A roda
Os antigos eram
levados pelos elementos
-- os deuses--, na metáfora
da Terra, do fogo
a água e o ar
As estações
A observação ingênua de
um motivo anímico
O clássico matou
o espírito desse mundo
ao substituí-lo pelo humano
Os deuses, ainda vivos
mas acorrentados, tornaram-se
nada além
da personificação humana
Seus humores, suas doenças
e paixões
Temendo a exacerbação
projetou-se na arte a contenção
pela beleza
O belo como pacificação
das tensões não sublimadas
O moderno denunciou, aos gritos,
como é próprio da sua aesthesis,
o truque mal forjado que se imiscuía
nessa sombra de perfeição
das formas a justificar a vida
A beleza tornava o desejo pela vida
maior, mas para isso sufocava
as contradições de seu próprio
surgimento
Não há paralelos entre a vida
e a estética, nesse olhar cáustico
a revelar essências
Muito menos a idéia de beleza subsiste
Sob o martelo dos modernos,
dissolveu-se a estética para revelar
a fome, a miséria coletiva,
os desastres ambientais, as guerras
genocidas, a falta de sentido da vida
O contemporâneo surge no espaço
de um excesso de consciência
sobre as escolas de pensamento
Pautado simultaneamente
pelo desencantamento do mundo
pelo espírito do tempo
pela morte da perspectiva
enquanto fórmula da verdade
a iluminar o caminho
Viver é perspectivar
Não há como cessar o fluxo
Não há resposta única para
a vida, compreendida em maior
espaço como existência
Há impedimentos de toda ordem
ceifando a capacidade de nossa época
de acreditar em si mesma
Os temas recorrentes são da perda
de referencial voluntariamente
porque não há como defender um
valor absoluto qualquer
diante do desmoronar das certezas
Seja um valor espiritual
(Pela morte de Deus)
Científico
(Pelo fracasso da razão)
Ou estético
(Pelo triunfo da ética)
Ou involuntariamente
quando, pelos poros,
somos contagiados
por um sentido menor de viver
Mas persiste no âmago da era, ainda
uma contradição: vivemos simultaneamente
uma plêiade de tendências, correntes, olhares
indeterminismos e descrenças todos juntos
e misturados no agora, que parece ser ainda
tão frágil para alimentar todas as respostas
De vez em quando um bicho furioso desses
ameaça sair das grades
e precisa encontrar uma maneira
de estar-no-mundo não mais pautada
pela divindade, pela razão ou pela beleza
Chegamos, enfim, a uma era onde o delírio
se tornará a mais genuína voz, porque
uma razão colorida saudável
é aquela que ri de todas as razões
sem deixar de criar como atitude
de artista
Ou ao contrário, pelo medo dessa fluidez
inebriante do indeterminado, estaríamos
condenados a um retorno macabro
ao mais tosco fundamentalismo?
levados pelos elementos
-- os deuses--, na metáfora
da Terra, do fogo
a água e o ar
As estações
A observação ingênua de
um motivo anímico
O clássico matou
o espírito desse mundo
ao substituí-lo pelo humano
Os deuses, ainda vivos
mas acorrentados, tornaram-se
nada além
da personificação humana
Seus humores, suas doenças
e paixões
Temendo a exacerbação
projetou-se na arte a contenção
pela beleza
O belo como pacificação
das tensões não sublimadas
O moderno denunciou, aos gritos,
como é próprio da sua aesthesis,
o truque mal forjado que se imiscuía
nessa sombra de perfeição
das formas a justificar a vida
A beleza tornava o desejo pela vida
maior, mas para isso sufocava
as contradições de seu próprio
surgimento
Não há paralelos entre a vida
e a estética, nesse olhar cáustico
a revelar essências
Muito menos a idéia de beleza subsiste
Sob o martelo dos modernos,
dissolveu-se a estética para revelar
a fome, a miséria coletiva,
os desastres ambientais, as guerras
genocidas, a falta de sentido da vida
O contemporâneo surge no espaço
de um excesso de consciência
sobre as escolas de pensamento
Pautado simultaneamente
pelo desencantamento do mundo
pelo espírito do tempo
pela morte da perspectiva
enquanto fórmula da verdade
a iluminar o caminho
Viver é perspectivar
Não há como cessar o fluxo
Não há resposta única para
a vida, compreendida em maior
espaço como existência
Há impedimentos de toda ordem
ceifando a capacidade de nossa época
de acreditar em si mesma
Os temas recorrentes são da perda
de referencial voluntariamente
porque não há como defender um
valor absoluto qualquer
diante do desmoronar das certezas
Seja um valor espiritual
(Pela morte de Deus)
Científico
(Pelo fracasso da razão)
Ou estético
(Pelo triunfo da ética)
Ou involuntariamente
quando, pelos poros,
somos contagiados
por um sentido menor de viver
Mas persiste no âmago da era, ainda
uma contradição: vivemos simultaneamente
uma plêiade de tendências, correntes, olhares
indeterminismos e descrenças todos juntos
e misturados no agora, que parece ser ainda
tão frágil para alimentar todas as respostas
De vez em quando um bicho furioso desses
ameaça sair das grades
e precisa encontrar uma maneira
de estar-no-mundo não mais pautada
pela divindade, pela razão ou pela beleza
Chegamos, enfim, a uma era onde o delírio
se tornará a mais genuína voz, porque
uma razão colorida saudável
é aquela que ri de todas as razões
sem deixar de criar como atitude
de artista
Ou ao contrário, pelo medo dessa fluidez
inebriante do indeterminado, estaríamos
condenados a um retorno macabro
ao mais tosco fundamentalismo?