Magrela
A dupla paramentada descendo o morro
Parecendo um ET com essas cores e formas
A brisa rala a essa hora 5 da matina lá vem o sol
Corpo da cidade
corpo de carne
corpo de metal
Normalmente não iria, ora estamos no Brasil
e desafiar o óbvio a essa hora é pedir
pra ser assaltado. Lembrando que a última bike
me foi surrupiada mesmo acorrentada
a sete chaves na garagem do prédio. Com
direito a live gravada do pirralho com sua serrinha no record de 10 minutos
Mas hoje não. Vai dar tudo certo
Nem frio nem quente. Agradável
Recém-melhorada bike por um upgrade
que a colocou na estética do Triathlon
abandonado há tantos anos, em que
eu nunca soube dizer o porquê
(Dias felizes aqueles da piscina olímpica
da Ufes, e a pedalada seguida em Camburi)
Aquele pique exagerado ficou pra trás,
com os vintepoucos anos
Mas o passeio agora é melhor. Sem correria
Na época, a preocupação com marcas, tempo
de relógio, encurtando ao mínimo o espaço
da saída à chegada.
Hoje, o objetivo contrário, e o fruir da descoberta,
Lembrando ainda de uma fase anterior
onde qualquer movimento possível
era sempre sobre as costas do camelo
e a sensação gostosa de flutuação
que o pedal traz
Fluindo tapete de vento
uma hora dura um dia
acolchoado nessas duas rodas
O tempo imenso que se alarga bonito
enquanto vou voando baixo à margem do cais
de Vitória às cinco da manhã
com essa alma de bicicleta. O asfalto é
infinitamente dourado nesse instante
e há uma beleza silenciosa que tudo bebe
O tempo líquido da paisagem
Essa Encantada pintura naturalista
a habitar a estreita faixa entre morro e mar
que se entorna num abraço longo sobre mim