Anti-racismo em Hollywood continua em alta na era Trump (ainda bem!)
Duas verdadeiras obras-primas nesta edição do Oscar
"Green Book " e "Infiltrado na Klan", e uma mudança importante
no eixo das narrativas, saindo um pouco do realismo
recente ("12 years a slave", "Django Livre", "Moonlight") ,para
uma proposta que, sem deixar de detonar com o preconceito,
usa bastante o viés cômico para evidenciar o hediondo
de todo racismo.
Efeito da era Trump , onde a
linguagem afirmativa de direitos civis e/ou sociais, democráticos, raciais ou os gritos de protesto já não conseguem
ocupar com a mesma eficiência os espaços da mídia e
das mentes?
Na edição passada, o ótimo "Get Out", comédia trash que
também tratava do tema com muita inteligência, antecipava tendências. Não foi à toa que
levou o Oscar de roteiro, muito merecido. A linguagem
resvala para o terror, mas no fundo há uma forte camada
de um certo tipo de humor caracterizando a "irmandade"
branca tresloucada em busca de corpos para suas experiências,
analogia fácil com a situação histórica do negro na (s) América (s).
No belo "Green Book", forte candidato a Oscar de melhor filme
a direção surpreendente e o salto de qualidade de Peter Farrelly, um aficionado por comédias. Algumas bem superficiais, por sinal.
Trabalho fortíssimo de atores, e o foco no "lado de lá" do racismo,
quando um personagem negro inconscientemente repete os padrões
do sistema que sufoca seu próprio povo, e a introdução de um interessante paralelo
com a estranha relação dos imigrantes originais da américa
(também tratados tantas vezes como párias, assim
como os negros) na dura situação de vida das décadas de 40-60.
Química imbatível entre Virgo Mortensen "O senhor dos anéis")
e Mahershala Ali ("Moonlight").
"Infiltrado na Klan", com Spike Lee, deixando de lado os
discursos de guerra para expor as vísceras do sistema pelo humor.
Inspiração impagável do tema original, Adam Driver de novo
detonando como coadjuvante (candidato forte também ao prêmio),
e John David Washington brilhante no protagonismo. Ousada,
a versão do diretor, que preferiu criar uma farsa humorística
sobre uma história real, em vez de apenas uma narrativa comum
no formato drama. Outro efeito dentro da mesma linha de
mudança de padrão da "Era Trump" , onde qualquer seriedade
é posta de lado o tempo inteiro por fake news intensivamente
bombardeadas na mente dos mortais? ao menos do ponto de
vista do cinema, a "resistência com inteligência" parece estar funcionando , e bem.
Grandes filmes, independente dessa história rasa de Oscar.