Moeda


teco na borda orlada de ouro
(prata no centro, ouro na beirada)
assim embalada

                            Real

gira a moeda sobre o piso liso
e  frio,
     
              irisando, quase boreal

patinadora olímpica em solo de gelo
nomeando a tudo o que seduz
--ora prata, ora ouro--
ao diletante contato da luz

gira a moeda
dissolvendo frente e verso
até extinguir seu objeto
já não se sabe agora
se gira ou para
como a Terra, nosso solo
ilusoriamente detida sob os pés

a velocidade absurda da moeda
como o Cosmos se expandindo a cada segundo
silencioso em circunvoluções
metafísica de olhos contaminados

o ponto fora da curva
em que nada se ouve mais
ao redor - porque nada mais existe
para fora do seu giro perfeito--

naquele silêncio
que a física não explica
em que nada se distingue entre os brilhos
apenas uma única imagem
silenciosa, equilibrada
como se pertencesse desde sempre
aos augúrios de vento

real quando parada, sonho
quando em movimento