Uma paleta gótica
Desafiando as trevas,
o signo do sangue
acende a sede do vampiro
Histórias encadernadas
emolduram o delicado rosto
mas não podem salvá-la
quando a luz do dia
não mais clareia
Antes, incitam à ceia
como um raro antepasto
de apurado gosto
Ouço as corredeiras
encobertas
Sob papéis de seda e giz
a escravizar os olhos
e alargar o desejo
(Onde irão desembocar ,
esses rios?)
Absorvendo histórias
na ponta dos dedos
ela segue distraída
como quem decide vidas
sem gastar segredos
O mundo aqui fora
como animal a arquejar
se os livros sequestram ainda que
por um segundo seu olhar
Quartzos boreais
Águas-marinhas afiadas
Adagas lavradas no mais fundo
da terra sem lume
A arma reservada para o fim
quando a vítima tornada algoz
lanha o peito da nova presa
com seu gume
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in "Goth: A Casa de Frankenstein", poemas para Mary Shelley- AVCTORIS/ nov 2019