Íris


À minha frente
tuas íris ilesas
Acesas como corais

Navego pelos portais
ver nascer da escuridão
a radiação de um outro sol

Até onde o limite
sem se perder um marinheiro
nesses caminhos só de ida?

Buracos negros em pupilas
absorvem as vias em vida 
e as devolvem luz

Fibrilas de metal verde-azul
em sangrias de vermelho
(Quase imperceptíveis)
Espectros de violeta

Céu líquido de estrelas
a iluminar os planetas
Mapa de um DNA perdido
depois de tudo explodir

Poeira preciosa de galáxias
no descontínuo e infinito
quando o tempo não existia
e as eras se contavam
por angústias primais

Matemática de fractais
Luminosas águas do Caribe
Jorro de tintas numa tela perfeita
em seus rajados e matizes
de geometria  rarefeita

Raios que perspectivam o olhar
como encanto de estrela cadente
(O bojo da vida por veias quentes)
se explodem quando felizes
e sua luz inunda a superfície

Olhos que não fazem reféns
Aliciam a vida
a ser maior e incontida:
Destemida
Inoculando no que vive
o querer viver
e existir para ser visto

Que segredos espreitam
o mergulho nessas cúpulas de aquários
rodeadas de vida verde?

Mar incontido de objetos-luz
quando a busca e o sentido
fogem de qualquer palavra
e escapam às comparações

Íris em ilhas de luz
Portais em maré cheia
Pupilas de aura-retina
Em lágrimas de candeia

Olhos que alegres
dão nome  à alegria
e quando choram
afogam o mundo
em suas m'águas

Arrastam consigo
o desespero de poetas
em triste sina por noites insones
perseguindo estúpidas rimas
com tantas palavras vãs

Acordam assustados
na madrugada, os bardos
e correm ver à janela
a vida que cintila através dela
nessas duas estrelas-guias da manhã


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publ orig blog "Centauromaquias", nov/ 2016
 reedit "O sonho de Spinoza", livro poemas -  Reg. AVCTORIS ago/2017)