A máquina (Economia Política, parte I)
Smith, do alto de seu iluminismo todo
achando que bastava a vontade atávica
O homem querendo levar à frente
sua própria veia empreendedora,
como no ranger das tecelagens
recém-iniciadas em sua terra natal
"Laissez faire", que haverá sempre uma
mão invisível a consertar os grandes erros
Uma racionalidade latente inscrita no
cerne da vida -- força benévola a empurrar
o humano para seu destino de grandeza
O governo servindo apenas como meio
de manter a ordem e garantir a fiscalização
de um jogo que se auto-regula
Seguiríamos assim, numa sociedade perfeita
conjugando perfeitamente meios e fins
e estaria certificada a felicidade coletiva
quando a ação, mesmo individual e egoísta
servisse de forma indireta para puxar à frente
a carga da história, em inventividade
dividindo seus dividendos livremente
com o resto da humanidade
A realidade, como sempre mais rasteira,
tratou de demonstrar, nesses últimos 200
que embora tenha se desvencilhado do
antigo regime, depondo a obsoleta monarquia
a conta nas mãos do novo sistema
era alta demais e nunca fechou
Imperialismo, massacres, miséria, destruição
retorno à escravidão real, nas dezenas de colônias
necessárias para o provimento do combustível
Ouro, prata, diamantes, carvão, óleo, negros,
índios, florestas inteiras repletas de vidas
A primeira guerra mundial coroando o novo paradigma
A atribuída subjetividade do início do processo
desaparece depois sob as necessidades do monstro
A estratégia dos grupos de poder para manter a ordem
A ingenuidade de Smith, um homem de seu tempo
Mais um iluminista, acreditando na luz errada
de uma racionalidade sem sustentação
Destruir continuamente e reconstruir passou a ser
não apenas um jogo de cena, mas uma obrigação
A realidade mutante desse outro modelo, dissolvendo
antigos elos, dessacralizando o ermo medieval
para repovoá-lo em extensas cidades-mercados
A avidez pela indispensável mão-de-obra massiva
A criação contínua de modos de vida alienantes
para encobrir permanentemente a visão do motor
(o valor- trabalho diagnosticado por Ricardo)
enquanto a força do capital se expande mundo afora
Caos nos subterrâneos de onde se produz a vida,
no chão de fábrica , na caldeira,
nas minas de carvão e petróleo
Equilíbrio simulado na outra ponta,
na administração dos fins, bancos ,
construtoras, a indústria química,
ao preço da dissimulada luz
Superfície planejada para confundir
(O destacado papel da ideologia)
A constatação óbvia de que nada disso estaria
tão ameaçado, caso o funcionamento dessas engrenagens
de fato pudesse retribuir em maior escala, por benesses
ao menos uma parte das misérias que cria no processo.
Mas no capitalismo, a acumulação
e a expropriação do excesso de trabalho não
são opcionais nem exceção.
São a regra. O sistema deles depende
Alguns raros países do norte da Europa
resolveram melhor esse aspecto
ao criarem leis rígidas que instituíram
a participação nos lucros
e a melhor distribuição de renda per capita
por um Estado Social que hoje resta
quase extinto.
Isso em nada se baseia
nalguma evolução do capitalismo, mas
muito mais na tradição comunitária
fortemente presente nesses povos, em
sua maioria teutos, germânicos
e escandinavos
Com a enorme curiosidade de, mesmo
num sistema capitalista, terem
implantado mecanismos comuns à
doutrina socialista, como o sistema
de saúde pública de qualidade e gratuito
bem como a educação pública integral
nos mesmos moldes, além de uma rigorosa
taxação dos mais ricos e imposto sobre
grandes fortunas, inserindo-se o Estado
muito maior em seu papel do que a
imprudente e "ingênua " versão
liberal de Adam Smith.
Seja como for, essa rica experiência
não vai continuar. A tendência
-- talvez a forma mais elevada de sociedade
capitalista em vista da sua organização material --
se extinguiu há vinte anos
e o que virá por aí é infinitamente pior
Isso aconteceu mais a partir da
homologação de políticas radicalmente
neoliberais, comandadas principalmente
por bancos &cia., na formação da Zona do Euro,
ao unir a Europa em torno de um mercado
de nações e assim estabeleceu metas comuns
aos integrantes, acirrando mais ainda
a competição empresarial
e tornando mais ávida a lucratividade,
porque cientes da condição geopolítica mundial
onde cada país europeu individualmente
não teria condições de competir com os grandes
blocos recém-formados
por América do Norte, de um lado, e
China de outro, sem falar na proposta
do Mercosul, que se tivesse vingado
exatamente da forma planejada
seria, por si só, uma potência, e
lhes traria outros prejuízos
O sistema não muda o tom, ele sempre necessita
dessas vidas para se movimentar , e mascara
a fonte de suas riquezas, reproduzindo
no status dos viventes a ilusão
de que vivem deliberando sobre si mesmos
E é justamente por essa sede insaciável, parte necessidade
tornada agora subjetiva, de meia dúzia de sujeitos que mandam,
parte maior em força objetiva e histórica que os obriga em
grande a agirem de acordo com as regras de acumulação
A concentração progressiva, driblando mecanismos fracos
de distribuição e mitigação da miséria, criando outras misérias
Subjugando nações e povos inteiros nesse caminho
Tornaram-se tão poderosos e objetivamente frios esses mecanismos
necessariamente caminhando para conglomerados transnacionais
que não apenas criam espaços e novas possibilidades de valorização
mas submetem no processo qualquer individualidade humana,
Simulam inteligentemente celebrar nichos e diversidade
quando na verdade precisam de robôs conformados para tocar o barco
(Seja o que você "quiser" ou puder nos fins de semana, ou nas horas fora
do trabalho, mas esteja aqui na segunda de manhã,
de banho tomado e pronto a dar sua energia)
As lutas de grupos específicos, pontuais,
passam a ser relevantes nesse contexto ,
mesmo se infiltrando apenas
na delimitação de territórios e modos
de agir e pensar entre eles próprios
sem compreenderem com maior
aprofundamento a raiz que permanecerá
intocada, nutrido um outro tronco
Embora trágica a confrontação dos robôs
que tocam e oxigenam a máquina, e
algumas lutas tenham enorme justificativa
de contexto, tudo semelha no fim um filme de Mad Max,
com tribos ensandecidas se matando por água
e petróleo num futuro apocalíptico
enquanto subjaz um sistema incólume
cuja essência jamais é confrontada com robustez
Consciência de si, seja em grupo ou individual
ainda não é ação combativa contra o status específico
Os grupos se tornam menos perigosos
ao sistema não porque não possuam
força ou capacidade de luta,
mas porque não enxergam muito bem
quem é e onde de fato está seu inimigo
e assim dissipam-se, sem maiores efeitos
virando poeira no tempo
Na melhor das hipóteses, terão
conquistado novos espaços
de deslocamento dentro do âmbito
da própria máquina
Serão ainda repetidores, em outra escala
As lutas identitárias, tomadas isoladamente,
embora em parte signifiquem
consciência grupal e afirmação de valores,
além de resistência contra o nó reiterado
que os aperta no caminho da pasteurização
de suas experiências particulares no mundo,
será pouco ou nada para a máquina
que na verdade nunca as tirou de vista,
e muito além disso, criou alternativas disponíveis
e consumíveis para o espaço de sua ação,
ao acolher a simulação de rebeldia, mas sabendo-as inócuas.
O consumo da idéia de liberdade,
hoje tomada como uma perspectiva histórica,
talvez tenha sido uma das armas mais letais
contra a implementação de fato das liberdades
[ ponto nevrálgico da crítica marxista a Sartre]
Exemplo: ser negro em movimento afirmativo, GLBT, feminista, ambientalista, hippie alternativo, vegano, artista esteta isolado em seu mundo, ou tudo isso junto e misturado, constituem realidades existenciais e políticas válidas e plenas de justificativas. Afirmam-se no fim como liberdades individuais ou de grupos contra opressores tacanhos e poderosos ao longo da história. Mas não podem se tornar realidades que se esgotem em si mesmas, para não morrerem antes do tempo, e é o que ocorrerá se não houver um contexto maior que as recoloque ao real vivido que possui raízes muito mais profundas. Esses grupos não estão impedidos de se coligarem por causas comuns e serão uma potência na hipótese de se movimentarem conjuntamente, mas isso raramente ocorre, porque há uma tendência de se dirigirem a seu próprio mundo, de forma hermética e muitas vezes confundidos pelo próprio sistema, que lhes dará em algum momento alguma mercadoria personalizada pra consumo.
Assim , começando desde muito cedo,
na órbita familiar repetidora de valores de conformação,
na igreja, na escola, no quartel , no trabalho, no "Show de Truman"
da vida cotidiana , o sistema está sempre tentando ceifar
as diferenças de significação existencial e política,
extinguir particularidades culturais, sexuais, étnicas,
raciais, existenciais, morais, enfim -- quando a fileira de produção
em massa se faz necessária--
tudo para que a população que precisa alimentar as caldeiras
jamais termine de ser fornecida e dotada de um pensamento
uniforme e corpos disponíveis, moldáveis e dóceis
Há idiossincrasias na vida pessoal
mas no exercício cotidiano dos movimentos
são outras as cartas na mesa
E valores arcaicos, mesmo não pronunciados,
são os que direcionam o processo
Traduzindo: pintam a escravidão
continuamente de novas cores
Há um paradoxo aí, que talvez se bem
aproveitado, através de sua condição
anárquica poderia incendiar a caldeira
e fazer mudar ao funcionamento
achando que bastava a vontade atávica
O homem querendo levar à frente
sua própria veia empreendedora,
como no ranger das tecelagens
recém-iniciadas em sua terra natal
"Laissez faire", que haverá sempre uma
mão invisível a consertar os grandes erros
Uma racionalidade latente inscrita no
cerne da vida -- força benévola a empurrar
o humano para seu destino de grandeza
O governo servindo apenas como meio
de manter a ordem e garantir a fiscalização
de um jogo que se auto-regula
Seguiríamos assim, numa sociedade perfeita
conjugando perfeitamente meios e fins
e estaria certificada a felicidade coletiva
quando a ação, mesmo individual e egoísta
servisse de forma indireta para puxar à frente
a carga da história, em inventividade
dividindo seus dividendos livremente
com o resto da humanidade
A realidade, como sempre mais rasteira,
tratou de demonstrar, nesses últimos 200
que embora tenha se desvencilhado do
antigo regime, depondo a obsoleta monarquia
a conta nas mãos do novo sistema
era alta demais e nunca fechou
Imperialismo, massacres, miséria, destruição
retorno à escravidão real, nas dezenas de colônias
necessárias para o provimento do combustível
Ouro, prata, diamantes, carvão, óleo, negros,
índios, florestas inteiras repletas de vidas
A primeira guerra mundial coroando o novo paradigma
A atribuída subjetividade do início do processo
desaparece depois sob as necessidades do monstro
A estratégia dos grupos de poder para manter a ordem
A ingenuidade de Smith, um homem de seu tempo
Mais um iluminista, acreditando na luz errada
de uma racionalidade sem sustentação
Destruir continuamente e reconstruir passou a ser
não apenas um jogo de cena, mas uma obrigação
A realidade mutante desse outro modelo, dissolvendo
antigos elos, dessacralizando o ermo medieval
para repovoá-lo em extensas cidades-mercados
A avidez pela indispensável mão-de-obra massiva
A criação contínua de modos de vida alienantes
para encobrir permanentemente a visão do motor
(o valor- trabalho diagnosticado por Ricardo)
enquanto a força do capital se expande mundo afora
Caos nos subterrâneos de onde se produz a vida,
no chão de fábrica , na caldeira,
nas minas de carvão e petróleo
Equilíbrio simulado na outra ponta,
na administração dos fins, bancos ,
construtoras, a indústria química,
ao preço da dissimulada luz
Superfície planejada para confundir
(O destacado papel da ideologia)
A constatação óbvia de que nada disso estaria
tão ameaçado, caso o funcionamento dessas engrenagens
de fato pudesse retribuir em maior escala, por benesses
ao menos uma parte das misérias que cria no processo.
Mas no capitalismo, a acumulação
e a expropriação do excesso de trabalho não
são opcionais nem exceção.
São a regra. O sistema deles depende
Alguns raros países do norte da Europa
resolveram melhor esse aspecto
ao criarem leis rígidas que instituíram
a participação nos lucros
e a melhor distribuição de renda per capita
por um Estado Social que hoje resta
quase extinto.
Isso em nada se baseia
nalguma evolução do capitalismo, mas
muito mais na tradição comunitária
fortemente presente nesses povos, em
sua maioria teutos, germânicos
e escandinavos
Com a enorme curiosidade de, mesmo
num sistema capitalista, terem
implantado mecanismos comuns à
doutrina socialista, como o sistema
de saúde pública de qualidade e gratuito
bem como a educação pública integral
nos mesmos moldes, além de uma rigorosa
taxação dos mais ricos e imposto sobre
grandes fortunas, inserindo-se o Estado
muito maior em seu papel do que a
imprudente e "ingênua " versão
liberal de Adam Smith.
Seja como for, essa rica experiência
não vai continuar. A tendência
-- talvez a forma mais elevada de sociedade
capitalista em vista da sua organização material --
se extinguiu há vinte anos
e o que virá por aí é infinitamente pior
Isso aconteceu mais a partir da
homologação de políticas radicalmente
neoliberais, comandadas principalmente
por bancos &cia., na formação da Zona do Euro,
ao unir a Europa em torno de um mercado
de nações e assim estabeleceu metas comuns
aos integrantes, acirrando mais ainda
a competição empresarial
e tornando mais ávida a lucratividade,
porque cientes da condição geopolítica mundial
onde cada país europeu individualmente
não teria condições de competir com os grandes
blocos recém-formados
por América do Norte, de um lado, e
China de outro, sem falar na proposta
do Mercosul, que se tivesse vingado
exatamente da forma planejada
seria, por si só, uma potência, e
lhes traria outros prejuízos
O sistema não muda o tom, ele sempre necessita
dessas vidas para se movimentar , e mascara
a fonte de suas riquezas, reproduzindo
no status dos viventes a ilusão
de que vivem deliberando sobre si mesmos
E é justamente por essa sede insaciável, parte necessidade
tornada agora subjetiva, de meia dúzia de sujeitos que mandam,
parte maior em força objetiva e histórica que os obriga em
grande a agirem de acordo com as regras de acumulação
A concentração progressiva, driblando mecanismos fracos
de distribuição e mitigação da miséria, criando outras misérias
Subjugando nações e povos inteiros nesse caminho
Tornaram-se tão poderosos e objetivamente frios esses mecanismos
necessariamente caminhando para conglomerados transnacionais
que não apenas criam espaços e novas possibilidades de valorização
mas submetem no processo qualquer individualidade humana,
Simulam inteligentemente celebrar nichos e diversidade
quando na verdade precisam de robôs conformados para tocar o barco
(Seja o que você "quiser" ou puder nos fins de semana, ou nas horas fora
do trabalho, mas esteja aqui na segunda de manhã,
de banho tomado e pronto a dar sua energia)
As lutas de grupos específicos, pontuais,
passam a ser relevantes nesse contexto ,
mesmo se infiltrando apenas
na delimitação de territórios e modos
de agir e pensar entre eles próprios
sem compreenderem com maior
aprofundamento a raiz que permanecerá
intocada, nutrido um outro tronco
Embora trágica a confrontação dos robôs
que tocam e oxigenam a máquina, e
algumas lutas tenham enorme justificativa
de contexto, tudo semelha no fim um filme de Mad Max,
com tribos ensandecidas se matando por água
e petróleo num futuro apocalíptico
enquanto subjaz um sistema incólume
cuja essência jamais é confrontada com robustez
Consciência de si, seja em grupo ou individual
ainda não é ação combativa contra o status específico
Os grupos se tornam menos perigosos
ao sistema não porque não possuam
força ou capacidade de luta,
mas porque não enxergam muito bem
quem é e onde de fato está seu inimigo
e assim dissipam-se, sem maiores efeitos
virando poeira no tempo
Na melhor das hipóteses, terão
conquistado novos espaços
de deslocamento dentro do âmbito
da própria máquina
Serão ainda repetidores, em outra escala
As lutas identitárias, tomadas isoladamente,
embora em parte signifiquem
consciência grupal e afirmação de valores,
além de resistência contra o nó reiterado
que os aperta no caminho da pasteurização
de suas experiências particulares no mundo,
será pouco ou nada para a máquina
que na verdade nunca as tirou de vista,
e muito além disso, criou alternativas disponíveis
e consumíveis para o espaço de sua ação,
ao acolher a simulação de rebeldia, mas sabendo-as inócuas.
O consumo da idéia de liberdade,
hoje tomada como uma perspectiva histórica,
talvez tenha sido uma das armas mais letais
contra a implementação de fato das liberdades
[ ponto nevrálgico da crítica marxista a Sartre]
Exemplo: ser negro em movimento afirmativo, GLBT, feminista, ambientalista, hippie alternativo, vegano, artista esteta isolado em seu mundo, ou tudo isso junto e misturado, constituem realidades existenciais e políticas válidas e plenas de justificativas. Afirmam-se no fim como liberdades individuais ou de grupos contra opressores tacanhos e poderosos ao longo da história. Mas não podem se tornar realidades que se esgotem em si mesmas, para não morrerem antes do tempo, e é o que ocorrerá se não houver um contexto maior que as recoloque ao real vivido que possui raízes muito mais profundas. Esses grupos não estão impedidos de se coligarem por causas comuns e serão uma potência na hipótese de se movimentarem conjuntamente, mas isso raramente ocorre, porque há uma tendência de se dirigirem a seu próprio mundo, de forma hermética e muitas vezes confundidos pelo próprio sistema, que lhes dará em algum momento alguma mercadoria personalizada pra consumo.
Assim , começando desde muito cedo,
na órbita familiar repetidora de valores de conformação,
na igreja, na escola, no quartel , no trabalho, no "Show de Truman"
da vida cotidiana , o sistema está sempre tentando ceifar
as diferenças de significação existencial e política,
extinguir particularidades culturais, sexuais, étnicas,
raciais, existenciais, morais, enfim -- quando a fileira de produção
em massa se faz necessária--
tudo para que a população que precisa alimentar as caldeiras
jamais termine de ser fornecida e dotada de um pensamento
uniforme e corpos disponíveis, moldáveis e dóceis
Há idiossincrasias na vida pessoal
mas no exercício cotidiano dos movimentos
são outras as cartas na mesa
E valores arcaicos, mesmo não pronunciados,
são os que direcionam o processo
Traduzindo: pintam a escravidão
continuamente de novas cores
Há um paradoxo aí, que talvez se bem
aproveitado, através de sua condição
anárquica poderia incendiar a caldeira
e fazer mudar ao funcionamento
da máquina, de forma mais justa
mas basta uma boa olhada ao redor
para saber que nem de longe é o momento.
Simplesmente porque a tal consciência
coletiva, seja de classe ou função, é
cada vez mais uma abstração. As pessoas
não se enxergam em condições de igualdade
diante de um trabalho tão bem feito
pelas ideologias
Nesse sentido, os sindicatos e as greves é
que seriam os mais poderosos instrumentos,
mas depois de uma grande transformação
nas últimas duas décadas, -- algumas mudanças
bem ruins, tanto nas estruturas funcionais
quanto do sistema de leis -- ou foram extintos
ou tiveram sua atuação dizimada na prática
Hà um trabalho de longo prazo que não foi feito.
Seguimos em trevas neste hemisfério,
induzidos por uma política insana
acuados por uma praga biológica e
ainda sem a menor perspectiva real
de melhoras ou de um campo de ação
Nosso tempo, em dissonância absoluta com as conquistas
tecnológicas incríveis, -- hipoteticamente apontadas, lá atrás como
possíveis atenuantes ou desviantes do curso maligno da exploração--
caminham cada vez mais para a mais bruta e cruel exploração
de tudo que vive, de uma forma como jamais se viu na história
O mundo da liberdade pós-revolução francesa
prometeu acabar com a miséria
e as tragédias que habitavam massivamente
o espaço das monarquias
A mais recente revolução tecnológica
-- essa da informação, computadores etc --
voltou a prometer mudanças estruturais
que logo em seguida se mostraram um engodo
A bem dizer, o capitalismo só fez piorar
a condição humana em larga escala
E isso por uma razão simplória:
Embora tenha na justificativa
a alegação de aumentar a riqueza,
ele produz continuadamente um excesso
de miséria mundo afora, porque
precisa dela, em última instância,
para se manter
A extrema crise de fundamentos de 2008
-- que botou em xeque simplesmente sua
parte mais ostensiva e danosa, o capital financeiro--
poderia ter lançado tudo ao chão, mas
incrivelmente essa capacidade de superação
ao incorporar fragmentos dos próprios erros
como vacinas e estender novos tentáculos
de valorização do capital ao resto do planeta
faz da máquina algo difícil de ser confrontada
Acontece que a máquina é como aquele cyborg
que ora é representado pelo ator Schwarzenegger
ora é o Schwarzenegger que luta contra ele
no filme "O exterminador do futuro"
A máquina simplesmente se recusa a morrer
A melhor argumentação pró-sistema, que hoje virou o novo normal
é convencer o cidadão médio de que tudo sempre foi assim.
A morte da historicidade, e a ignorância de suas causas
desencadeantes, faz com que tudo se mantenha em seu lugar.
Mais, faz com que a maior parte da população ainda defenda
esse modo absurdo de produção da realidade como o único
e o melhor possível. Eles desenvolvem o medo de perder
justamente a doença que mais os está matando
A racionalidade que habita os modos de produção e a evolução
da tecnologia como necessidade estrutural inafastável
contradizem visceralmente o irracional de toda a exploração
continuada e sistemática, porque simplesmente não podem
e não querem deixar de ser assim. No mundo tornado mercado
tudo o mais é mercadoria, material ou imaterial, e em geral
segue padrões no destino. Não há filantropia ou pessoa de bem
que, praticando virtudes humanitárias, possa reprogramar o ciclo
Esse mundo criado depois da Revolução Francesa chega a cada dia
mais próximo do seu fim. E precisa chegar mesmo, porque se
tornou insustentável sua manutenção, sob qualquer condição,
e não há reforma possível que dê jeito, porque não se trata mais
de consertar aqui e ali uma peça defeituosa que, uma vez sanada
traria de volta um suposto brilho da máquina e a beleza do conjunto
O ponto agora é que, para a continuidade da existência do próprio planeta
tornou-se inadiável substituir essa máquina por alguma outra coisa
E isso vai acontecer, não demora muito, nos argumentos
(improvável, diante da torpeza da era) ou na porrada
(mais provável, diante do esgotamento dos demais recursos)
Não se trata mais -- talvez nunca tenha sido, de fato -- da ação de
heróis, temerários ou populistas agentes sempre a darem as caras
nas horas certas para simulação da foto necessária de jornal
Vai ruir mesmo é porque, talvez pela primeira vez, chegou-se a uma noção
de que globalmente a situação toda não pode ser mais prorrogada
(coisa que já vem sendo aventada por figurões do mercado que ,
diferentemente da grossa maioria, consegue pensar à frente no mundo
do capital, prospectando tendências e criando novas linguagens)
Obviamente que eles não fazem isso por bem nenhum da coletividade
mas apenas por prudência e uma inteligência pragmática e lógica
simplesmente porque aprenderam a somar
A questão que se põe é: como fazer com que a história tenha sido
aprendizado, laboratório de erros, inspirando um conjunto de
ações e procedimentos para sua superação sem que seja necessário
dizimar metade ou mais da população mundial em guerras sem sentido?
Não existe outra perspectiva de mudança da ordem que não seja política. Não importa muito o meio prático com que isso seja difundido, -- virtual, real, físico- mas sempre buscando agregação em torno de uma plataforma significativa de vontades convergentes, porque não se muda o mundo sozinho.
E dentro das políticas históricas, nenhuma vai direto ao nervo se não tocar na questão econômica, e tocando na questão econômica, não há como imaginar um outro planeta se não for alterada abruptamente a forma de exploração, seja direta, da natureza, ou do trabalho, recolocando-as em outro patamar. Na escala em que se encontra, toda forma de vida está gravemente ameaçada nos próximos cinquenta anos, se não menos.
Daí que não existe a quem essa discussão não interessa, porque estamos todos no mesmo barco, sabendo ou não. Querendo ou não. E a coisa vai piorar muito daqui por diante. E a saída é uma só: embora caiba a cada nação estabelecer na sua realidade própria a conjugação de fatores que a possa fazer superar as adversidades, sabendo-se ao mesmo tempo, desde sempre que a estrutura que move tudo também não respeita países, o fato é que não há como superar essa realidade, a total falência do antigo sistema, capitalista, sem mudar seu eixo de produção e repetição das nossas formas de vida, individuais ou coletivas.
Apenas uma visão socialista, embora imperfeita como todos os sistemas políticos, e frisando-se sua natureza de participação popular e não-stalinista, portanto não-ditatorial, um socialismo democrático e libertador possui -- com grande vantagem sobre as demais opções -- os elementos necessários para operar na prática essas necessárias transformações.
mas basta uma boa olhada ao redor
para saber que nem de longe é o momento.
Simplesmente porque a tal consciência
coletiva, seja de classe ou função, é
cada vez mais uma abstração. As pessoas
não se enxergam em condições de igualdade
diante de um trabalho tão bem feito
pelas ideologias
Nesse sentido, os sindicatos e as greves é
que seriam os mais poderosos instrumentos,
mas depois de uma grande transformação
nas últimas duas décadas, -- algumas mudanças
bem ruins, tanto nas estruturas funcionais
quanto do sistema de leis -- ou foram extintos
ou tiveram sua atuação dizimada na prática
Hà um trabalho de longo prazo que não foi feito.
Seguimos em trevas neste hemisfério,
induzidos por uma política insana
acuados por uma praga biológica e
ainda sem a menor perspectiva real
de melhoras ou de um campo de ação
Nosso tempo, em dissonância absoluta com as conquistas
tecnológicas incríveis, -- hipoteticamente apontadas, lá atrás como
possíveis atenuantes ou desviantes do curso maligno da exploração--
caminham cada vez mais para a mais bruta e cruel exploração
de tudo que vive, de uma forma como jamais se viu na história
O mundo da liberdade pós-revolução francesa
prometeu acabar com a miséria
e as tragédias que habitavam massivamente
o espaço das monarquias
A mais recente revolução tecnológica
-- essa da informação, computadores etc --
voltou a prometer mudanças estruturais
que logo em seguida se mostraram um engodo
A bem dizer, o capitalismo só fez piorar
a condição humana em larga escala
E isso por uma razão simplória:
Embora tenha na justificativa
a alegação de aumentar a riqueza,
ele produz continuadamente um excesso
de miséria mundo afora, porque
precisa dela, em última instância,
para se manter
A extrema crise de fundamentos de 2008
-- que botou em xeque simplesmente sua
parte mais ostensiva e danosa, o capital financeiro--
poderia ter lançado tudo ao chão, mas
incrivelmente essa capacidade de superação
ao incorporar fragmentos dos próprios erros
como vacinas e estender novos tentáculos
de valorização do capital ao resto do planeta
faz da máquina algo difícil de ser confrontada
Acontece que a máquina é como aquele cyborg
que ora é representado pelo ator Schwarzenegger
ora é o Schwarzenegger que luta contra ele
no filme "O exterminador do futuro"
A máquina simplesmente se recusa a morrer
A melhor argumentação pró-sistema, que hoje virou o novo normal
é convencer o cidadão médio de que tudo sempre foi assim.
A morte da historicidade, e a ignorância de suas causas
desencadeantes, faz com que tudo se mantenha em seu lugar.
Mais, faz com que a maior parte da população ainda defenda
esse modo absurdo de produção da realidade como o único
e o melhor possível. Eles desenvolvem o medo de perder
justamente a doença que mais os está matando
A racionalidade que habita os modos de produção e a evolução
da tecnologia como necessidade estrutural inafastável
contradizem visceralmente o irracional de toda a exploração
continuada e sistemática, porque simplesmente não podem
e não querem deixar de ser assim. No mundo tornado mercado
tudo o mais é mercadoria, material ou imaterial, e em geral
segue padrões no destino. Não há filantropia ou pessoa de bem
que, praticando virtudes humanitárias, possa reprogramar o ciclo
Esse mundo criado depois da Revolução Francesa chega a cada dia
mais próximo do seu fim. E precisa chegar mesmo, porque se
tornou insustentável sua manutenção, sob qualquer condição,
e não há reforma possível que dê jeito, porque não se trata mais
de consertar aqui e ali uma peça defeituosa que, uma vez sanada
traria de volta um suposto brilho da máquina e a beleza do conjunto
O ponto agora é que, para a continuidade da existência do próprio planeta
tornou-se inadiável substituir essa máquina por alguma outra coisa
E isso vai acontecer, não demora muito, nos argumentos
(improvável, diante da torpeza da era) ou na porrada
(mais provável, diante do esgotamento dos demais recursos)
Não se trata mais -- talvez nunca tenha sido, de fato -- da ação de
heróis, temerários ou populistas agentes sempre a darem as caras
nas horas certas para simulação da foto necessária de jornal
Vai ruir mesmo é porque, talvez pela primeira vez, chegou-se a uma noção
de que globalmente a situação toda não pode ser mais prorrogada
(coisa que já vem sendo aventada por figurões do mercado que ,
diferentemente da grossa maioria, consegue pensar à frente no mundo
do capital, prospectando tendências e criando novas linguagens)
Obviamente que eles não fazem isso por bem nenhum da coletividade
mas apenas por prudência e uma inteligência pragmática e lógica
simplesmente porque aprenderam a somar
A questão que se põe é: como fazer com que a história tenha sido
aprendizado, laboratório de erros, inspirando um conjunto de
ações e procedimentos para sua superação sem que seja necessário
dizimar metade ou mais da população mundial em guerras sem sentido?
Não existe outra perspectiva de mudança da ordem que não seja política. Não importa muito o meio prático com que isso seja difundido, -- virtual, real, físico- mas sempre buscando agregação em torno de uma plataforma significativa de vontades convergentes, porque não se muda o mundo sozinho.
E dentro das políticas históricas, nenhuma vai direto ao nervo se não tocar na questão econômica, e tocando na questão econômica, não há como imaginar um outro planeta se não for alterada abruptamente a forma de exploração, seja direta, da natureza, ou do trabalho, recolocando-as em outro patamar. Na escala em que se encontra, toda forma de vida está gravemente ameaçada nos próximos cinquenta anos, se não menos.
Daí que não existe a quem essa discussão não interessa, porque estamos todos no mesmo barco, sabendo ou não. Querendo ou não. E a coisa vai piorar muito daqui por diante. E a saída é uma só: embora caiba a cada nação estabelecer na sua realidade própria a conjugação de fatores que a possa fazer superar as adversidades, sabendo-se ao mesmo tempo, desde sempre que a estrutura que move tudo também não respeita países, o fato é que não há como superar essa realidade, a total falência do antigo sistema, capitalista, sem mudar seu eixo de produção e repetição das nossas formas de vida, individuais ou coletivas.
Apenas uma visão socialista, embora imperfeita como todos os sistemas políticos, e frisando-se sua natureza de participação popular e não-stalinista, portanto não-ditatorial, um socialismo democrático e libertador possui -- com grande vantagem sobre as demais opções -- os elementos necessários para operar na prática essas necessárias transformações.