A garota da rua de baixo


Morreu aí dentro, filadaputa? Os infelizes socando a porta e dando gargalhada. Tentando quebrar meu ritual sagrado, meu momento de estar com os anjos. Eu nem aí. Não me desconcerto. A força da vida é sempre maior. Fodam-se, todos eles! Eu continuava autocentrado na minha atividade, sereno e dedicado,  embevecido e apaixonado por todas aquelas beldades espalhadas pelo lugar.
Palmeiras X Flamengo rolando lá na sala, segundo tempo da partida de botão  enquanto isso. Viado, filadaputa! você roubou enquanto eu olhava pro outro lado, seu jogador não estava ali antes! Berrava Magal, sempre um cavalheiro. Ele e Yuri, na mesa de centro da grande sala  de piso de madeira encerado e teto alto, se digladiavam na disputa da última vaga para as finais de nosso sofrido campeonato de botão. Lá fora explodia um calor dos diabos pelos campos, e eu continuava deitado de costas no chão fresco de cerâmica vermelha, trancado no banheiro da casa de meu amigo Nando. Continuava com os olhos vidrados nos pôsters maravilhosos que tinha acabado de espalhar por todas as paredes e armários. Eu era como um príncipe árabe naquele momento, deitado esplêndido e feliz no chão das mil e uma noites, rodeado com a dezena de odaliscas de todos os tipos físicos, todos os olhares e poses imagináveis, cada uma vinda de um rincão mais remoto do planeta direto para regozijo dos meus apaixonados olhos e desespero de minhas sôfregas mãos.
O banheiro da casa do meu amigo era uma mistura de santuário com palácio e eu me deliciava com meu harém particular.  Negras, índias, louras, morenas. Artistas famosas de cinema. A garota da propaganda da tv. Todas elas muito bem acompanhadas de outras garotas anônimas supreendentemente descobertas por fotógrafos habilidosos de todas as partes do mundo. De quando em vez, surgia um País de Gales ou uma Sibéria, --sabe lá onde é que ficava isso-- apenas pra produzir a doce criatura em sua pele de textura surreal-quase-translúcida em lábios de todo rosa. Na outra página pulavam uns surpreendentes olhos puxados no rosto moreno da Índia, umas espanholas de imensos brincos de argolas entre adereços de cigana e os enormes seios túrgidos . todas peladonas.
A cada mês, surgia sempre uma novidade nas bancas. Tinha de tudo ali, nas revistas de mulher pelada, como genericamente chamávamos. Um estudo antropológico de teoria da arte, um tour geográfico e biológico entre as curvas da natureza, uma pesquisa in loco acerca da variedade de vida existente no planeta Terra e sua influência sobre o clima, o tempero da vida e a pulsação do tempo nas veias dos homens. As revistas, um patrimônio coletivo e sempre atualizado de nosso seleto grupo, eram cuidadosamente classificadas  por gênero e malocadas na casa do querido amigo Nando, atrás de uma cômoda de madeira preta Imbuia, com fundo falso e pesada demais para alguém ficar tirando do lugar toda hora e arriscasse descobrir nossa preciosa mina.
Eram criteriosamente separadas, em quatro pilhas: das mais artísticas para as mais ousadas, digamos assim. As americanas da Playboy, mais inocentes e clássicas, ganhavam a primeira fila, com suas mulheres em poses brejeiras comportadas nos corpos de  barbiegirls. Mas o Tio Sam não sossegava e produzia ainda outras coisas menos puritanas numa terra que supreendentemente reservava tanto espaço para a arte da putaria ou, como chamávamos no nosso caso, arte da “contemplação estética”, a devoção integral a nossas deusas. Eles produziam ainda a Hustler e a Playmen, com garotas surpreendentemente belas, liberais e bem mais criativas que as da Playboy em suas poses. Havia as revistas de  origem européia, principalmente suecas e alemãs, que quando surgiram, mais tarde, inauguraram um outro conceito de ousadia nesse clube que eventualmente deixavam até mesmo a nós, macacos velhos na arte masturbatória com o rosto em chamas pelo inusitado da coisa toda. Além disso, essas últimas vinham sempre com tarja preta nas bancas.
Uma metáfora da vida, nessas tarjas-pretas? Enquanto na outra revista, o  Conan arrancava cabeças no dente, uma terceira trazia a publicação mensal das novas armas de guerra, navios, aviões, bombas atômicas dizimadoras de mundos, uma outra ainda com um relato colorido das cruzadas ou mesmo as tradicionais Batman, Superman & cia, todas bem sanguinárias e explícitas em sua violência, continuavam ali, expostas normalmente. Mas mulheres peladas, não podia. Sempre tarja-preta.
Havia ainda a categoria final, mais intelectual de todas, as tais fotonovelas eróticas que costumavam ser acompanhadas da seção de contos e causos reais ou inventados de leitores e diletantes. Eu gostava de todas, é claro, e com a miopia iniciante desfiava a beleza das imagens me rodeando no banheiro largo de piso vermelho de cerâmica, mas daquela turma, certamente eu era o que mais apreciava a última categoria, de contos. Pão sem manteiga, café sem açúcar, Coca-Cola sem gelo? Pra quem gosta da coisa, é difícil passar sem, depois que se conhece. Eram todas belíssimas, essas mulheres, e as revistas eram obras de arte porque a imagem é poderosa, como se sabe: éramos devotos, mas o que é, afinal, uma imagem sem o imaginário? E isso era mais nos inspirados textos que cabia.
Morreu aí dentro, filadaputa? Já vinha de novo a cobrança educada dos meus nobres amigos esmurrando a porta do banheiro. Foda-se, eu pensava. A porta de madeira nobre é bem grossa e a trinca de aço segura a onda. Podem bater até morrer. Estou no santuário, agora, e nada me atinge. Pelos meus cálculos ainda não tinha passado da minha meia hora, então tava tranquilo. Nosso paraíso, a casa de Nando, um puta casarão colonial a cinco quilômetros da cidade, cujos pais felizmente nunca estavam por perto nas longas tardes, eles sempre dedicados às suas respectivas profissões na cidade. Tanto melhor assim, terminadas as rotineiras atividades do calvário da escola, pelas manhãs, concluído o tradicional almoço em família, todo mundo de bike no caminho, pocávamos todos pra lá, onde tinha de tudo na riqueza de uma única tarde: banho de cachoeira, campinho de futebol improvisado no terreiro velho de café, estilingadas nada ecológicas pelos passarinheiros do pomar, -- única coisa da qual realmente me arrependo até hoje --, nossos campeonatos intermináveis de futebol de botão e é claro, o ritual seguido à risca, de homenagear nossa celebrada coleção de revistas de mulher pelada. Alguns colecionavam moedas, outros selos. Tem colecionador de carros e de bebidas, vá lá. Nós colecionávamos revistas de mulher pelada. Uma biblioteca de verdadeiras telas impressionistas – às vezes realistas, às vezes surreais , afinal colecionávamos todo tipo de arte nudista e sexual-- produzidas no mundo todo, e cuidadosamente compradas às escondidas por cada um dos componentes do grupo, através da facilitação do nosso conhecido e clandestino tio da banca de revistas com nossas mirradas mesadas.
Independentemente das batidas na porta, eu mentalmente mandava todo mundo se foder e  continuava concentrado, trancado no banheiro em meus  vinte minutos de glória, porque para os que chegavam ou passavam de meia hora, todo mundo sabia que era enrolação demais. Eu me esforçava, na plenitude dos treze e ainda contando dia a dia a quantidade de pelos no saco que me cresciam, para referendar o ritual diário doando minha quantidade de esperma para que o mundo se tornasse um lugar mais feliz. Ao menos eu ficava mais feliz depois de tudo, aquela sensação gostosa de vazio sorridente.
As sessões individuais no palácio de teto alto e largas paredes eram bem livres, mas por experiência adquirida, o grupo tinha suas manhas :passou meia hora trancado lá, não tinha outra: ou o cara  tava lendo as fotonovelas como cartilha de escola ou definitivamente dormiu no tapete felpudo (como aconteceu com o Pirralho uma vez, que sumiu por mais de uma hora e, quando demos pela falta, abrimos a porta preocupados para o surpreendermos no quinto sono agarrado às toalhas no chão do box), ou então tratava-se de algum tipo de virtuoso, pra demorar tanto assim. Embora valorizássemos a quantidade, nessa época de oitava série, pois era facilmente mensurável o tesão obtido com uma, duas, ou três masturbações sequenciais, ainda não entendíamos muito bem o porquê de fazer uma única sessão durar meia hora ou mais. Qual a utilidade disso, afinal?
Agora era minha vez, porra! Já trouxe mais duas revistas  pra  nossa coleção particular, e por isso, usufruía do direito conquistado de momento, como vigiam nossas rigorosas regras da confraria da punheta, eu tava no meu direito conquistado de abrir o plástico e desvirginar as páginas ainda com o cheiro de tinta fresca. Na verdade, -- devo confessar-- essa era mesmo a única coisa que conseguíamos desvirginar naquela época, porque segundo nossas confabulações sobre o tema, tirando Magal, o cavalo, que já repetia a oitava série pela terceira vez e tinha dezessete, e segundo constava, era o único a ter passado além da fronteira da mera teoria especulativa sobre o “lado de lá” da vida sexual, o resto de nós, é claro, ainda no final do fundamental, não tinha comido ninguém. Para nosso desespero e um certo sentido coletivo de que nosso grupo andava perdendo pontos em mais essa disputa por tudo na vida, chegavam notícias do front, onde os parentes de alguém pagaram uma rodada pro feliz moleque em algum puteiro nobre da capital, ou como na cidade vizinha, certo colega de classe que por azar não pertencia ao nosso grupo usufruía dos carinhos voluntariosos de uma empregada da família, -- que por acaso atendia também alguns seletos amigos dele, por uma módica quantia que ficamos sabendo depois que ele cobrava da molecada – cafetino antes dos quinze.
Cá, deste lado da vida, nós babávamos dia e noite, estudávamos estratégias, argumentos, pegávamos conselho com os mais velhos – geralmente um bando de babacas que não ajudava em nada e ainda dava dicas erradas pra gente se ferrar—aguardávamos ansiosamente para que surgisse a primeira oportunidade, como em mais duzentos milhões de lugar-comum surgindo ano após ano sobre o planeta. Garotos imberbes atrás da primeira transa. O que não faltava era filme sobre o assunto. E como não podia deixar de ser,  treinávamos o esporte compulsivamente, em todas as modalidades possíveis, com os olhos sempre arregalados e as bocas abertas a cada novidade no terreno dos contos e das revistas. Mas contabilizar a famosa realidade nas conquistas,  chegar à grande final mesmo, essa coisa tão sonhada e idealizada,  andava bem difícil nesse tempo. . As garotas não davam fácil. Nada que passasse de umas ficadas nas festinhas, e tal, uns beijos mais quentes nas namoradinhas, vá lá, quem sabe uns amassos nas meninas mais espertas do segundo ano. Partir pro finalmente mesmo, só o Magal, o infeliz que a cada meia hora fazia questão de contar vantagem pra gente, que pegou não sei quem, que comeu a filha, a mãe, a tia, de alguém, sem qualquer piedade, só pra esnobar. Alguns tinham medo até do Magal ir estudar na casa deles e, de uma hora pra outra, ele resolver comer a mãe, a irmã, a empregada , e por aí afora. Magal era o terror, e ao mesmo tempo, uma espécie de herói de vanguarda em nosso seleto grupo. Uma espécie de criança grande demais em quem a parte de dentro da cabeça não parecia ter acompanhado muito bem enquanto o restante do corpo ganhava volume.
Cada vício no seu tempo. À nossa maneira, fazíamos o que queríamos  nessa época. A idéia era fugir o máximo à vigília moral e física da espionagem controladora de pais, irmãos, escola. Sexo era o que sabíamos, já, porque ninguém era mais besta. Quer dizer, sabíamos assim, misturando autoconhecimento e práticas masturbatórias levadas a sério, porque como disse, na prática, nada ainda. E como todo segredo, valia a pena mesmo enquanto estivesse guardado. Não era comum esses assuntos serem espalhados e comentados na mesa do almoço das famílias, e quando eu digo não era comum ,assim, para nós garotos, quem dirá para as meninas. Tabu do tabu, aquilo tudo continuava seguindo como nossa espécie de tesouro coletivo.

A casa de Nando era nosso paraíso particular. Casa grande, tipo casa de fazenda, afastada da cidade, sem ninguém pra encher o saco. Mas tinha lá suas limitações. As festas particulares e cotidianas de nosso clube eram libidinosas mas saudáveis, se for pra dizer. Cigarro, ninguém gostava e de certa forma todos éramos atletas. Jogávamos futebol compulsivamente, pedalávamos quase todo dia, alguns nadavam bem nas piscinas e cachoeiras da região. Bebidas  nessa idade também eram terminantemente proibidas pelos pais de Nando, e à exceção do cavalo Magal, que tirava onda com suas cervejas e Lança Perfume nos fins de semana, ninguém mais se aventurava pelos etílicos. Nosso vício era mesmo a masturbação, a arte maior, a doce punhetagem, a celebração máxima da contemplação estética em movimento, autossuficiente em seus objetivos de anestesiar as  pulsões excessivas que naturalmente não teriam outro caminho melhor nessa idade Tornávamo-nos experts nesse esporte, o capricho herdado do início dos tempos, e quem sabe, como disse uma vez nosso professor de educação física, outro sacana, uma arte herdada dos primeiros macacos que também eram fanáticos habituées da modalidade e viviam esporrando pelo mundo também por esporte, e não apenas por finalidades estritamente reprodutivas, como nos queria fazer crer o padre Danúbio, da confissão obrigatória de semana santa.
Em  nosso clube privado, reunido em segredo como a máfia siciliana por conta da proximidade do perigo e dos gostos semelhantes, éramos machos, pois, por nossas próprias convenções. Superávamos o ritual de passagem e nosso olhar se adultizava. Havia a curiosidade e o poder dos instintos movendo-se pelos olhos, pela saliva na boca seca ao contemplar o pôster da gata do mês, a força andando solta pelo espírito do novo ser em crescimento, que reunia hormônios e simultaneamente se formava por dentro. Novos pelos surgindo pra todo lado, o tamanho da ferramenta aumentando, assim como a vontade. E as mulheres eram absolutamente lindas! As visões do paraíso nos acometiam de diversas maneiras, por essa época, seja na plasticidade arrebatadora de um seio, com que sonhávamos noite e dia, em suas  tantas e mágicas formas, volumes e cores diferentes, com todo tipo de texturas e aréolas. Algumas intumescidas, porosas, outras lisas, seios brancos de aréolas rosadas ou seios morenos de auréolas roxas, escuras, seios grandes, gigantes, pequenos, e o corpo respondendo de imediato à mera imaginação ou na estimulação visual do primeiro signo de vida que o recém-nascido toca quando chega ao mundo. Pauduro como arma sacada mais rápida que cowboy do filme western diante de um simples e belo seio, que forma absoluta. Que coisa mais linda, aquilo. Que bela notícia de boas-vindas a um recém-nascido. A vida era bela, pois. Logo depois de dar uma boa gritada até estourar a garganta, vinha logo a compensação do seio macio, o objeto do desejo, túrgido e rico enchendo a boca de vida. O seio era o arauto do bom gosto e bons augúrios.
Para além de qualquer narrativa, tinha sempre algo mais: a coisa surpreendente que significava uma boceta adulta, pra um garoto impúbere. Era uma coisa de  aaaaaaaaaaaaaahhhhhh”, diante da nova foto, da nova pose, tarados mirins com o pau sempre duro, hipnose total pelas tardes de semana da vida, seja em casa mesmo, trancado por horas a fio no banheiro, ou fosse nas sessões do nosso clube clandestino, sempre escondidos dos pais, é claro. À exceção de um único pai de um felizardo da minha turma, que comprava todo mês a revista Playboy para o próprio filho de doze anos (revista aliás, compartilhada com o resto da turma ao módico custo do preço de uma merenda por dia de aluguel). Não sei ainda se esse pai era o louco, como foi reputado, ou o mais sensato e amoroso. Enfim, na falta de um material mais realista, seguia nas fotos a observação cotidiana, a pesquisa interminável com seios, bundas, pernas, pentelhos e bocetas, com todos os seus formatos, algumas até com detalhes exageradamente anatômicos. Aprendíamos sempre mais nessas enciclopédias da vida. O respeito, a curiosidade, o engenho daquilo tudo tão diferente, o sexo côncavo, os pelos grossos, a conformação aparentemente construída para ser protegida, projetada para dentro, diferente de nossas saliências e protuberâncias penianas, escrotais, tão à vontade no mundo.
A boceta era o total mistério, objeto de culto, com todas aquelas dobras, reentrâncias, proteções de aparência sempre úmida. E era assim, mesmo escondida, que ela ditava as regras para tudo que governava nosso mundo animal apaixonado por elas antes que elas mesmas soubessem disso. Umas depiladas, outras ao natural. Lendas de quem já provara, em quantidade, chegavam até nós, sempre objeto de respeito e de culto. Já havia, há algum tempo, a ciência de que a vida surgia por ali, e por isso uma noção ainda intuitiva do poder camuflado sobre enfeites de todas as cores – tarjas-pretas nas bancas, cabia lembrar. Mas a noção e os limites do que envolvia de prazer nos seus domínios ainda era mistério, e obra cantada de longos aprendizados. Havia estética para todo gosto: pentelhos louros e finos, com os grandes lábios rosados e suaves, pretos e grossos tinta nanquim, com a pele contrastando ou negros com pele negra, variando a tonalidade num crescendo atrativo e hipnótico, e o desejo se insuflando aos poucos, chegando pelos poros. Aí pelos treze ou quatorze, a nossa turma inteira de cinco garotos colecionadores de revistas, invariavelmente andava o tempo inteiro de pau duro. Tirando o horário exclusivo em que jogávamos bola, e por uma questão de interesse e objetiva perda de objeto temporário, quando o futebol assumia por sua vez as rédeas do mundo como paixão inconteste, o resto do tempo  era ocupado mesmo na dedicação em saber mais informações secretas sobre as mulheres a  nossa verdadeira missão sobre a Terra. Era uma nobre missão, aliás, que conferia ao cavaleiro portador de boas novas honrarias e admiração.
Todas as últimas  quintas-feiras do mês, depois das aulas, era obrigatório passar na banca do amigo adulto secreto pra pegar a última edição de Playboy (clássica), ou Penthouse (ousada), ou algumas outras sem nome que na prática traziam mais “cenas de ação” do que propriamente obras de arte e superavam qualquer noção de ousadia para nossos olhos, -- e é claro, já estavam reservadas. Não era sequer um gasto perdulário das nossas parcas mesadas. Tínhamos essa consciência. Era a exata percepção do que significava um investimento de marchands precoces em arte e conhecimento no seu mais alto grau.  Livros de consulta, pequenos Kama-Sutras ocidentais e ornados de uma certa aura religiosa, como objeto de culto, camuflados estrategicamente para despistar as terríveis mães. Por alguma razão, os pais eram geralmente mais tolerantes que a maioria absoluta das mães, e como já era esperado, as meninas da turma não tinham a menor noção de toda a nossa atividade extra-curricular. Ou ao menos era isso que pensávamos. Ainda tenho dúvidas sobre isso, no fundo. É bem verdade que na oitava série, tivemos duas meninas que vieram de cidades grandes, que eram da pá virada, e sabiam muitas coisas interessantes. Até nos informavam melhor sobre o assunto, e sem cobrar nada por isso. Bom, tentamos atraí-las para nosso meio e um dos nossos tentou mesmo namorar uma delas, mas infelizmente elas se dedicavam demais aos rapazes da universidade e partindo nosso coração, nos ignoravam solenemente.
Nossa rotina na casa de Nando era tomar banho de cachoeira, tomar água de coco e catar goiaba no quintal, e depois que o sol dava uma chance, partíamos pra jogar bola na quadra improvisada de terreiro de café. Enquanto não chegava a hora da bola, jogávamos botão ou ping-pong na varanda e tocávamos punheta no grande banheiro antigo com sua decoração neoclássica, com a banheira branca gigantesca onde sonhávamos altos malabarismos com nossas musas enquanto pulsava a sessão de homenagem ritual às fotografias, (a mesma banheira onde Nando quando era criança costumava deixar seus fedorentos coelhos de estimação na falta de melhor lugar) entre os tetos altos e armários de madeira escura, por celebração ao mundo da arte das belas peladonas em estoque apenas para manter o ritmo do desafogo.  Filho único, Nando, pai e mãe trabalhando fora, a empregada dava expediente apenas na parte da manhã.  Daí, dia sim dia não,  depois das aulas quando pocava um calor infernal e a quadra de esportes ainda estava impedida, ali se desenvolviam campeonatos  de tudo que é modalidade, passatempo ou putaria que essa garotada em fins de fundamental inventava pra se divertir.
Normalmente, ou ao menos no imaginário dos meninos,  se reputa às mulheres a atitude de competirem umas com as outras por espaço, por beleza, por apreciação , enfim pelo olhar que testemunha e confirma, seja das outras mulheres ou dos homens na sua autoafirmação, como se a vaidade fosse por definição um atributo feminino. Certamente  isso é porque esses pesquisadores ainda não entraram o suficiente na pele de algum adolescente, algum menino em idade de formação. Não importa se a disputa é por vaidade, por ego, por afirmação, hormônio ou pela graça de derrotar alguém e assim dizer que existe e é vencedor, mas a verdade é que quando você é homem há competição pra tudo nessa vida, de forma compulsiva, até. Disputa-se, às vezes, apenas pelo prazer da disputa, sem saber direito nem qual é o prêmio ou o tipo de prova. O importante é ganhar. Estava sempre havendo alguma competição, além dos tradicionais campeonatos de futebol, ping-pong, videogame, botão, corrida, salto, arremesso, porrinha, baralho, quem chegava primeiro em tal lugar, quem falava primeiro com a menina na festa, quem tirava a maior nota, quem xingava mais alto o passante no meio da rua quando saíamos de ônibus em excursão, campeonato de cuspe à distância, e é claro, como não podia deixar de ser, tínhamos também nosso campeonato de punheta. Competição disputada em diversas categorias, dando direito a levar pra casa de brinde, à escolha do vencedor, uma das belas revistas da seleta coleção que íamos ampliando aos poucos, com arte e talento no esconderijo da casa de Nando.
Não há nada a ser dito sobre as outras modalidades esportivas conhecidas, e que realmente possa fazer alguma diferença com relação a todas as outras modalidades de esportes disputadas diariamente no mundo inteiro. Futebol é futebol, videogame é videogame, e botão , essa paixão incondicional, é sempre botão em qualquer lugar do mundo. Portanto, falo logo sobre esse nosso diferencial, as olimpíadas de masturbação, que era o que havia de mais original no meio dessa moçada ainda virgem habitando o sofrido território imaginativo de fim da puberdade. Tempos depois, ficamos sabendo que nem era assim tão novidade e a bem dizer, era como se achássemos que tínhamos inventado a pólvora, mas isso já havia sido feito há cinco mil anos antes, provavelmente como o primeiro campeonato de masturbação.
A coisa era mais ou menos assim, explicando pedagogicamente para um ET que estivesse baixando lá no sítio do Nando  meio sem aviso e desse de cara com a cena: Um bando de moleques com as caras cheias de espinhas, mãos ágeis e os olhos encantados por esses corpos gloriosos das fotografias. Cada um segurando suas revistas, no esforço de marcar pontos. No dia-a-dia não havia nada demais. Tocar punheta, expelir esperma,”, a maior quantidade possível, e o maior número de vezes antes de bater a exaustão. Esporrar, no popular, ou “ejacular’, no sentido médico quase terrorista-literário,  apesar de tanto tabu plantado nas mentes por anos e anos de educação religiosa num colégio do ramo, era uma das coisas mais corriqueiras e praticadas com destreza pela maioria dos jovens saudáveis pelo mundo afora, e nós não éramos nenhuma exceção. As revistas eram a inspiração, nos campeonatos. Cinco garotos juntando grana e comprando revistas toda semana, em pouco tempo tínhamos de tudo um pouco. Uma verdadeira biblioteca de Alexandria do assunto sexo, na nossa versão popular. Magal, Nando, Yuri, Pirralho e eu Tozinho, os colecionadores de obras de arte. Tirando Magal, que era mais velho, os outros na faixa dos treze ou quatorze anos, só Magal tinha dezessete. As competições das modalidade eram mais ou menos mensais, e é claro, não tinha nenhum tipo de árbitro, aquilo era ali mesmo, na coletividade, cada um na sua, uma fila de moleques imberbes com suas revistas numa tarde quente disputando debaixo das árvores pra ver quem era o maioral da punheta.
 Lembro-me de cabeça de umas duas ou três modelos preferidas da época, musas campeãs e inspiradoras de nossas derivações masturbatórias, e encarávamos isso como uma espécie de ritual, aquilo tudo no fundo tinha um caráter quase místico, tribal, no fundo era como se a cada sessão homenageássemos a escolhida ou as escolhidas, dando o melhor de nós mesmos, de forma tão dedicada. Tirando a época de campeonato, onde a coisa corria solta, no dia-a-dia os trabalhos eram individuais, cada um com o direito aos seus vinte minutos de glória fechados no banheiro. Cada um podia se trancar pelo tempo do sossego delirante, sem ninguém encher o saco. Nos alternávamos, cada um por sua vez, enquanto os outros ficavam na sala jogando videogame ou tocando violão, conversando fiado, esperando dar três ou quatro da tarde para o sol dar uma aliviada do terreirão de quadra e o futebol comer solto.  Era um entra-e-sai interminável do banheiro famoso. Quando recebíamos visitas, outros fora do nosso grupo, ninguém podia revelar o segredo, sob pena disso virar assunto depois na aula e acabar com a mordomia. Boca de siri, só os membros do clube, a confraria das artes pictóricas, é que tínhamos os privilégios de saber sobre a coleção e o fundo falso depositório das revistas, sempre  trancado a sete chaves.
Em dia de competição, a coisa ganhava ares de seriedade, e alguns conseguiam mesmo a proeza de ficar algum tempo na semana sem expelir a seiva apenas para chegar mais preparados no dia do teste. Ninguém queria fazer feio na hora H, perto dos outros. Confesso que era  a dura penas, essa contenção virtuosa. Ficar ao menos um dia sem esporrar era algo, além de virtuoso, trabalhoso, para alguém de treze ou quatorze anos. Como é que o pensamento que em noventa por cento do tempo útil está pensando num jeito de pegar a garota mais gostosa, seja da tv, da revista, do filme, da cadeira ao lado da sala, e por aí afora, como é que uma criatura dessas conseguiria ficar sem seu calmante diário, sem sua droga de prosseguimento na normalidade da vida? Virtuoso, claro.
Nessa fase de competição, em vez de irmos lá durante a semana, na casa de Nando, marcávamos só um dia, geralmente na quarta-feira, e todos chegavam na hora combinada. A estética toda do jogo agora mudava, e  a coisa perdia totalmente a privacidade. Em vez da comodidade de cada um isolado no banheiro com seus sonhos e as mulheres maravilhosas, seus seios mágicos e as curvas sedutoras, ficávamos todos era no quintal mesmo, cada um por si, perto do pé de goiaba, escondidos por um alto muro do paiol. Seu Zé Baromeu, o encarregado da horta, quase flagrou nosso campeonato uma vez. Ia ser difícil explicar, com certeza. O anfitrião era quem comandava o espetáculo, cada um poderia escolher a revista ou o gênero literário de sua preferência, fotos clássicas, fotos mais ousadas, putaria deslavada da Europa ou a categoria contos e fotonovelas, ao seu critério, e havia a premiação por categorias: ficávamos lado a lado, numa mesma linha, cada um a uns dois metros do outro, mirando pra frente. A primeira premiação era a distância do esguicho, a segunda era quantas vezes o cara conseguia terminar a missão. A terceira, para o atirador mais rápido. A quarta e última, é claro, que virtualmente deveria existir mas não existia em hipótese alguma naquele tempo porque ainda não conseguíamos saber a sua utilidade, seria para o atleta que conseguisse fazer durar mais a brincadeira e manter o bicho duro por mais tempo antes de terminar. Ninguém conseguiria imaginar , a essas alturas, qual a utilidade dessa  história de prolongamento desnecessário e qual a utilidade disso que era universalmente considerada a grande virtude contemporânea do macho latino. Essa  espécie de tantrização do jogo para contemplar o prazer da fêmea, mecanismo cujo funcionamento real ninguém ainda sonhava em dominar. Se eventualmente demorávamos mais, com certeza era por algum erro, falta de concentração ou apenas pra prolongar a coisa o máximo para uma inocente satisfação própria, com tendência a aumentar o volume do esguicho, nada mais.  
Nando era o dono do pedaço, o cara de maior moral da turma, além de filhadaputamente ser um fanático e habilidoso jogador de futebol (tanto de botão quanto de rua) e boa praça, o cara mais comunicativo do grupo. Magal, o maior mau elemento e reiterado campeão de esguicho dos últimos três campeonatos. Na verdade, houvemos por bem encerrar a categoria “tamanho”, de nossas olimpíadas, depois que Magal entrou para o grupo e acabamos inventando outras categorias da competição pra não ter que dar o prêmio sempre para o infeliz. Também, porra, o cara tinha três ou quatro anos a mais, seu apelido era cavalo não por mero acaso, e a  diferença de idade  faz toda a diferença nessa fase da vida. Enquanto alguns de nós mal tinham completado o cabelo no saco, Magal já tirava onda de homem feito. Enfim, mas o fato é que, se não fosse por nós, todo mundo sabia que Magal já seria marginal há muito tempo. A aceitação dele no nosso grupo é que lhe deu um fôlego extra para não delinquir de vez. Sandrinho Pirralho, o baixinho, com sua alma de coelho – sabe-se lá o que comia a criatura no café da manhã – sempre ganhava na rapidez, marcando exatamente três minutos em uma certa ocasião, cronômetro cravado. , com seu recorde de cinco vezes em duas horas. Yuri venceu duas etapas de frequência, empatando comigo uma terceira, a última vez, sendo que eu também numa oportunidade venci a disputa de esguicho, depois de por algum milagre divino conseguir ficar dez dias sem esporrar. Também foi a única vez que venci nessa modalidade, o que denotava desde já, minha incapacidade inata para a virtude da contenção.
 De forma bastante democrática -- e fisiológica, creio -- não necessariamente o mesmo atleta vencia a mesma categoria todas as vezes e era também uma verdade absoluta que ninguém conseguia jamais somar todas as qualidades simultaneamente, dentro de uma mesma competição. Era impossível o cara ao mesmo tempo ganhar na modalidade distância do esguicho, quantidade de vezes e rapidez (lembrando apenas que a categoria duração ainda não existia). Se isso ocorresse, de alguém por exceção vir a ganhar em mais de uma categoria, provavelmente seria um tipo de super-homem com a força de Krypton multiplicada pelo sol terrestre.
Do nosso panteão não escapava ninguém, no que dizia respeito aos quesitos e motivação estética dos desejos. Competitivos até os ossos, havia também uma tabela que criamos para discriminar as nossas musas mais conhecidas, compartilhada por quatorze dentre vinte meninos da oitava série, onde todas as mulheres ao redor estavam lá, com suas respectivas pontuações. Cada um fazia a sua estatística, lançava a frequência, e ao final do mês, comparávamos as tabelas para estabelecer nossos prêmios imaginários por justo mérito. Estavam lá a baixinha bonitinha bibliotecária do segundo andar, as professoras de ciências e literatura, uma das faxineiras do térreo  e a moça que vendia sanduíches naturais na cantina. Eu ia dizer aqui que, por se tratar de um colégio de formação Católica, seus representantes junto ao mundo da Divina Graça não deveriam, por puro sacrilégio, constar nisso, mas vou dizer: não fui eu quem escalei, mas havia lá em tabelas apócrifas duas freiras também, na escala coletiva, e, mais, suas respectivas cotações não eram baixas, para surpresa geral. O poder inusitado de Eros, mudando as barreiras de tempo, raça e gosto.
Mesmo aficionados pelas revistas, se fosse pra confessar, eu diria que continuávamos sem conhecer muito bem a realidade do mundo feminino. Ok, sabíamos melhor agora algumas geografias, alguns históricos e invencionices, mas nada de empirismo nesse nosso mundo ideal. A maior parte do tempo nosso planeta era  esse, de garotos a especular o outro lado da lua. Se gastássemos o mesmo tempo e energia dedicados a nossas musas para fazer algo em prol da humanidade, certamente teriam saído ali, da mesma turma, alguns jovens Einsteins, Isaac Newtons de carteirinha, alguns filósofos revolucionários do mundo global ou artistas de renome mundial. Mas não conseguíamos canalizar a energia pra outra coisa, devo dizer. Era mais forte que nós, a presença delas em nossas vidas, tanto coletiva quanto individualmente. Hormônio demais sob a cara cheia de espinhas, desejo demais no sangue. Lembrar da professora gostosa de Educação Física ou de Literatura já era motivo para começar os trabalhos trancados no vestiário mesmo, ao fim da ginástica; pau duro a cada meia hora, apontando pro teto, precisávamos urgentemente aprender a domar o bicho; lembrava também da colega de sala que desde a sétima série já tinha corpo de mulher e deixava à vista as marquinhas dos bicos dos seios sem sutiã; daí, como consequência rigorosamente lógica da observação, mandava bronha pra disciplinar os sentidos; trocar  velhos cards de fotos proibidas das atrizes de “séries especiais” , filmes alternativos quase Hollywoodyanos também contava ponto no quesito excitação. O problema era que o pau subia à toa, e depois era difícil baixar sem uma compensação. Doía, se tentasse.
Éramos habituées da banca do nosso amigo tiozão clandestino. Ele repassava pra nós, a partir dos doze – porque seu elevado sentido ético não permitia que isso fosse liberado para ninguém abaixo dessa idade, que ele considerava o limite para a iniciação no reinado da punheta – Eu não disse ainda, mas nosso amigo tiozão era praticamente um pensador, e sabia como ninguém as manhas do mundo adulto. Suas dicas e observações epicuristas nos mostravam, pelos filmes e as revistas a que ele tinha acesso, o “créme de la créme” do movimento mundial dos nudes. A arte mais pura que existia, segundo suas próprias e sábias palavras. Aquelas mulheres incríveis em poses mais incríveis e tantas vezes didáticas ainda traziam para nós a noção de como a vida além de bela era poderosa e mágica.
As mulheres ganhavam assim um outro status diante de nossos olhos mortais. Não eram mais apenas as criaturas chatas e excessivamente sensíveis habitando desde sempre nosso imaginário pretérito e infantilizado de clube do Bolinha, nem eram os pares que viviam sendo cortados das brincadeiras mais enérgicas do grupo dos meninos, também não eram mais as minimães de família que repetiam os valores decorados em casa e administravam minilares plásticos de bonecas e suas tantas repetições de filhos, chás de bebês, reproduções de repartições da vida que lhes eram imputadas desde ainda tão cedo por uma  moralidade bastante burguesa e tradicionalista de plantão, e como se viu depois, muitas vezes contra sua vontade.
Elas eram uma outra coisa, afinal. Tinha uma outra essência ali, e o tempo aos poucos ia mostrando. Antes das revistas, já percebíamos a Leandra, cujos longos cabelos ruivos  cada vez cresciam mais, indo até a bunda, aquela carinha de anjo e como o jeito dela olhar a gente dava uma machucada de vez em quando por dentro, fazendo perder o rumo. Uma vez ela derrubou um cara da bicicleta só no olho. Percebíamos a Sylvana, suada em suas roupas de ginástica ou depois do volley, e quando ela falava lá na frente, nos trabalhos em sala, todo mundo parava pra ouvir. Houve uma mudança, em silêncio, que a maioria de nós talvez não tivesse percebido de início. As garotas da sexta não eram as mesmas que chegaram à oitava. Usavam seus mesmos nomes, mas eram outras, no intervalo de apenas dois anos. E não era demais consentir que era por causa delas que nós também mudamos. As revistas nos mostravam parte da resposta ao enigma. O resto, a resposta inteira, caberia a cada um de nós, na sua própria lavra, tentar decifrar. Quem sabe elas mesmas não nos ajudariam nessa tarefa graciosa?
O fato é que, aos poucos, apesar do gosto compulsivo de colecionadores, fomos percebendo que apenas o paiol de revistas e a consulta quase que diária ao nosso panteaõ de deusas de papel não ia mais satisfazendo a vontade como nos primeiros tempos. As coisas mudavam . E rápido.  Era hora de ir além. Sentíamos isso, cada um no peito e ao mesmo tempo,  coletivamente, ainda que contra todos os discursos de ocasião que pesavam em nossos ombros. A velha história de se preservar para a hora certa. Inferno! Quem ainda acreditava nessa porra? Todo mundo queria era mergulhar na piscina da vida de cabeça. Lambuzar-se no mel. E foi justo quando veio Yuri contando as novas, já depois do carnaval: cê viu, rapaz? A sorte do Vitinho. Todo mundo curioso. O cara fazia suspense. Conta aí, viado, não fica fazendo graça. Disse Magal, educado como sempre. Yuri, ainda meio engasgado, desata o nó: rapaz, o Vitinho, o pai dele, o tio não sei, deram de presente de quinze anos uma noitada no Summer House, saca? E podia escolher a mulher que quisesse, e adivinha quem ele escolheu? Bárbara, a loura. Bárbara? Todo mundo olhão arregalado. Não acredito. Nando falando por todos. Silêncio geral, todo mundo ainda com a boca aberta. Caralho ! isso que era um presente de quinze anos! Eu com a cara de besta. Todos. Mas bicho, Pirralho logo pergunta, babando, e o pai dele? Deixou? Rapaz, o pai não só deixou como pagou a conta toda, apenas quem levou ele lá, de carro, foi o tio, mas quem pagou foi o pai. Isso que é pai, porra, vamo falá, diz Yuri, estatelado, imaginativo.
Se havia alguma coisa que estava no ar, a respeito de um certo cansaço de nossa duvidosa e já um pouco cansativa vida onanista , seja individual ou coletiva de metade da oitava série, agora o peso da história toda acabava de aumentar consideravelmente. Bicho, a gente tem que fazer alguma coisa! Disse Nando, sempre o mais empreendedor. Mas o quê ? eu mesmo me inquietando ali, triste como um passarinho sem asa. Nos achávamos o máximo, e agora éramos assim, rudemente, tragicamente, passados para trás com um novato playboy da nossa idade. Tirando Magal, o animal, ali só tinha virgens de todo tipo, e todo mundo sem saber o que fazer.
Além do Vitim, tinha o caso do amigo do outro grupo, da outra panela da sala, e que por alguma razão nós também invejávamos, o cara que investia na empregada da família e ainda cobrava uns trocados da galera chegada pra moça fazer um extra. Deu merda aquilo tudo , no final. A empregada engravidou, era novinha e bonita e tal, a gurizada entrou em pânico, afinal de quem era o filho? E sem ninguém saber, o pai do moleque também tava na jogada e acabou levando a culpa, no final das contas a moça acabou causando a separação dos pais dele.
E foi o Pirralho, o menor de todos e sempre o mais tarado, que deu a idéia, num belo dia: ora, a gente também tenta lá na casa de shows, porra! A gente junta uma grana e paga uma daquelas garotas pra ter um momento com ela. Um sorriso coletivo se alivia, mas logo vem um arrazoado, na boca de Yuri, rapaz quem qual pai que vai aceitar uma coisa dessas? Não só pelo proibido da coisa, mas também o Summer House não é barato, nenhuma garota lá é barata. E as mães? Já imaginou se isso vaza? Tamo fudido. Eu vou ter que ir à missa rezar de joelho todo dia durante o resto da vida se minha mãe fica sabendo. Não temos nem dinheiro, cacete! Arremata Sandrinho Pirralho. Baixou logo o espírito da negatividade em todos. Ninguém sabia o que fazer, mas sentíamos todos que era o caso de romper com a teoria e enveredar definitivo pelas práticas. Magal foi o primeiro a pular fora logo, porque pra ele e a sua alardeada  experiência internacional no assunto, era ofensa ter que pagar pra pegar garota, daí ficamos só nós quatro, de resto. Magal sabia da parada, mas evidentemente não podia contar pra ninguém. Depois de um vai e volta dos infernos, o próprio Yuri veio com outra idéia: o Summer House é proibitivo pra nós, por várias razões, a principal é o preço. Mas eu conheço uma garota, que mora na rua de baixo, que faz esse lance, e é só acertar com o irmão dela, que tá agenciando: é a Nadya.
Expressão muda na cara de todo mundo. Vem Pirralho na sequência e surpreso, porra, a Nadya não é a maluca? A garota da quadra de esportes, que no dia da festa junina... Sim rapá, é ela mesmo, rebate Yuri, e tem o lance da despedida do Harley também, que foi pra faculdade, ela tomou umas e tem uns outros lances dela aí, de grafitar de madrugada muros da rua e compor umas canções meio malucas, mas é o que tá dando pra fazer. Não dá pra arrumar tanta grana pro Summer House e nem ninguém vai querer nos botar no esquema lá. E além do mais, a Nadya pode até ser meio doida, e tudo, mas é gostosa pra caralho, né, e já tem dezoito, sabe das coisas.  Cacete! Decide Nando. Vamo lá ,então.  Cêis são tudo doido, tô fora! arremata Magal, dando risada.  Eu apenas observo, surpreso.  Fechamos o plano, então, no mesmo dia. Íamos juntar uma grana e partir pra negociar com o irmão da doida, os termos da  iniciação de nosso clube.
Não teve problema pra combinar com Marreco, o irmão da doida. Na rua de baixo, o povo era meio barra, e Marreco não era diferente. Ia cobrar  mais caro do que o esperado, e íamos demorar alguns meses pra chegar na grana, mas vindo dele, não era surpresa. Estudante repetente do segundo ano, passador de bagulho nas horas vagas, negociava ainda as aventuras da irmã, agenciando encontros. Eu estranhava aquilo tudo, pra dizer a verdade, e além disso, o próprio irmão, --ainda que meio-irmão-- jogando sujo dentro do sistema podre do mundo, mas a vida, enfim. Não sabia que Nadya tinha esse lado. Na verdade, não sabia se era mesmo verdade. Não vi ninguém que confirmasse o assunto. Apenas boatos que corriam. Eu conhecia de tempos atrás a doida, passar perto de sua casa era meu caminho natural pra escola. Sempre via a figura por ali, meio gótica, cabelo chanel cada hora de uma cor, dia era azul, outro vermelho, às vezes raspado na nuca, às vezes espetados, tachinhas pra todo lado, uns couros pretos, maquiagens escuras, uma pele branca e uns sons pra lá de estranhos no CD sempre na mesa da varanda aberta. Duas ou três vezes ela me chamou e chegamos a trocar umas idéias. Eu meio acanhado ainda, garoto de sétima série, ela falante e exagerada, já nos dezessete e plena em seu início de idade adulta. Pegava seu velho violão puído folk Tagima de cordas de aço e me dizia que queria ser cantora indie. De vez em quando eu não entendia bem o que ela dizia, sobre umas bandas aí, umas letras e tal, meio papo cabeça. Me dava conselhos sobre namorada. Eu que tinha acabado de terminar com uma garota, Roberta, minha primeira experiência do assunto, e  que afinal não passou muito dos beijinhos e umas sessões de cinema, Nadya veio me dizendo que mulher é assim, e tal, que o cara não pode ser babaca, que o cara tem que aprender a ouvir, saber chegar junto, não ficar se impondo, e saber respeitar a liberdade da mulher. Que mulher também tem voz, também tem vez. Eu não entendia porra nenhuma, mas gostava. Fazia de maduro na hora, sério e tudo, -- ninguém quer revelar que é virgem, afinal --, mas voltava rindo pra casa, feito besta.
Semana após semana, mês após mês, o resto do tempo, agora, era só a ansiedade pra inteirar o valor pedido por marreco, o cafetino da irmã doida. Todo mundo esperando chegar o dia. Todo mundo queria, e a reputação da garota estava cada vez mais quente. Semana passada tava andando com um cara, esta semana foi vista com outro, e por aí afora. Nosso grupo se acirrava juntando a grana. “Acho que temos o bastante”, sentenciou Nando no final do quinto mês. Bolão rolando, o sorteio da ordem dos eleitos estava para ser realizado no nosso clube, quando alguém dá a notícia, depois de sair do banheiro com a revista mais nova na mão; caralho, roubaram a grana! As revistas estão todas lá, mas roubaram a grana! Fui lá dar uma olhadinha, pra contemplar quanto tínhamos juntado, e nada! E correu todo mundo  ver, não tinha nem poeira da fortuna malocada no baú, ao lado de nossa coleção de preciosidades. Putaqueopariu! Gritou Nando, e todo mundo meio olhando pra cara dele cismando com a notícia , mas ao mesmo tempo sabendo que de todo mundo ali, o único filadaputa que teria dinheiro de sobra pra pagar qualquer garota num raio de duzentos quilômetros era mesmo o Nando, daí que não faria o menor sentido ele mesmo ter roubado. Suspeita geral, todo mundo olhando um pra cara do outro, e revista bolso, carteira, só por precaução, e nada! Desconfiaram da mãe ou do pai de Nando, apenas por vingança,  suspeitaram da empregada dele também, na hora da limpeza, enfim, nessas horas não sobra ninguém inocente.
A real bateu logo. Final de ano chegando, grana surrupiada, sem tempo e sem moral para o clube se reorganizar e tentar alguma coisa nova, -- afinal a grana não era pouca e foi difícil juntar aquilo tudo durante quase seis meses. Final de oitava série, dali em diante todos se espalhariam por aí afora, meia dúzia pra escola técnica, dois pra escola militar, outros tantos pra capital, tinha gente da sala que ia mudar até de país. Vida nova em outros contextos, partindo pro ensino médio e dali pro mundo, tudo isso em poucos meses. E terminávamos melancolicamente assim, nosso quinteto, e à exceção do Magal, ninguém tinha comido ninguém. Agora depois de tudo, tínhamos desfeito  o clube e rateado o que restara da nossa reserva artística de revistas de mulher pelada, um pouco pra cada um, no sorteio.
Foi Magal que veio até mim, dia desses, um mês e pouco quase dois depois do ocorrido, com uma revelação. Era sábado à noite e ele já tava meio chapado, andou bebendo ou cheirando qualquer porcaria, não sei. Cigarro aceso e olhos inquietos, na varanda de casa.
Então, Heitor, meu amigo Tozim, é que eu queria te falar um negócio. Sobre o lance da doida lá, do nosso combinado,  do bolão que vocês tavam fazendo pra ir na garota, lembra?
Porra Magal, é claro que lembro, mal tem um mês que terminou isso tudo, como eu ia esquecer?
Velho, é que eu queria te dizer uma coisa aí, porque você sempre foi meu melhor amigo, Tozim mas é segredo da porra, você não pode abrir isso pra ninguém.
Claro, seu mané. Se tem uma coisa que sei manter é discrição. Pode falar, rapá. Se isso te faz mais feliz, desabafa aí, po! Aposto que vai confessar que foi você que roubou a porra da grana toda da nossa turma, né não? Vc. é um filadaputa, Magal, eu bem que já desconfiava....
Qual é , rapá? Enlouqueceu? Se eu por acaso tenho pinta de ladrão. Quer levar uma porrada, seu viado? Olha eu eu te dou uns tapas...
Relaxa, meu irmão. Não tá vendo que estou brincando?
Tudo bem, po, vc. Falou assim que eu achei que era verdade. E você sabe, eu levo brincadeira tudo na boa, mas esse lance de roubar, fico puto.
Né não porra, fique tranquilo. Claro que não acho que foi você. Mas pode falar o que quiser, cê sabe que eu não sou de ficar de fifi não. Segredo comigo é segredo, assim como amizade. Palavra de honra, e tudo.
Cara, é que eu acabei pulando fora logo de cara, quando vocês falaram do bolão, nem foi por causa do que eu disse, não, sacou? Não foi por causa da desculpa que eu dei, porque era só meia verdade. Não foi porque eu tivesse esnobando e tal, e que não quisesse participar, mas tem outro lance.
Po, eu nem lembrava mesmo a razão. Pelo que me falaram, foi porque você não tava nesse nível de ter que pagar pra transar com alguém, não sei bem.
Velho, isso foi o que eu disse mesmo, mas não era isso, era outra coisa...
Mas que coisa, rapá? Não tinha grana pra ajudar na vaquinha?
(Ele dá uma longa bicada na cerveja pelo gargalo e esvazia o conteúdo todo. Acende outro cigarro na brasa do cigarro do anterior)
Não, rapá, é porque na verdade, Tozim, eu não gosto muito de mulher.
(pausa dramática, eu não tinha bebido nada mas ainda não conseguia digerir as palavras e associá-las com o cara bem ali na minha frente). Minha cerveja até então tava parada na lata, eu resolvi tomar uma grande talagada antes de conseguir falar.
Magal?!
Pois é, caralho! É isso, falei...
Ma... como é que ... rapaz, isso é sério, não tá me zuando?
Tô não , brother , é sim, essa é a verdade e agora só você que sabe.
Mas  porra, você é meu herói,-- meu apenas não, da turma toda--, você era nosso herói, cacete, Magal você é viado?
Po, Tozim, você também me sacaneia, não é isso não.
Mas como é que é, porra, não tô entendendo mais nada.
Não é que eu não gosto de mulher, sacou? Eu já fui algumas vezes, pra dizer a verdade até muitas pra minha idade, e isso é assim desde muito cedo, você não sabe...
Não sei o quê , porra,?  agora que começou, fala.
É que minha mãe, quer dizer minha mãe de verdade não porque  morreu quando eu era muito pequeno, digo minha madrasta, é que eu e ela, nós dois...
Bicho, não vou nem ouvir mais essa porra. Tá parecendo filme.
Nós dois, desde que eu era pequeno, ela me pegou pra ensinar a fazer umas coisas que ela gostava, eu aprendi a passar a mão e lamber ali, uns lugares, ela dizia que fazia cosquinha e pegava em mim também, no meu pau, botava na boca, ficava agitando e tal,  e acabou que eu também gostei, aquela coisa toda de proibido, na ausência do meu pai viajando, você sabe, isso acabou indo por uns tempos, até que meu pai descobriu e me encheu de porrada...
Mas quanto tempo, Magal?
Rapaz, na verdade só acabou ano passado, quando ela se mudou com o cara do açougue, e no bate-boca com o velho, resolveu me botar pra fritar junto. Você lembra, foi um período que fiquei faltando aula por umas duas semanas, pra recuperar da surra, falei que tava com hepatite. O velho começou a beber depois disso.
Putaqueopariu, Magal! Mas o que tem a ver isso com o resto?
Na verdade nem sei se tem a ver, mas no fim não e´que eu não goste de mulher de vez, assim, mas é que descobri na ginástica um dia que eu também gostava do outro lado, entende? Eu reparava também os homens..
Entendo e não entendo, bicho, tô tentando aqui recompor meus parafusos, você até meia hora atrás era  não só nossa referência no terreno dos caras espertos, mas também uma espécie de ídolo por suas conquistas entre a mulherada.
Até que nunca foi difícil pra mim, mas isso também não tem muita importância. Já peguei muita mina e fiz raiva em muita gente roubando namorada, mas depois meio que enjoei um pouco disso. E também eu não ligo, só não quero que a coisa vaze. Já estou saindo de vez em quando com o professor de educação física, mas é tudo segredo. Só queria te explicar que saí logo do bolão porque ando numa fase difícil e não ia querer ter que provar nada na frente de uma mulher e com um monte de fedelho na expectativa, se me entende. Sair daquilo foi uma espécie de alívio.
Acho melhor você nem me dizer mais nada. Claro que não vou contar, eu entendo você mas acho que também não tô querendo saber de mais detalhes, você também me entende, né?
Sim, po. Você é meu brother, e estou feliz por ter falado. Só fiquei meio puto porque o resto da galera ficou me acusando de ter roubado a grana do bolão, que já tava alta. Eu juro pra você por tudo que tem de mais sagrado que não peguei a porra dessa grana. Eu não queria participar, tinha minhas razões, mas jamais pegaria a grana. Só queria contar isso mesmo, que tava agarrado aqui na garganta , e eu achando que ia morrer se não falasse.
Magal, mas também não é assim , velho. Relaxa, levanta a cabeça. Ainda mais hoje em dia, tudo tranquilo, acho que é manter a mente no lugar. Cada um faz suas opções, segue o que sente que é mais verdadeiro , sei lá. Confesso que ainda tô meio surpreso, mas  seu segredo ta´garantido comigo, pode confiar. Fico feliz que tenha me escolhido como seu amigo, e por conta disso também vou lhe contar um segredo meu.
Po, moleque, vai dizer que tu também é gay?
Não, mano, qual é? minha coisa é outra, mas eu também precisava falar com alguém.
Desembucha aí, vai. Não imagino nada que seja mais impactante do que eu te disse aqui esta noite, depois dessas cervejas todas. Por ora estou ótimo, mas amanhã depois que passar a ressaca, acho que vou ficar péssimo.
Rapaz, Magal, eu sei que não foi você, velho, que roubou a grana. Mas o que vou te falar, você também tem que manter segredo.
Obrigado, bicho, você é meu amigo, e sei que confia em mim. Mas no fim das contas, como é que pode ter tanta certeza que não fui eu que roubei, T?
Magal, eu sei que não foi você que pegou o dinheiro que nós guardamos lá na casa do Nando porque fui eu que roubei a porra da grana, sacou?
Como assim, rapá? Cê ficou maluco?
Roubei tudo, não deixei nada pra trás, dois dias antes de darem pela falta, lá na casa do Nando. E pior: não tive qualquer remorso.
Putaqueopariu, moleque! Mas não sabia que você tinha esse lado podre.. hahaha, mas essa é boa! Essa cara de santo aí, meu...haha (vira pra trás, na cadeira da rede, quase virando de costas) mas que porra é essa, por que você fez isso?
Você tá lembrado que eles queriam combinar com o irmão da doida, né, pro rock de iniciação da turma. Eles decidiram não ir no Summer House mais, porque tudo lá era muito caro .Só o Vitim mesmo, burguês do cacete, pra ter esses luxos de tio pagando GP de alto nível... sortudo do caralho!
Sim, claro. Tô lembrado, o cara é irmão, meio-irmão da menina, sei lá, conheço Marreco há tempos, mas é tipo um cafetão, além de passar uns bagulhos aí. Ano passado mesmo andou preso uns dias e levou umas porradas lá na DP. Mas e aí , filadaputa? Diz aí porque é que resolveu botar a mão no dinheiro. Você não era disso, Tozim, manda aê, rapá,.. (dá uma gargalhada e um trago profundo no Hollywood filtro amarelo que tem na mão direita).
Pois é, Magal, fui eu que roubei. E só roubei porque eu gosto da doida. Eu gosto da doida!! Sacou? Entende, Magal?
Como assim? Cê não tá falando sério. A garota maluca dos cabelo azul e das música sem-noção?  Mas o pessoal por aí diz que ...
Foda-se, Magal! Tô nem aí. É ela mesmo. E não vou deixar nenhum filadaputa seja amigo ou não ficar fazendo arranjo lá com irmão marginal da casa do caralho. Eu nem acho que ela é do jeito que falam é que todo mundo e´meio filadaputa nessa vida...
Rapaz, mas aí é paixão mermo, meu amigo! Pro cara roubar e brigar com todo mundo por causa da mina... hahaha, tá fudido , moleque!
Então, cara. Me diga se não estou maluco ou isso é simplesmente o amor, no final das contas? Já nem me lembro das minhas revistas, mais , Magal, consegue imaginar? As revistas, bicho! Logo eu, um aficionado pela coleção, a coisa mais linda, já tenho quase setenta revistas do mundo inteiro , com aquelas beldades. Tem mais de um mês que nada! Nem lembro que elas existem.
Como assim, nada?? Não tá falando sério...
Nada!  As revistas só no canto, malocadas. Nem peguei. Agora só penso nela o tempo todo. Eu gosto do sorriso dela, do cheiro, das paradas que ela fala, das idéias atravessadas e do jeito muito diferente de todas as outras garotas que eu já vi.. Já trocamos uns beijos no réveillon na casa de Lisa, mas ainda não passou disso.  Roubei a grana mesmo, roubei a porra  toda e roubava de novo, mil vezes, e com o dinheiro ainda comprei um violão novo, elétrico, e mandei pra ela de presente de natal, e é com esse violão que ela vai tocar lá no show de início de ano da escola, no fim do mês. Já estou até aprendendo a tocar bateria pra poder acompanhar ela nas apresentações. É isso,  eu  gosto da doida, Magal! Eu gosto é da doida!! Era isso que eu queria te dizer.




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pub orig in livro de contos "Reine Sobre Mim", reg AVCTORIS dez/2018