Doce

A ida --- A volta
sobre o Doce

Suas costelas secas
As margens gordas demais
mesmo fora de estação
Os animais

O levanta-menino
vem-cá-ver
O mar imenso dava medo
A gente flutuando feito nave sobre
o infinito , sem saber

A água que restou
segue o fluxo do rosto
[caudalosa]

A água, (Deus, a água!)
não pode mais ser chamada
pelo fio podre de rio
escorrendo arredio
abaixo da estrada

A chuva, quando ousa
é apenas para mover
os bancos de areia
daqui prali
         dali pralá

Ajeitando os rejeitos de Minas
Sangue coagulado de minérios
Dizimando a vida pouca
entre poças de vermelha miséria

Mesmando-se nos monturos
Terra seca, urubus e restolhos
Um auto do mais ermo desamparo

Doce, meu imenso Doce
Estertorando para desaguar
na compaixão do mar
A face que se dissolve fácil
O corpo
que solidifica amaro