BBB
Nem é discurso de intelectual
(rótulo que rejeito porque meu órgão
mais importante não é o cérebro
mas o peito)
porque em anos anteriores
distraído e zapeando
(não mais que por acaso,é claro),
confesso
eu mesmo já dei boas risadas
e como voyeur também espreitei
aqueles pares de coxas, tatuagens,
as maravilhosas bundas
e os exíguos biquínis à bela moda brasileira
na beira da piscina
Mas há uma pegadinha aqui
que me veio de estalo na meia
hora insuportável que
andei acompanhando este ano
Quando este novo BBB acabar
ninguém mais vai aguentar ouvir
qualquer discurso que mencione
dentre outras, as palavras
Igualdade
Luta
Direitos
Feminismo
Inclusão
Gênero
Homofobia
Racismo
Etc
Havendo, em tese, no programa, uma composição étnica, racial,
social e profissional supostamente relacionada
à heterogeneidade brasileira, é natural que exista
uma multiplicidade de tendências, gostos e
atitudes como se observa facilmente a qualquer tempo
Mas, entrando pro time que trabalha
com teorias da conspiração, dá pra ver que
90% do que poderíamos designar
como pauta natural da esquerda vem
em vômitos intercalados de caos
engrossada por atitudes-pânico de pandemia
e iminente fobia social quando entram em cena
as falas e papéis aleatórios
na voz troante de marcados personagens
que sequer sabem da própria atuação. Os famosos bate-bocas acerca de temas dw repercussão geral na política do país que se tornaram famosos de uns anos para cá, compreensivelmente a partir do golpe de 2016.
É que o resultado "lá fora," no público,
no resto do país para um programa com
milhões de telespectadores, tantas vezes
isso acaba surtindo um efeito contrário,
por diversas razões.
Há questões pesadas
de marketing aqui envolvidas, todos sabem
da dinheirama que rola enquanto isso está
no ar. E esse ponto estratégico por si só
já orienta e pré-define posições futuras.
Contudo, como onde há gente nem
tudo fica sempre sob controle
Seus exemplos tantas vezes antiéticos no 'jogo"
como dizem no jargão, além de conchavos
e perseguições, complôs e outras coisas
(e há que se levar em conta o caráter lúdico
competitivo e participativo de um programa
de mídia que não tem a meta de ser
nenhum estudo antropológico formal)
vão conduzindo seus atores a um perfil
mais ou menos rígido e cada vez mais conhecido,
como uma espécie de novela do mundo real.
O fato do vencedor, ao fim, ter sido quem soube
"jogar melhor", como eles dizem, revela inúmeras
coisas sobre o próprio perfil da população do país.
Foi estudado em relatos acadêmicos mundo afora,
que em alguns lugares o público optou abertamente
pelo personagem menos ético, mais armador e desleal,
desde que tivesse algum carisma, real ou simulado, o famoso "jogador que joga para
a plateia. Em outros lugares
edições semelhantes finalizaram com
o vencedor "jogando limpo" , fato atestado
pelo público de casa que consegue ver
as nuances todas pelo pay-per-view
Em outros cantos do mundo o ganhador
estando desde o começo predestinado por pertencer
a uma classe social mais pobre e o programa ser visto
como uma espécie de loteria pra arrumar a vida, por
conta do prêmio em dinheiro. Do ponto de vista do telespectador, não há uma relação
de causalidade objetiva, nem como prever o que
vai acontecer ao fim. É depois dos resultados que
começam as interpretações.
Mas há que se lembrar que a esmagadora parte
do público não tem acesso ao pay-per-view, e
mesmo quem tem acesso não assiste integralmente ao programa do início ao fim,
de modo que todos têm que se sujeitar
às centenas de edições feitas pela emissora.
É aqui que está o grande Xis da coisa toda.
O que pode e deve ser visto, e por quem,
dentro dos vários perfis e nichos disponíveis.
Daí que não seria difícil assim criar, nas edições,
cortando e omitindo material integral, inserindo
falas e posturas em contextos favoráveis, a imagem que se deseja, tanto negativa para aquele que se quer atacar, quanto louvável
para o personagem que se deseja proteger e
alavancar junto ao público
No momento, pelo que se vê (não apenas agora)
mas por diversas razões talvez o contexto revele mais
esses exemplos algumas vezes bastante estereotipados
de militantes, ativistas, gente com opinião política
termina jogando por terra qualquer discurso edificante
quando os espectadores acompanham o passo a passo
e percebem as tramas. Muitos trazem um discurso totalmente equivocado, incoerente,
mas a forma como são mostrados depois das edições é o que manda mais. Ora, trata-se no
fundo de uma emissora historicamente
de direita e seria curioso imaginar que todas
as filmagens estivessem cem por cento
disponíveis gratuitamente para os mesmos
que vão votar depois nos seus heróis.
É como no sistema eleitoral, atuando as fake news e a grande mídia vendida como os
editores da casa que preparam as informações
e deformações que influenciarão depois
a cabeça dos eleitores
Quanto ao personagem, o participante
em questão, nem sabe o que acontece
aqui fora e tem pouco controle sobre sua
propria performance e popularidade
a partir de certo ponto.
Ou porque a criatura em questão sequer sabe direito do
que está falando e faz pose, sem realmente pertencer
ao bloco em que alega estar, ou porque age intencionalmente
-- como em papel de teatro, como ator -- de modo a desvirtuar
o objeto que está em suas mãos, por sua voz e atitude nem sempre conscientes. É essa
última hipótese que faria a coisa toda ficar mais interessante e ao mesmo tempo perigosa, podendo se tornar facilmente
um objeto a ser manipulado pela emissora,
até porque envolveria de alguma forma o contexto dos produtores.
A curiosidade fica por conta do
público potencialmente identificar o "tipo", o "personagem"
como se fosse algo do mundo real, e através disso,
formular seu juízo de valores. Tal fato certamente
não passaria ileso às análises de fundo de uma emissora
potente como a TV Globo, dona do programa, e
se for cavar um pouco, vai sair muita coisa daí.
De uma hora pra outra comecei a ficar
curioso sobre os critérios de escolha
para os membros da "casa". Num ano
que é prévia para eleições de 2022 em
um cenário nada definido por ora, e
num planeta com o contexto pandêmico
como está acontecendo agora, todo pingo
no "i" é letra.