Box Manuel Bandeira
Maravilhoso lançamento da Ed Nova Aguilar, o Box Manuel Bandeira,
em capa dura e edição cuidadosa. Alguns vão reclamar do papel fino,
uma tradição de longa data da Aguilar, mas eu vejo vantagens. Apesar
da natural transparência, é folha de longa duração, há exemplares nas
bibliotecas com mais de cinquenta anos, algumas que eu mesmo li
quando menino, de Machado de Assis, Shakespeare e outros.
Independente desse detalhe, o resto é de tirar o chapéu .
Na "coisa de espírito", que preenche os volumes, não há necessidade
de maiores apresentações, Bandeira é um dos poetas maiores do
nosso país que se fez sempre grande no terreno das letras. Conciso
e lírico, aparente contradição na mesma pessoa, ele ensina
como é que isso é possível com uma beleza sem par de seus versos,
às vezes denunciando com olhar social o mundo estranho que nos circunda e
às vezes largando tudo para dar um vôo a Pasárgada, onde é amigo do rei.
Outra coisa-- bastante nova pra mim -- foi conhecer a prosa elegante e
arguta que fez não muitos artistas por aqui. Capaz de falar de temas
sérios e às vezes documentais, históricos, com uma leveza e articulação
incomuns, confesso que fiquei surpreso, pois o conhecia apenas do
fazer poético, que por si é gigante.
Difícil e a meu ver ,até não recomendável por uma série de razões, a comparação
pura e simples da poiesis que move cada autor. Cada universo é ilimitado em
suas chances e motivos de exploraçaõ. Daí que comparar, por exemplo, contemporâneos
como Bandeira e Drummond, apesar de tema comum na crítica literária, pode ser
uma bela armadilha se considerarmos a forma completamente distinta de lidar
com as palavras. Mesmo assim, eu diria que Drummond, magistral no poema, pela
profundidade e amplitude dos seus vôos, a meu ver não teve a mesma facilidade
de transitar para a prosa como o faz Bandeira, com tal naturalidade.
Fica a recomendação. A um preço justo, obra pra qualquer amante da
literatura ter em suas estantes.