A inconstante vida dos Filmes e das séries biográficas: erros e acertos

5 curiosidades sobre 'Freud', a série sobre o pai da psicanálise ...
Ok, logo de cara esse aqui eu acho que todo mundo já sabia (menos eu, que não andei acompanhando o marketing, mas esperava outra coisa pra dizer a verdade), que a série não é nem se propõe a ser biográfica. Tem um traço daqui e de lá, pra não dizer que o protagonista é só um homônimo, mas as semelhanças são bem superficiais com o famoso original, tática usada muito mais para dar corpo ao personagem do que retratar um pensador histórico. É simplesmente uma adaptação inteiramente livre sobre um Freud ficcional lidando, como uma espécie de Sherlock médico, na solução de crimes na Áustria/Hungria/Alemanha do início do século passado. Boa como série thriller, ainda não assisti tudo, mas de cara dá pra ver que tem qualidades como Ella Rumpf no papel de Salomé (que infelizmente também não tem nada a ver com aquela Salomé, que todos conhecem). Seja como for, vale a pipoca. Depois da última tentativa de ver Freud no cinema, (bem ruinzinha, por sinal, no filme "A Tabacaria - 2018" que lembrou mais uma versão B do "Carteiro e o Poeta"), dava pra desistir, quem quer ver Freud de fato vai ter que ler a obra, as inúmeras biografias ou esperar mais até que surja algo consistente.



Verdades e mitos sobre o filme “O jovem Karl Marx”, de Raoul Peck ...

Filme razoável , bem filmado, bons atores, boa direção. Peca, como era de se esperar, no embate entre a profundidade que as análises sociológicas exigem e a necessidade de dialogar com o público no perfil almejado pela produção. Compreensível ,até, se observarmos que se trata de filme e não livro. Um certo exagero de imagens dramáticas de grandiosidade, principalmente na abertura, mas que aos poucos vão se afinando para mostrar o lado cinzento da situação dos trabalhadores acossados pela ainda recente e crescente pressão da revolução industrial sobre suas vidas.

Apesar do tema central privilegiar a abordagem das questões históricas  cujo entendimento será maior para quem já conhece ao menos o básico da coisa toda, pitadas da vida pessoal e existencial do protagonista e o trato poético da parceria com Engels,  -- ainda antes de surgirem os grandes frutos dessa associação --, tiram o ar didático-conceitual de algumas falas e humanizam um pouco mais mais o entorno de um pensador que é tantas vezes tratado como ícone , acima da materialidade, (algo paradoxal, em se tratando de Karl Marx) tanto pelos seus fãs mais ardorosos como pelos inúmeros detratores que sequer leram a obra. Acerta mais, o filme, contudo, quando foge da vida pessoal e  mostra com empolgação o relevante debate de idéias , estendendo-se sobre questões que norteiam ainda hoje grande parte das questões sociais no mundo inteiro.

É também muito bem feito o retrato de uma época, que exibe tanto a realidade convulsionada das ruas na Europa há quase dois séculos, quando um movimento de união começa a ganhar força entre os trabalhadores e o choque das iniciantes correntes teóricas que tentavam dar conta do que acontecia no turbilhão. Operários, indigentes e suas vidas familiares, mulheres, crianças, a gigante e abrupta transformação da vida no campo caminhando para a constante urbanização da sociedade,  todos sufocados irremediavelmente já pelo efeito da revolução industrial a plenos pulmões, e a grande mudança trazida em suas (nossas) vidas a partir daí. Dava pra ir mais longe nisso, mas infelizmente o conceito do filme terminou antes de se solidificar mais. O velho problema do público-alvo, que mata algumas boas obras antes mesmo delas chegarem à tela.


Arte e Artistas - Renoir o Filme - analise e impressões

Das mais bonitas que já foram à tela, tudo perfeito nesse filme, sugerindo a intenção nem assim tão v velada de ser o próprio filme uma tocada impressionista do começo ao fim. Raramente um filme fala de uma figura tão importante, talentosa e influente como Renoir em toda sua longeva e prolífica vida, usando tamanho cuidado com tudo o que envolve o seu ao-redor, desde o filho famoso, Jean, que seria um famoso cineasta, até o dia-a-dia, o afastamento da cidade, a vida no campo, a busca incansável de um conceito de beleza repleto de luz. Belíssimo!

AT ETERNITY'S GATE Trailer NEW (2018) - Willem Dafoe Vincent van ...

Trabalho magistral de interpretação de Willem Defoe , nesta que considero uma de suas melhores atuações, justo para interpretar um dos artistas mais complexos que já pisaram nesta Terra. Expor gradualmente a evolução da técnica e do insight de um gênio desacreditado que envereda por uma prática compulsiva e agressiva  fortemente obcecado com uma forma  própria de encarar a representação, usando -- ao contrário da época -- a forte pincelada com tonalidades vivas e o modo próprio de dispor a tinta diretamente na tela com espátula. Enquanto isso, a doença (até hoje reputada em grande parte na sua intensificação e trágico andamento pelo contato direto com a tinta bruta e os metais pesados contidos no óleo e pigmentos, predominantemente de mercúrio e chumbo) aumentando cada vez mais, a incompreensão social, à exceção dos poucos amigos e visionários conhecedores de arte, uma decadência dos meios de prover a própria subsistência, tudo isso aliado a uma impressionante ingenuidade diante da vida. Que trabalho foda de tudo que envolve o cinema, tempo, duração, intensidade contida, imagem, trabalho de corpo do ator, trabalho de fundo de biógrafos , roteiristas e direção de arte impecável. Um filme pouco conhecido e brilhante.


Filme sobre a escritora e psicanalista Lou Andreas-Salomé estreia ...

Belo filme. Difícil filmar cinebiografia e não ser chato, pelas limitações naturais do gênero. Temas históricos costumam ser camisas de força, ainda mais quando envolvem debate de idéias.

Contudo, "Lou" se sai muito bem na tarefa, ao narrar de forma criativa a trajetória de uma mulher ousada, muito à frente do seu tempo, reproduzindo, entre imaginário, material escrito e dados biográficos, a relação da poeta e primeira psicanalista com seu próprio trabalho e a luta pela emancipação feminina, além do seu envolvimento com algumas das cabeças-conceito mais famosas do século XIX, tornando-se admirada, amada ou simplesmente virando a cabeça de ninguém menos que os caras: Nietzsche, Freud e Rilke . O filme é muito feliz ao constatar, com justiça,  a influência que ela teve sobre a vida e obra de todos eles, mesmo que alguns depois não o reconhecessem (aquela parte que normalmente fica de fora dos livros de Filosofia).

Boa direção, diálogos espirituosos, atuações e fotografia. A química entre os atores é um ponto forte e os personagens segue bem de perto o que consta das tais biografias extra-oficiais, com o roteiro dando vida a um Nietzsche zoeiro e maluco como ele só, um contestador Paul Rée e uma encantadora e decidida Salomé, quando jovens e pertencentes ao mesmo grupo de amigos e confidentes-pensadores-poetas, um minuto  antes de tudo desandar de vez. Além disso, dá uma sacaneada no Rilke, o poeta, que entra na trama mais tarde, mostrando seu lado bebezão, mimado e  eternamente dependente, como "dedurado" nas cartas de Salomé que vieram posteriormente a público. Uma boa parte do filme,  aliás,  é baseado nesses textos, entre ensaios, poemas e memórias (aquilo  que sobrou sem ter sido incinerado para não parar nas mãos dos nazistas, que eram violentamente contrários à psicanálise)  para delinear o lado menos conhecido dos personagens famosos.

Como efeito de narrativa, lembrando a mágica da telona, o recurso engenhoso dos cartões postais de época inseridos de forma dinâmica nas cenas como cenário vivo foi algo de genial.



Canto Cultzíneo: Filme: Mary Shelley (2017)

Belo filme, lembrando a fase extremamente rica do Romantismo inglês,
talvez a maior escola influenciadora de poetas desde a Revolução Francesa.
É claro que o filme centra na figura de Mary, então é natural que Percy,
o poeta, apesar do talento fulminante, apareça mais em segundo plano,
mas ficou exagerada a caricatura de Byron, mostrado no filme muito mais
pelas excentricidades e pelas famosas noitadas do que pela importância poética
gigante dentro do movimento. Não é exagerado dizer que sem ele, seria
impossível pensar o romantismo de forma tão rica.

Justa homenagem, contudo, a essa autora genial, que escreveu numa época difícil
para as mulheres, e celebração de uma das melhores obras
da literatura, o "Frankenstein"

Boa direção e  trabalho de atores, superando o destino de chatice que costuma infestar
cinebiografias.




Rodin - Filme 2017 - AdoroCinema

Fraquinho que chega a dar dó. Um grande artista vibrante e cheio de vida como Rodin, além disso um pleno conhecedor físico e conceitual de sua arte, a ponto de ter servido de referência sólida à maioria dos escultores que vieram depois dele, além de vários outros em diversos ramos das artes, como o poeta Rilke etc. No filme aparece mais como um trabalhador braçal sem qualquer graça, tocando uma vida sem graça. Se for pra dizer, mesmo sendo um filme extremamente crítico à pessoa do artista, e sem entrar no mérito biográfico em si, vejo muito mais qualidade cinematográfica e até mesmo biográfica em "Camile Claudel" (1987) do que neste Rodin extremamente insosso, muito ao contrário do reconhecido temperamento do artista.

Amadeus Torrent (Filme 1984) Dublado / Dual Áudio Full HD BluRay 1080p

Brilhante filme, uma das obras-primas do cinema, é pra ter em casa o DVD e assistir ao menos
uma vez por ano. Tudo no filme é bonito, grandioso, fotografia, atuações, a trilha, -- não tão
óbvia quanto se poderia pensar -- porque construir a trilha para um filme, em geral, é muito
diferente de  deixar tocando no PC uma playlist qualquer. Imagine neste caso, em particular,
tendo como opção a obra completa de Mozart.


Não Estou Lá - Filme 2007 - AdoroCinema

Daqueles em que você fica tentando entender por que é que  não saiu do cinema depois da primeira meia hora. Como um teste de intelectualidade otimista apostando no que deve vir na próxima uma hora e meia ou alguma outra coisa meio masoquista. A mistura improvável de grandes atores, o tema extremamente rico sobre a vida de um dos maiores artistas contemporâneos e um diretor com boas coisas no currículo, mas que conduziu tudo de forma surrealmente ruim. Inacreditável o resultado. A vontade era diz\er, na saída do cinema ": Não estou aqui"...



Johnny & June - Filme 2005 - AdoroCinema

Beleza de biografia, sobre um músico vibrante. Filme sobre o polêmico e talentoso Johnny Cash, segundo os entendidos, muito fiel à sua biografia, e um show de atuação do par Reese Whiterspoon e Joaquin Phoenix, em química perfeita,  filme que  alavancou o ator para a "parte séria" da
carreira daí em diante.