O tempo do verbo

Stalinista de cú é rola


Apenas para delinear filosófico-anatomicamente

a pseudodiscussão recentemente surgida nas redes

após um evento-pop mal ajambrado que trouxe

novamente a relativização da barbárie à baila


Caetano e sua costumeira prolixidade e entroncamentos de falas complexas a desencadear -- nos que esperam esse sinal há tempos-- o gosto por defender o indefensável e ao chamar às luzes o historiador Jones Manoel, que por tabela traz o monstro Stalin de volta à vida como mocinho virtuoso injustiçado pela história 

Embora as falas do historiador sejam bastante claras nesse sentido, não vi sequer uma formulação mais sólida ou uma transparência de intenções por parte do artista, a não ser um viés (que eu penso muito válido) de autocrítica através da visão marxista quanto à sua antiga fé "liberalóide", como ele mesmo disse, mas enfim a polêmica está criada -- certamente pela falta de assuntos mais urgentes --


É absolutamente inacreditável o malabarismo que se faz para maquiar o óbvio

e fazê-lo passar por um prato palatável. Contorções, distorções, manipulação

de lógica barata que faz a prestidigitação parecer algo miraculoso aos olhos ingênuos

Misturando conceitos dialéticos a um mundo de lógica simbólica e formal

ou pior: fazendo a transposição espúria da lógica simbólica para o mundo, como se

o mundo -- o real -- suportasse em qualquer de suas instâncias a adaptação maligna

de qualquer previsibilidade mecânica e lógica ao cerne de sua movimentação


Sejamos menos ingênuos em nossa sede de mudanças

O básico do básico argumentativo pela coerência é:

Como me legitimarei no ataque ao fascismo

se no meu próprio quintal abrigo quimeras?


O mesmo Estado, tão atacado na crítica ao neoliberalismo

por estar desviado de suas funções mais nobres

quando ele deixa de servir de meio pactual

para prover condições dignas de vida coletiva


Deveria, então, crescer mais umas mil vezes

e -- da mesma forma -- ser apropriado por meia dúzia

e continuar servindo, não importa a nova cor da  bandeira,

à mesma causa de exploração e aprisionamento da vida?


Não importa o nome, a cor ou o tamanho do partido

Não existe justificativa para a barbárie

a não ser que não enxerguemos mais 

por nos termos tornado também bárbaros


Como continuarei xingando Hitler até o final dos tempos

Se em minha fala se escondem tramas imperdoáveis

de leniência com tiranos de tal e qual porte?


Marx é um pensador fundamental, cuja obra resplandece

Mais ainda, depois da recente guinada do capital internacional buscando retrocessos sociais notórios, juridicos e econômicos, associados a uma forma mais segura de valorização sem ser perturbado por perigosas massas questionadoras 

O que lembra muito o passado macabro, nos primórdios da revolução industrial

Não há qualquer relação entre Stalinismo e Marxismo do ponto de vista teórico,  trata-se de absurda distorção, ainda que integrante da experiência russa do "socialismo real". 


Aprendamos com Lênin as boas lições

A dissidência de Trotski e outros é rica

e não merece ser desperdiçada

assim como as intenções presentes

nas razões e  na origem da revolução

 russa, da revolução  cubana


A tomar como parâmetro o nível 

do debate encarniçado que surgiu 

nas redes na sequência, e o número 

de Stalinistas emergindo das tocas e empolgados,

defendendo a ortodoxia da revolução 

soviética no pós-guerra até os finalmentes, 

é notória a aberração. O resto fica  como recado

para as bestas que insistem em não

enxergar qualquer diferença entre 

uma coisa e outra coisa: pois há, sim,

enormes diferenças, e há seguidores cegos, aflitos para seguirem qualquer doutrina 


No fundo, talvez não haja Capitalismos, quando se observa no planeta

o resultado último da força que opera a motriz histórica . O "caso nórdico " não chega a ser uma variação confiável em termos de direcionamento, por se tratar muito mais de um passo fora do capitalismo, incorporado de noções coletivas de fundamentação comunitária da história desses povos e nas conquistas mundiais dos trabalhadores durante dois séculos de luta

No capitalismo, indistintamente, tudo é destruição e dor, e miséria espalhada

para o homem, para os bichos, para a natureza. Persistir neste erro é não

respeitar a vida


Há diversos socialismos em pauta

E a melhor tese sobre isso é compreender, desde já,

que a busca deve ser por suplantar o capitalismo 

em todas as suas mazelas, começando pela humana