O garoto
Duduzinho ainda tão pequeno
colega de escola do meu filho tempos atrás
Agitado, barulhento, comunicativo e precoce
Nada bastou para que a escola o acolhesse
As crianças o adoravam, os mestres nem tanto
As senhoras da cantina o elegeram protegido
Com os chefes de disciplina era à base do castigo
Como por encanto, Dudu via curvas
naquelas tantas retas postas no quadro
Dudu via passarinhos na janela ao lado
enquanto a professora geometrizava sua razões
Desenhava heróis e monstros no caderno e brincava
quando o horário de ser sério estava em sala
Suas notas, -- já uma tradição --, não animavam
alguém a arriscar um palpite sobre qualquer futuro
Gostava mais, a única coisa que o salvava nas notas
era da professora de redação e do espaço da escrita
Lá era onde a liberdade existia e a imaginação corria solta
Seus bichos viravam gente, suas plantas conversavam
Dudu gritava e vibrava muito quando fazia gol
Xingava nomes feios e ficava puto quando perdia
O esporte preferido era pedalar na lama
De vez em quando chegava com a camisa rasgada
A bermuda cheia de terra, o cabelo molhado pra aula
Quando era muito provocado, às vezes rolava na poeira
E levava quase todo dia o mesmo lanche na merendeira
O pacote de chips, o refrigerante e o achocolatado
E a sobremesa diária, um pacote de biscoito recheado
Era o rei da bicicleta, veloz e malabarista como ele só
Aprendeu a nadar praticamente sozinho, e nadava bem
Não adiantou, em sua defesa, arrumar a mesa como convém
nem mandar uma maçã de presente para o professor
Não adiantou botar o botão de rosa recém-brotada
debaixo do caderno colorido da menina
Quando veio a nova direção e seus novos milagres
Dudu foi encaminhado ao sempre -amigo doutor
O doutor tinha outros amigos muito importantes
que lhe davam sempre muitos remédios de presente
A mãe de Dudu voltou pra casa mais contente
Promessas, orientações e uma caixa de Ritalina
Em pouco tempo, boa parte dos problemas sumiram
As notas melhoraram, desapareceram as pequenas brigas
E o pacote todo assim saía melhor que o encomendado
A coisa deu tão mas tão certo, que pra arrematar
Sumiu até o Dudu, no meio da transformação
e tomou seu lugar de uma vez por todas
um menino silencioso, organizado e bem passado
um tal de Luís Eduardo