Expedições aos limites do mundo conhecido (Parte I)
Os tijolos velhos, antiga argamassa de argila hoje inexistente em sua espécie -- uma geração, talvez, do cozimento do barro até a construção da velha caixa d'água. No alto do pasto, separada dos bois apenas pela fina cerca. Remetia por pressão a água para todos o casario logo mais abaixo, através de grossos canos de metal. Dos lados, floresta imensa de samambaias, abancadas pela generosa umidade. Avencas, líquens em verde-claro contrastando o musgo mais grosso e escuro de painel. Todo tipo de sapos, os pequenos, os grandes, as criaturas que lhes serviam de alimento, larvas, bichos-verdes-sem-nome e muitas pernas.
A caixa grande repousava sob a fronda larga das mangueiras grossas. Duas árvores para cada variedade. Coquinho, Espada, Coração-de-boi, Manga-Rosa. O chão alto de folhas de manga. Cobertores e esconderijos de sapos e cobras-cegas.
Não sobe, que é muito alto. Não abre a tampa, que é fundo. Subia, porque era alto. Abria a tampa porque era fundo. Partia em direção ao morro à tarde das sonolências coletivas, aproveitando a negligência do vigiado.
Difícil subir na plataforma. Apoiava em pedras, alcançava o topo, escorregando nos musgos - o quadrado de alvenaria sempre exsudando umidades verdes. A vista privilegiada do alto da caixa d'água. Todo o descampado ao redor, o topo das casas, a divisão das curvas do rio, o curral mugindo ao longe, o pomar de laranjeiras, a estradinha lateral de caminho pisado de boi.
Chegava mais perto da tampa fina de metal oxidado, bem no centro da construção. Olha pra um lado e pro outro, sem ninguém por perto. Abre a tampa pesada com esforço, o barulho da porta velha rangendo, o silêncio secreto no fundo. Aquela água toda, escura, silenciosa. A tampa em aberto, que monstros se guardavam lá dentro? A luz incidindo pela lateral entre os ramos e largos galhos das mangueiras velhas copadas. Súbito , a própria imagem revelada na superfície escura da água fina. O susto, o tombo, o joelho ralado.
O retorno á casa, em sepulcral silêncio. A retomada das atividades insuspeitas, coincidindo com o despertar da sesta dos adultos ao redor. O registro, no espírito, da expedição científica aos limites do mundo conhecido,
A caixa grande repousava sob a fronda larga das mangueiras grossas. Duas árvores para cada variedade. Coquinho, Espada, Coração-de-boi, Manga-Rosa. O chão alto de folhas de manga. Cobertores e esconderijos de sapos e cobras-cegas.
Não sobe, que é muito alto. Não abre a tampa, que é fundo. Subia, porque era alto. Abria a tampa porque era fundo. Partia em direção ao morro à tarde das sonolências coletivas, aproveitando a negligência do vigiado.
Difícil subir na plataforma. Apoiava em pedras, alcançava o topo, escorregando nos musgos - o quadrado de alvenaria sempre exsudando umidades verdes. A vista privilegiada do alto da caixa d'água. Todo o descampado ao redor, o topo das casas, a divisão das curvas do rio, o curral mugindo ao longe, o pomar de laranjeiras, a estradinha lateral de caminho pisado de boi.
Chegava mais perto da tampa fina de metal oxidado, bem no centro da construção. Olha pra um lado e pro outro, sem ninguém por perto. Abre a tampa pesada com esforço, o barulho da porta velha rangendo, o silêncio secreto no fundo. Aquela água toda, escura, silenciosa. A tampa em aberto, que monstros se guardavam lá dentro? A luz incidindo pela lateral entre os ramos e largos galhos das mangueiras velhas copadas. Súbito , a própria imagem revelada na superfície escura da água fina. O susto, o tombo, o joelho ralado.
O retorno á casa, em sepulcral silêncio. A retomada das atividades insuspeitas, coincidindo com o despertar da sesta dos adultos ao redor. O registro, no espírito, da expedição científica aos limites do mundo conhecido,