A única certeza além da morte

Viver é pequeno
dolorido
e sem jeito

E não adiantam os esforços
para parecer sábio
tudo vai acabar quando
estivermos aprendendo

Um dente quebrado
umas noites em febre
um pãozinho quente
com café bem cedo

Ora grito ora cafuné
lençóis com cheiro de mulher
tentar não fumar
muita água contra ressaca

Ora sim ora não disposição
para acolher o outro
(porque há outros em mim
que demandam muita energia)

Caminhar todo dia
uma outra conta vencendo
lembrar de responder
à mensagem da mãe

O trânsito engarrafado
papéis para despachar
a percepção da crueza
a fé que se busca
na beleza

No fim, tudo é apenas
o pulso do mundo
quando o mundo mesmo
não está lá
mas apenas aqui dentro

Que mais importaria ao poeta
além da própria arte?
nada , a partir de algum momento
já se pode dizer

nada!