A doença e a cura
De que valeu entregar as chaves
da casa aos próprios lobos
que, com seus desígnios rotos
trucidaram todas as formas de vida
sem pedir perdão ?
De que valeu a boa ou a má-fé
dessas nossas eternas crianças
apostando no poder do mais forte
em administrar a morte e imaginar isso
como uma ação em comum benefício?
De que valeu pensar a liberdade
como sonho isolado
de anárquica felicidade
se o pressuposto básico de ser feliz
é saber fazer feliz mais alguém?
De que valeu tentar ser zen
e continuar mistificando a realidade
ou se ajoelhar e pedir a bênça
se a realização desse mundo do além
impõe tantas perdas ao daqui que se tem?
De que valeu depositar tamanha fé
nas mãos dos senhores dos números
que, na verdade, nada produzem
apenas conduzem com suas altas taxas
a proliferação das pequenas ruínas?
De que valeu ainda
elaborar com todo cuidado
profissão, realização e missão
os mesmos conhecidos engodos
que na verdade nunca bastarão?
Passada a tormenta
(e passará, com certeza)
chegará o momento
de dissolver a máquina
ou reprogramar o sistema
Se antes alguma dúvida
pairava sobre o resultado de agir
é ao devir que o sonho se empenha
pela escolha que se avizinha necessária
e nem assim tão terrível
O capital é a terminal doença
mas ainda resta esperança
quando simultaneamente
vemos a cura e a melhor chance
dessa passagem sobre o abismo
O Socialismo, como mirada
e morada do amanhã presente
no ainda hoje, o Socialismo como
superação da coletiva e cotidiana
tragédia
O Socialismo, refundando o papel do Estado
Como meio possível para um fim inadiável
Ou isso ou mudemos de vez o canal
para tratar das vaidades vãs que nos assolam
e outros assuntos agradáveis