De costas pra cidade, de frente pro universo
Em silêncio, o garoto se posta
de pé, em frente aos livros
e para o mundo vira as costas
Vai até seus livros, -- ainda poucos --
Abre um por um, desliza os dedos
nas lombadas, -- umas coloridas
outras mais sisudas --
Sente o cheiro do papel
a anamnese da tinta
Sua rinite não o desiste de seus propósitos
e , na passagem diária no sebo da cidade
Na caminhada pelas livrarias com
os trocados contados
Ele vai aos poucos montando
sua morada
Vai se aproximando
desse outro lugar no tempo
-- um outro conceito de tempo --
Seja em casa ou na biblioteca
onde habita aos poucos
intermitente
persistente
como rato
Ama, desde pequeno
aqueles espaços repletos de estantes
estórias, momentos de outras vidas
que chegaram até ali
Foi lá que viu Macondo surgir assim
feito os olhos de Diadorim
Viu mujiques recordarem seus mortos
dentre as taigas russas boreais
Viu um homem qualquer subir a mágica montanha
empenhando a própria alma à procura
E bruxos ancestrais duvidarem
da loucura
O volume estanque na prateleira
(por que não foi levado?)
O espaço dentado entre eles
(por que alguém levou?)
O milagre imanente que isso representa
Receber a herança magnífica
que lhe foi doada por outros
Humanitas resiliente
generosamente
dolorosamente
Livros que legaram-no o instante presente
Percebe, desde um tanto
que os traços do verdadeiro encanto
não residem exatamente nas coisas
-- como tanto tentaram lhe incutir --
A esperteza vã da vida prática
Techné cegando as massas
A cidade avança em sua crença
Mecânica de certezas
contra toda diferença
Esqueçam todo o aprendido
na sabedoria pragmática das moedas
Há uma concretude nos livros
a desafiar intensa e continuamente
a besta alienação da vida la´fora
e toda a sua arte de empilhar tijolos
Há uma capacidade de mergulhar
nas águas do ao-redor que só alcança
quem se propõe o distanciamento
Ler é distanciar-se do mundo
para embrenhar-se na vida
(a única vida veraz)
Não porque esse distanciamento
ponteie a negação do viver
mas sua suprema afirmação
Somos ampliados, no olhar
no sentir, no experimentar
pelo despertar do verso
que veio antes de nós
Para roubar Platão, é como se a verdade
residisse num outro lugar
e não adianta reiterar a força obtusa
sobre a matéria
E muito diferente de Platão, esse lugar
não está lá no terreno abstrato das idéias
perfeitas
A resposta estava nas narrativas e vivências
[mesmo as tortas ]
experimentadas por outros que em algum momento
também tiveram que virar as costas
ao mundo conhecido
para descobrirem à sua frente
(livre do barulho surdo
de engrenagens)
em duas ou três estantes
o universo concreto
da existência
em todas as suas nuances
de pé, em frente aos livros
e para o mundo vira as costas
Vai até seus livros, -- ainda poucos --
Abre um por um, desliza os dedos
nas lombadas, -- umas coloridas
outras mais sisudas --
Sente o cheiro do papel
a anamnese da tinta
Sua rinite não o desiste de seus propósitos
e , na passagem diária no sebo da cidade
Na caminhada pelas livrarias com
os trocados contados
Ele vai aos poucos montando
sua morada
Vai se aproximando
desse outro lugar no tempo
-- um outro conceito de tempo --
Seja em casa ou na biblioteca
onde habita aos poucos
intermitente
persistente
como rato
Ama, desde pequeno
aqueles espaços repletos de estantes
estórias, momentos de outras vidas
que chegaram até ali
Foi lá que viu Macondo surgir assim
feito os olhos de Diadorim
Viu mujiques recordarem seus mortos
dentre as taigas russas boreais
Viu um homem qualquer subir a mágica montanha
empenhando a própria alma à procura
E bruxos ancestrais duvidarem
da loucura
O volume estanque na prateleira
(por que não foi levado?)
O espaço dentado entre eles
(por que alguém levou?)
O milagre imanente que isso representa
Receber a herança magnífica
que lhe foi doada por outros
Humanitas resiliente
generosamente
dolorosamente
Livros que legaram-no o instante presente
Percebe, desde um tanto
que os traços do verdadeiro encanto
não residem exatamente nas coisas
-- como tanto tentaram lhe incutir --
A esperteza vã da vida prática
Techné cegando as massas
A cidade avança em sua crença
Mecânica de certezas
contra toda diferença
Esqueçam todo o aprendido
na sabedoria pragmática das moedas
Há uma concretude nos livros
a desafiar intensa e continuamente
a besta alienação da vida la´fora
e toda a sua arte de empilhar tijolos
Há uma capacidade de mergulhar
nas águas do ao-redor que só alcança
quem se propõe o distanciamento
Ler é distanciar-se do mundo
para embrenhar-se na vida
(a única vida veraz)
Não porque esse distanciamento
ponteie a negação do viver
mas sua suprema afirmação
Somos ampliados, no olhar
no sentir, no experimentar
pelo despertar do verso
que veio antes de nós
Para roubar Platão, é como se a verdade
residisse num outro lugar
e não adianta reiterar a força obtusa
sobre a matéria
E muito diferente de Platão, esse lugar
não está lá no terreno abstrato das idéias
perfeitas
A resposta estava nas narrativas e vivências
[mesmo as tortas ]
experimentadas por outros que em algum momento
também tiveram que virar as costas
ao mundo conhecido
para descobrirem à sua frente
(livre do barulho surdo
de engrenagens)
em duas ou três estantes
o universo concreto
da existência
em todas as suas nuances