Crítica "Manga Verde" (Anaximandro Amorim)
Uma das críticas mais bem elaboradas até hoje, sobre o nosso livro "Manga Verde", feita recentemente pelo Escritor e poeta Anaximandro Amorim, da Academia Espírito-Santense de Letras.
---------
UMA POÉTICA DA VIDA, DA MORTE E DA MEMÓRIA
Anaximandro Amorim
Deliciosamente "desafiado" pelo grupo do
"Amigo Livro" (composto por jovens leitores e autores, ávidos por
conhecer o que se produz no ES), para participar de uma “maratona literária” de
leitura de autores do Estado, tive o duplo prazer de ler o livro "Manga
Verde", do meu amigo Claus Zimerer: uma, porque a obra constava da lista
de autores a conhecer; duas, porque a obra constava da minha lista particular.
Pudor algum em puxá-la para frente das demais: fazer parte de tal maratona
apenas adiantaria o prazer de ler um livro que já estava nos meus planos.
Ler Zimerer me remeteu a um único porém: o de não
tê-lo feito antes. "Manga Verde" é o livro de estreia de um autor
maduro, feito. Servidor público federal e filósofo de formação, Claus foi
brindado com recursos do Funcultura, da Secult/ES e no volume minimalista e
editado com a usual competência da Cousa, nos brinda, por seu turno, com 113
páginas e 22 textos curtos, dentre contos e crônicas.
Com uma linguagem simples e acessível, algo de
encontro ao que sói aos filósofos e ao encontro dos melhores literatos, o
volume, pela nossa leitura, se divide, basicamente, em dois grupos de texto: de
um lado, aqueles que trazem em si questões ontológicas, construídas dentro da
dicotomia vida/morte; de outro lado, textos com um viés memorialista, no melhor
estilo dos "causos" do interior, havendo, inclusive, uma fala
mimetizada dos "hinterland" capixaba e mineiro.
Tarefa difícil: falar
do primeiro tema com leveza; do segundo, sem parecer clichê. Claus, no entanto,
enfrenta as duas temáticas com destreza, levando ótimos textos a lume.
Do primeiro grupo, destacamos "Memórias de um
sonho alado"; "O garoto que adorava chuva"; "Manga
Verde"; "O Funeral"; do segundo, "Nunca fomos tão
jovens"; Seu Antônio Violeiro"; “Parabéns pra você". Há, no
entanto, alguns textos que excedem a esse esquema, dos quais destaco: "O
Homem que queria ser Letra" é um deles: uma crônica poética em
saramaguiano parágrafo único, de um lirismo que marca o confronto entre o autor
e a obra, enquanto se fazer em arte; e "Vahalla (Parte I)", uma
epopeia no melhor estilo "mitologia céltica" e que pede uma parte
dois mais extensa (quem sabe até um romance?).
Enfim: "Manga Verde" marca uma estreia
digna de nota - e não poderíamos nos furtar de um registro. Sim, já disse que,
de verde, só a manga da crônica, do título e da capa do livro. Uma verdadeira
poética de vida, morte e memória, porque, no final de tudo, somos humanos,
donos da nossa finitude. Em suma: Zimerer é daqueles casos de autor pronto. Que
frutifique com mais livros.
09-02-2019
Anaximandro Amorim,
Escritor, membro da Academia Espírito-santense de
Letras
(Cadeira 40)