Gerações

A tradicional identificação etária é sempre uma coisa idiota 

Não me identifico com a maioria dos caras -- nem com a maioria das garotas -- da minha geração

Falam uma língua que não compreendo

(Ou talvez não aceite e meu ser se recuse a processar)

A prova final dessa hecatombe existencial para mim foi quando participei da última e malfadada reunião da turma da escola do ano tal, reunindo os escombros do que muitas vezes nem era para ter sido, não fosse um senso de humor sarcástico do destino. Terror .

Você enche a cara pra aguentar tanta baboseira, conversa fútil, o açoite político na forma de opinião de bebum  e as inevitáveis comparações do que consideram sucesso pessoal em todos os campos possíveis e que costumam vir disfarçadas de um jeito nada sutil, daí depois de muito churrasco de carne dura, cerveja quente e música ruim, dá uma despistada pra ir ao banheiro e some.

Não por acaso, numa pesquisa posterior no mesmo grupo whatsapp dessa turma do qual saí sem ter feito qualquer postagem depois de incríveis duas semanas de resistência, percebi que em torno de 70 a 80% são eleitores e/ou apoiadores do atual governo fascista. 

Mas nem é só por isso. Podia ter Deus na governança,  e a coisa continuaria sendo essa merda

A questão é que eles se apegam a valores inacreditáveis, de tão toscos e duros e enfronhados em uma visão tacanha de mundo da qual rezei a vida inteira para me manter bem distante

Alguns outros, mais perdidos, e por razões nem sempre simples, querem retornar à adolescência mal vivida e se extenuam para fazer isso de uma forma exterior, apenas. Sem trazer a fúria hormonal e existencial  do questionamento e das descobertas que fazem da adolescência essa poesia intensa nem sempre compreendida a tempo 

O que querem, além de reafirmar sempre os mesmos piores modos de se conseguir as coisas? São réplicas dos pais , sem um pingo de originalidade.  Mesmo aqueles que cantavam hinos de rock protesto e causavam de rebeldes a toda prova e agora deusmelivre de sintetizar o conceito 

Desaprenderam a dizer não 

Nunca aprenderam um verdadeiro  sim


E seguem sendo, com raras e preciosas 

exceções,

engrenagens dentro das engrenagens

sem nem perceberem que são 


A surpresa veio por conta dos filhos deles

Que gratidão e beleza ver que, neles ao menos, aquela sequência genômica de eloquente vazio respaldado por instituições ou a mais comum resignação muda e impotente, mesmo antes de se porem em marcha para qualquer direção, ja estão dissolvidos, e a força  aponta para outras formas.

Não há como se enganar a essas alturas.  Viveremos uma era onde a imaginação e a capacidade criativa é que vão doar seu sentido para um mundo assolado pelo cinza

E certamente não será essa minha triste geração que vai causar essa mudança