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Mostrando postagens de fevereiro, 2019

A invasão

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                     No começo, ninguém desconfiava de nada. Vieram assim, sorrateiras, esgueirando-se por pequenas frestas, povoando nichos de sofás, camas, forros de geladeiras e armários de roupas e sapatos. Com presenças mais discretas e silenciosas durante as estações mais frias, tornavam-se contudo explícitas e corajosas nos dias quentes, anunciando uma nova ordem de terror. Em algumas épocas, tudo silenciava, e inusitadamente passávamos alguns incríveis dias de paz. Mas no decorrer de dois ou três meses,  logo estavam novamente em toda parte, multiplicadas como se durante o suposto período de hibernação tivessem não apenas acumulado força e estratégia, mas também copulado compulsivamente e se reproduzido em batalhões à exaustão durante cada precioso segundo de tempo disponível, dada a quantidade assustadora que a cada ano  só aumentava. Minha mãe se estressava com aquelas criaturas mais do que com qualquer outro tipo de problema em casa. Não tinha questão com vizinhos, orç

A Carne

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A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra Que vai de graça pro presídio E para debaixo do plástico Que vai de graça pro subemprego E pros hospitais psiquiátricos A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra A carne mais barata do mercado é a carne negra Que fez e faz história Segurando esse país no braço O cabra aqui não se sente revoltado Porque o revólver já está engatilhado E o vingador é lento Mas muito bem intencionado E esse país Vai deixando todo mundo preto E o cabelo esticado Mas mesmo assim Ainda guardo o direito De algum antepassado da cor Brigar sutilmente por respeito Brigar bravamente por respeito Brigar po

Torquato

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"Geléia Geral" : a Dor ---------- "Existirmos: a que será que se destina?" (Caetano) A potência-em-vida do poeta A potência-em-morte da poesia que se reencanta em versos Quando a vida periga ser maior que o viver e de uma hora pra outra descabem-se uma coisa da outra A intuição feliz da organização de Ítalo Moriconi, nessa obra de tamanha beleza, encontrada seleção e síntese de uma arte sem igual, de um artista incomum cuja obra só resvala os ecos mais verdadeiros em pulsões de profundidade e largura como num Camus, num Sartre, como num maio de 68 ao propor questões  que, valorizando a estética do "regional", não se  limita aos condicionamentos  da época ou do lugar ,mas transcendem em busca do desconhecido que há no mundo A Tropicália original em movimento, potência e música sendo no fundo a visada e um expoente legítimo  do melhor  existencialismo bebendo na fonte francesa e se expandindo com a libe

Coisas boas da terra

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Primeiramente, um alerta: não sou do tipo que acredita em "arte regional", portanto nem de longe me chamem para celebrar "A literatura capixaba", como se isso de fato fosse algo real, e ainda, algo digno de nota por alguma razão. Trata-se de um enorme equívoco, apesar de largamente usado pelo jornalismo local, esse conceito, porque creio fundamentalmente que arte, seja aqui ou lá no quinto dos infernos que seja produzida, é sempre o testemunho humano sobre o mundo e a vida, independentemente da forma com que seja produzida ou em que se faz para chegar até seu público. Por isso, atrai para si, desde sempre , uma idéia universalista do que é ser gente no planeta Terra, independentemente das intencionalidades ou o contexto de sua produção. Ainda que sejam naturais e louváveis iniciativas pragmáticas e de incentivo cultural do tipo financiamento público para autores e artistas locais ou regionais, seja por município ou estado da federação, ainda que sejam desejáve

Melhor releitura do ano

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Um soco na boca Melhor sentimento para traduzir Um ano como este, de 2019 Que ainda está no segundo mês Drummond, essencial Na tradução de toda essa dor o atordoamento dos sentidos a perda de qualquer esperança de racionalidade em nossos dias

Brinquedo novo

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As vaidades e prazeres do ego, superando com folga qualquer atribulação O mundo inteiro se acabando E eu só preocupado com minha coleção de obras completas do Saramago Que acabou de chegar em casa, com aquele cheiro  de livro novo E cara de brinquedo novo pra Uma criança curiosa ------- **Que edição maravilhosa, da Companhia das Letras !!! Pra tentar não deixar tanta saudade dos tempos mágicos da Cosac & Naif

A vendedora de cocadas do Parque Moscoso

Crianças e v elhos sob as sombras salvadoras de um dia quente Reflexos no velho lago de cimento azul com sapos e garças artificiais Os olhos sangram enquanto passo a vista nos jornais Sem saber ainda ao certo se enquanto eu leio os jornais Se é  mesmo para ficar ou continuar perplexo E assim alimentar esse outro tipo de realidade Um vício tóxico em adrenalina e notícias ruins Para, inconscientemente, fazer minha própria catarse E perceber, em algum momento, que habitamos Uma espécie de paraíso, se por acaso, você Até essa hora da manhã de uma quinta qualquer Ainda não foi a tropelado, assaltado, perfurado por balas Ou mordido por algum cão raivoso  Não sei se procuro isso, ou  no fundo,  Como o bom menino criado pela minha mãe E influenciado, ainda que pouco, por aquela Velha e estranha inafiançável confiança na vida Ainda busco alguma esperança humana ou espiritual De q ue uma hora possa surgir algo diferente E que as notícias estampadas em m