Diamantes de Sangue
Um ano após Brumadinho
Dedicado às milhares de vidas (animais, homens, árvores) ceifadas pelo
rompimento criminoso de mais uma barragem de lama da Vale
Uma das empresas que -- mundialmente -- mais desmatam, destroem, poluem, sonegam
e no entanto, uma das que mais se disfarçam em maquiagem verde pra tentar amenizar dua imagem e o impacto duramente predatório e extrativista padrão terceiro mundo
O silêncio diante da natureza é sabedoria
O silêncio diante da opressão é covardia
Toda arte que se cala
ou toma como cavalo de batalha
apenas aquilo que enaltece o próprio ego
é iníqua
Ver é enxergar para além de si
rompimento criminoso de mais uma barragem de lama da Vale
Uma das empresas que -- mundialmente -- mais desmatam, destroem, poluem, sonegam
e no entanto, uma das que mais se disfarçam em maquiagem verde pra tentar amenizar dua imagem e o impacto duramente predatório e extrativista padrão terceiro mundo
O silêncio diante da natureza é sabedoria
O silêncio diante da opressão é covardia
Toda arte que se cala
ou toma como cavalo de batalha
apenas aquilo que enaltece o próprio ego
é iníqua
Ver é enxergar para além de si
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"Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham
Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,
Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,
E as árvores mortas já não mais te abrigam, nem te consola o canto dos grilos,
E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate" (Waste Land - T.S. Elliot)
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O metal liso e frio
cuja cava beira o rio
a dureza que ergueu as cidades
o gume que lamina as facas
a lata que formata o carrão
a massa que pavimenta as vias
a bandeira que abriu as portas
aos mortos da civilização
a lei que, fabricada torta
não poupa a vida nem se retrata
o mesmo metal que varre as matas
é o veneno que extingue os bichos
a arma que extingue as almas
e dizima os índios
é o dividendo que engorda a ação
a eleição que premia as bestas
programando repetir o ciclo
o vício do mercado insano
passando pano para o patrão
criaturas que se esgueiram em frestas
hipocrisia mascarando a arte
mediocridade que dá o toque
escroques em profusão
o desastre que convida à posse
(ano após ano, a mesma história)
memória que não constitui saber
poder sem legitimidade
a vida na cidade a se perder
voltar no tempo quando
o movimento não é esperança
a arma nas mãos da criança
é algoz do sonho adiante
o diamante no colar da madame
é o sangue inerme do negão
o ouro que aleijou o operário
calibra a selfie do cordão
a tinta vermelha da árvore
hemorragia que gerou nação
o vômito de óleo sobre a praia
no recife, no coral,
o câncer no lombo da arraia
a areia marcada de preto
o fundo do mar em arrastão
plataformas de ódio e ganância
disputando a ânsia da moeda
dados que rolam, mercados marcados
viciados, repetidos
a pedra brilhosa que decora
jazendo em meio aos jasmins
a ardósia do exótico jardim
os pedaços moídos do operário
sem renda, destino ou promessa
mais uma família posta às pressas
nas garras das ruas
outra criança carente, mais uma morte solitária
nessa corte refratária, salafrária
e eloquente
o rio imponente e caudaloso
(cartão-postal da nossa infância )
que dá nome à cidade, assoreado
lamoso, degradado e esquecido
como par de pulmões afogados
em pó de mármore e granito
a massa desse fumo preto
matando a vida outrora sublime
o tecido brilhoso na vitrine
bom, barato e na moda
tramado, tratado e cosido
por escravos do outro lado do planeta
que a tela colorida esconde
bando hediondo de zumbis,
zumbizando sem ter pra onde
se não há como fugir
a carne de boi em larga escala
a soja a perder de vista
a química que se põe à mesa
os confortos moderninhos
que extrapolam qualquer lista
compramos tudo sem saber, sem ver,
sem entender aonde começa a sede
sem saber quando termina a grande rede
tudo ligado, interdependente no fundo
dominado por discursos macios
de ossos aparentes
porque todo mundo é culpado
não nascem mais inocentes
a compulsão, o processo
a vaidade, (sempre ela), turvando as vistas
acirrando os ódios
contra qualquer realidade
ativismo em desatino
sem perspectivas ou convergências
a caçada o cansaço
das derradeiras inteligências
de que adianta
todo esse ódio roto
todo estardalhaço, as cenas recortadas
de um filme B
o grande rio
em seu midiático epitáfio
antes de ser sepultado
sem nenhum cuidado
"já estava mesmo meio morto"
que adianta o ódio tardio
sobre o negócio perfeito
(superfaturado, só pra manter o jeito)
mímicas, descabelos
tanto teatro do vazio
se o pacote todo
deu errado?
afetações públicas ou privadas
cada um querendo vender
seu peixe podre
imprensa, governo, mídias sociais
indivíduo fragmentado
escolhe o caminho errado e depois
insiste em vangloriar seu compromisso
ao dizer que, apesar de tudo isso,
ainda quer ser gente, ainda tem sentimentos
ao testemunhar com pusilanimidade
mais um passo rumo ao nada
enquanto assiste, de cadeira
outra tragédia com hora marcada
matando índios na torpe caçada livre queimando os gays em novas purgas atirando uns nos outros pelas ruas homologando a cada dia uma nova barbárie dizendo sim como autômatos sob os gritos das mesmas seitas obsedantes até os ossos desgosto que se insinua enquanto urge pensar o não uma inteligência outra, que alternative um corpo renascido de cinzas, que não se submeta uma vontade que vá até o final que ponha no cadafalso qualquer moral que associe desejo e liberdade sem precisar ceder uma vida que se transforme em mais ao verdadeiramente se aliar a tudo o que merece viver seja bicho homem ou planta ou isso ou nada porque remediar é muito pouco persistindo o sistema seguem os mesmos problemas meia dúzia governa tudo sob as bênçãos dos santos mudos uma dúzia divide os lucros quinhentos feitores brancos ricos ou mesmo pobres mulatos escolados na cartilha de capitão do mato chicoteiam o lombo dos bilhões de escravos que doam suas vidas seus sonhos suas liberdades porque não importam no fim a vida o amor ou qualquer dignidade a beleza até nunca importou na verdade quando a desmedida ambição grita não há ética não há estética não há sombra de qualquer natureza que resista à maldade. +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
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poema reedit , publ originalmente jan 2019 in "O Aleph" - "Urbanidades" - AVCTORIS fev 2019
Em memória de Mariana e Brumadinho, um ano após o último acidente sem que a VALE ou a SAMARCO tenham sido responsabilizadas judicialmente ou arcado com as indenizações dignas
sobre o incalculável prejuízo de vidas e meio ambiente
Neste exato momento, há 353 barragens, umas maiores, outras menores que Mariana, apenas no estado de Minas Gerais, em situação de quase-abandono, esperando pra explodir