descoberta do poder do sexo como conquista de si, o ócio criativo e a arte contra a velocidade absurda da máquina e as formas de repressão continuamente criadas pelo sistema, com suas "fábricas de doentes".
"Trópico de Câncer", a injustiça de ter sido considerado "escritor maldito" durante tantas décadas, e ao mesmo tempo a compreensão do porquê disso ter acontecido. O texto de Miller é uma revolução sem ser bolchevique, porque propõe o exercício de um movimento perigoso, nascido do indivíduo e de uma tomada de consciência que não pressupõe a abordagem histórica da luta de classes para se desenvolver. A beleza e a força dessa narrativa que irrompeu quase um século atrás, detonando a porra toda com uma escrita avassaladora, influente e profundamente filosófica e anárquica , tornando arte e corpo estratégias de vida indissociáveis de uma ampliação do sentido da própria vida.
Inspirador de toda uma geração, de Anaís Ninn e Philip Roth a Foucault e escritor instigante ainda hoje, passados quase cem anos dos seus primeiros textos. A lição de tenacidade e busca de um escritor incansável em suas compulsivas leituras. Abandonar tudo pela literatura fez de Miller um pensador em tempo integral, e engana-se quem busca no seu texto uma noção mais rasa e hedonista.
Amigo de pintores, músicos e da vida boêmia na Paris dos anos 30, estudioso de temas que variam de história, artes, literatura e filosofia a biologia, como bom rato de biblioteca, sua concepção da corporeidade vai muito além da superfície: nietzscheana, quer outra perspectivação desse corpo ainda mal resolvido tanto na literatura quanto na vida. Seu erotismo é rebeldia consciente opondo o prazer contra o dever pra gangrenar a fábrica. Propõe o resgate desse corpo mais negado que celebrado, até então. Objeto ou sujeito de um discurso fugidio, uma fala sem lugar. Presente na fala, ou em fantasmagorias, mas desprovido de sua vitalidade por ideologias niilistas ou arregimentado pelo trabalho e sucumbindo em tantos outros espaços ao negar seu potencial. A anarquia dos sentidos e do sentir contra esses velhos grilhões insidiosos. A fuga da América puritana do início de século para Paris, em busca de maior liberdade de expressão. A descoberta do poder do sexo como conquista de si, o ócio criativo e a arte contra a velocidade absurda da máquina e as formas de repressão continuamente criadas pelo sistema, com suas "fábricas de doentes".
"Trópico de Câncer", a injustiça de ter sido considerado "escritor maldito" durante tantas décadas, e ao mesmo tempo a compreensão do porquê disso ter acontecido. O texto de Miller é uma revolução sem ser bolchevique, porque propõe o exercício de um movimento perigoso, nascido do indivíduo e de uma tomada de consciência que não pressupõe a abordagem histórica da luta de classes para se desenvolver. A beleza e a força dessa narrativa que irrompeu quase um século atrás, detonando a porra toda com uma escrita avassaladora, influente e profundamente filosófica e anárquica , tornando arte e corpo estratégias de vida indissociáveis de uma ampliação do sentido da própria vida.