Saúde e paz
Ser ético com tudo que vive
Plantas, pessoas, animais
Alcançar a mente livre e tranquila
Mesmo nos turbilhões
(Cotidianos exercícios)
Compreender até bem demais
os processos que nos tocam
Absorver o que está à nossa volta
(perto ou longe) -- As vantagens
do tempo
no aprimoramento da percepção
Acalentar isso como uma espécie de segredo
Sentir incessar o movimento do mundo
e se encantar com a beleza de tudo
Mesmo na dor
A chance de ter vivido para ver
como cada um é também poeta
em suas próprias ações, afirmando
ou negando o pulso
É a lida na pedra, que aflige tem hora
É a doença que ameaça
É o medo querendo morada
O pavor de não saber viver
que nos recônditos se manifesta
nos momentos de tédio e silêncio
mesmo quando grita coragem
Ora, todos sabemos viver, no fundo
E somos corajosos também
Mas é preciso saúde e alguma paz
E Força para continuar navegando
Sem achar que o mundo nos deve
qualquer favor em particular
E não ter que carregar
qualquer dívida imaginária
mesmo que as dúvidas não calem seu fragor
Não alimente o rancor
Não se torne uma criatura moralista
nem faça julgamentos rasos
(O que temos do outro não é a verdade
mas apenas uma suposição -- e às vezes
beira o delírio)
Não seja presa nas garras de qualquer religião
nem escravo de políticas más que mais
soam como açoite
Não cresça na calada da noite
às costas de um outro nome
sabendo que o calunia
(Apenas o vivente sabe
a medida de sua balança)
Exercite o olhar que vai além
Olhar que vai sobre
E vai longe
E vai através das coisas
Deixe de lado essas pequenas invejas
e abra mão de estratagemas
de qualquer natureza
Em certo sentido estamos todos perdidos
e no mesmo barco
Ainda assim se vive, tentando e errando
(Que não seja um erro mesquinho)
Peça perdão sempre que necessário
quando, depois do calor na voz,
ficar clara a extensão do dano
E mesmo que não pareça tamanho
diante da ausência de intenção
Ainda assim peça perdão
Não se desculpe quando o coração
sabe que -- nem de longe -- foi
proferida qualquer ofensa
Ontem, hoje, amanhã
Com o tempo, isso fica claro
Admita os próprios equívocos
Talvez algumas interpretações
é que tenham sido ruins
Talvez tenham buscado, as intenções
excessivamente passionais
outros canais que não se comunicam
Mágoas no lugar errado
Talvez a metáfora do artista tenha sido fraca
(E todos que se julgam artistas sabem como dói)
Talvez sua própria arte fosse infeliz
Talvez as peles é que tenham andado
muito finas em um mundo muito duro
Saber, no balaio do que ficou
quando a força que restou pertence mais
ao terreno dos afetos enfim
Gosto, amizade, encanto sempre ficam
porque são infensos às maldições
e não são sentimentos menores
Impressões se transformam
à medida em que muda também o olhar
(E olhares mudam)
Ficam os sorrisos e as perguntas bobas
Especulações e curiosidade
como se tem acerca da vida
A Paz por dentro,
como necessidade
e que só resulta da criação
Germe, busca
uma espécie de equilíbrio
guardando energia para quando for preciso
(E vai ser preciso, logo ali na frente, quando
todos os fios de cabelo branquearem)
Deixe, em definitivo
as negatividades, o rangedentes
e o rogapragas para quem é disso
Somos ricos em propósitos
e nascemos para outras sendas
Somos sobretudo poetas
e vivemos muitas vidas em uma só
Que as insistentes e assustadoras perdas
Tão normalizadas e generalizadas
Nesses nossos dias difíceis
não nos peguem sendo pequenos
em nenhum momento
Sejamos dignos delas, sempre
Dignos da vida, dignos da morte
A força de cada um de nós
( E em cada um de nós)
não por acaso se enveredou
por caminhos contíguos
e foi bom
por esse tempo bonito
(Que nas contas do universo é um nada,
mas em nossas percepções um tempo infinito)
Possa essa força seguir leve
embalada por outras histórias
que haverão de existir
A cada qual seu caminho
A cada um seu fluir
Paz!!