Borges, poeta (e dos bons!)
Reunião dos últimos sete livros de poesia do autor, em edição bilíngue. Tradução de Josely Vianna Baptista.
Sou suspeito pra falar desse grande autor, um dos primeiros a me atrair para o universo da poesia -- no início mais por sua pegada filosófica que propriamente literária -- e a coisa foi se desenrolando a tal ponto que passei a não saber direito o que era filosofia e onde começava exatamente o literário. Melhor assim. E não por acaso foi de sua autoria a primeira coleção de "obras completas" a povoar minha estante, décadas atrás, antes ainda de Dostoiévski.
Deixo a pista desse universo poético na bonita introdução do site Cia das Letras.:
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"Um persistente equívoco pode levar o leitor de Borges a dar mais valor a seus contos e ensaios do que a seus poemas. Porém, no princípio, no meio e no fim de sua carreira, ele foi sobretudo poeta e assim se julgava. Durante os anos 1920, publicou três livros de versos cuja importância histórica e estética vai muito além da vanguarda ultraísta de que zombaria mais tarde.
A partir dos anos 1960, volta maduro à poesia, e escreve grandes poemas em que o pensamento se casa à emoção num sereno discurso rítmico, cuja complexidade se mantém com clareza, precisão e elegância clássicas. Nos sete últimos livros de poesia, escritos de 1969 até 1985, reunidos neste volume, uma sutil música de câmara confidencia os sentimentos mais íntimos na forma contida, límpida e exata das surpresas tranquilas.
O elogio da sombra que se parece à cegueira, o fascínio de ouro dos tigres, a luz inacessível da rosa profunda, a moeda de ferro feito um espelho mágico do eu e do mundo, o caos que é a cifra de uma secreta ordem, tudo são poemas conjurados como verdadeiros dons da escuridão, dos sonhos, das alvoradas. O poeta que sempre amou a filosofia e os labirintos da reflexão repassa o vivido e se prepara, com lucidez e calma, para a morte".