A lua de Peart
Para Neil
------------
Tonto poeta,
em seu tatear
A exaustiva busca
da metáfora perfeita
Rarefeita
fugidia
tantas vezes quebrada
Se não for perdida
não é metáfora
Não é perfeita
se for vivida
Inventada, até -- quando
não se leva fé -- e se aprende
com ou sem porquê
o quanto de imperfeição
às vezes cai tão bem ao viver
De quebras, assim
A vida
que na tocada vira ritmo
forte, fraco, como pulso
Pearrrrrt
como baquetas treinadas
técnica e feeling no rufar da caixa
terminando fechadas em hi-hats
ao som de um certo nome
Que não é necessariamente rock
não é apenas técnica, não é jazz
nem qualquer definição de estilo
É tudo isso e mais um pouco
na corajosa junção de cores
Pesquisa, vivência, história
O som que vira música por
puro instinto
ritual
primal
tribal
De tambores
Aquela primeira lição que se aprende
numa aula de bateria
em algoritmo de palavras :
baquetas sobre a madeira
tata-mama papa-mama
A lua, ora veja,
essa imagem tão crua
objeto recorrente da poesia
(Quem ainda contaria uma história
que não fosse louco
um verso que não fosse óbvio?)
Alçada ao céu batendo forte
E o peito, que quando isso
acontece, sempre explode
A lua, quando me veio à cara esta noite
era pura alegoria. Cheia, craquelada
Ela hoje era mais nada
além de uma pele de bumbo
com uma coroa em cima
e um corpo de 23 polegadas