Um dia após o outro

Vivendo
como um convalescente cotidiano
(entra dia, sai dia entra ano, sai ano)
Esse cansaço que nos antecede a fala

Um golinho de lonjura
faz milagres

Água de sal,  águas de sol
Salimar a pele nas relevâncias
de todo verde

A catarse necessária
Dar bom-dia aos peixes
sem ter que esticar palavra

E, em meio àquela miríade de pequenos
espelhos refletidos em polvilho de areia
mergulhar a cabeça como quem reza
por alguma verdade que não traga o homem
como medida

O conhecimento
A desilusão irremediável
dessa solidão existencial que atordoa
e liberta

Não tem jeito
Essa coisa de estar vivo
vai comendo pelas beiradas
e uma hora atinge o osso
Um navegar contínuo
entre o tédio e o terror

Sem saber escalas

Pergunta-se ao vivente ,
a essas alturas: queres consolo
ou a verdade?

O coletivo consola
mas não resolve

             A um olhar mais arguto
não estamos sós
na beirada de tanta vida

Mas é o que quase sempre nos parece

Necessidade de um olhar se tornar
seu próprio provedor de mundos