Imperfeito

Um dia disse EU
e me dei o mundo de presente
dei nome às coisas
designei todas as cores
dei destino  aos animais
e às terras

Súbito,
no cume da vaidade
percebi o silêncio como um tapa
quando apenas minha fala ecoava
nos vestígios das sucessivas eras

O mundo não era mais ele próprio
mas moldava-se ao  reflexo da minha voz
sob seus relevos

Às vezes uma voz terna, compassiva
às vezes um urro primal a causar
susto e fazer tremer antigas paredes

Um dia disse EU
na ingenuidade original
de todo demiurgo
e me dei o mundo de presente

Mas não me dei conta
de que o feitiço assim
se quebrava
e seu cacos nada mais eram
do que o mais profundo desgosto

O mundo
imposto por mim
ao novo espaço
era muito pior que o outro