Rocket Man




A história pessoal do artista bate em cheio com os altos e baixos do período crescente na indústria musical em que criou seus mais conhecidos trabalhos, mas há uma interessante dissidência na profundidade tentada por ele, tanto nas letras quanto suas ricas composições, em contraponto da porraloquice dos 70's em boa parte do ambiente pop-disco, musicalmente diversificado mas um tanto mais superficial e festivo em sua proposta e letras.

Muito bem exploradas no filme, as apresentações e composições de Elton (nome artístico de Reginald Dwight), como sua presença física no palco são teatrais, exageradas, carregadas de cores, multiinstrumentais, com arranjos complexos e variam do kitsch sentimental aos temas existenciais sem negar no estilo a larga influência do jazz ao rockabilly, passando pelo country e folk.

O curioso é que seus temas, muito diferentemente do que ocorre com a tendência "Disco" da época, são melancólicos e trazem questionamentos profundos. Não se trata de um "make love not war" como no forte e engajado movimento "Flower Power", iniciado ainda nos 60's nem um "fuck the system", como nos punks iniciando a carreira em meados dos 70's, mas trazem um forte lirismo, que mantém intocada a veia poética tão bem conduzida pela voz incomum, -- em minha opinião uma das vozes mais bonitas do cenário contemporâneo.

Considerando que se trata se uma "filmografia autorizada", com o artista ainda vivo e atuante, muito corajosa a forma como expõe sua vida pessoal conturbada e seus problemas com as drogas, as crises e a necessidade de uma superação contínua , quadros que, apesar do peso, em alguns momentos ganham tonalidades bem-humoradas e criativas na tela.

Bacana lembrar como sua atitude pessoal extra-palco se tornou referência, e a fundação criada por ele é, hoje, na Inglaterra e dentre os países mais ricos, uma das que mais arrecadam fundos para financiamento de pesquisas e assistência a dependentes químicos e soropositivos.

O ator que escalaram pro papel (Taron Egerton) manda muito bem. "Rocket Man": O poder do pop numa época onde talento musical ainda contava pra alguma coisa