Saberes



No início, era a ciência, desde novo
A vontade de ser professor, como os pais
O amor pelos bichos e plantas
O encantamento nos olhos
Acompanhando a visão mundofora
A paixão pela professora de biologia
O amor pela Química
A vida como intensa magia
Que se desenvolve sempre por meios inauditos
E tudo aquilo que veio no caminho
Um saber bonito como aumento de força
Depois vieram  a política, a economia, a história
Picado num delicado momento de transição por
Outro grande mestre, um bardo ilustrado
Cuja memória saudosa ainda hoje inspira
A súbita e estranha vontade de adentrar
O cerne da vida humana, como ela se rege
Como surgem e funcionam suas leis
Qual a justificativa do indivíduo?
O que estrutura as coletividades, se era
Possível escapar – ou não – das maldades
Como fazer o conhecimento
Intensificar o cisco de grandeza humana
Sobre as vidas ao redor
Por fim, veio a filosofia
Muito tempo de camelo
Suportando um fardo de dois mil anos
Arapucas e quebra-cabeças fúteis
Jogos perigosos com a própria vida
Plantados nesses dois milênios
Muito bem disfarçados de sisudez
Identificando o esqueleto de tudo
A escravidão que discursa como luz
A mesma luz que atrai
e extermina incautas mariposas
Até que o leão veio um dia
Rompendo com todas as crenças
Jogando por terra falsas esperanças
E em seu bramido cortante
Abriu espaço para a criança necessária
E voltando a ser criança
O reaprender a arte de designar
Me invadiu todos os poros
Mergulhou por dentro na dissolução dos meus ossos
(porque há poesia em ser criança e nomear as coisas)
E a inversão do viver me trouxe de volta à vida
Ao redistribuir toda a noção de sentido
Quando, desconstruindo a maior parte de
Todo esse supérfluo aprendido
Retomou em meu peito a necessidade constante
Da criação – não mais a ciência, a história, a política
Definindo  o destino de estar aqui –
Mas a atitude de vida transmutada em poiesis
Contínua , como pressuposto de existir