Meu sol no quintal

De um vermelho profundo 

Rajado de azuis, vem Phoibos 

desde cedo, e tudo o que toca vira luz


Sem livro na mão, hoje

Sem sentir o sol passatempo 

Sentado, olhos fechados 

Ouvidos eloquentes 


Absorvendo isso como faziam os gregos 

Como reverenciavam os Incas 

Todo frio se afasta para sua caminhada


Essa luz que nasceu há oito minutos 

em apolínea arte de hidrogênio

cada raio feito flecha em carruagem de fogo 

Universo afora, essa luz inédita


chega e me atravessa a pele, beijando ossos 

aduzindo vitaminas e entijolando cálcio

Vai  estender seu calor ainda por  

cinco horas até Plutão até se perder

(ou se achar) no infinito-além


Tudo brilha, tudo tem seu próprio som

Dez tipos de passarinhos agora em derredor 

(Menino do mato, identifico todos de ouvido, que ouvir 

é um outro tipo de ver)


sanhaço, canário-da-terra, bem-te-vi, pardal, rolinhas, galo-da-serra, coleiro, andorinha, pombos, o sabiá do vizinho preso na gaiola 


Sem contar os galos roucos do morro e os 

pequenos garnizés que anunciavam o show 

bem antes dele começar. Ainda agora


Seis cachorros diferentes latindo em seis 

distintos quintais, seis idiomas caninos


Uma serra elétrica de ladrilhos, uma 

motosserra, barulho de construção


Alguém brinca com uma criança que ri


Batuque de roupa batendo no tanque 

Na voz afinada, distante uma mulher

 e um samba de pé de morro


Algazarra ao longe de moleques atrás 

de alguma pipa


O carro da água passando lá na frente 

com seu sino metálico e o tradicional 

aviso , olha a água!


O divino do instante, como tudo brilha

e é cheio de vida, Phebo conduzindo 

na trilha enquanto Dioniso dorme 

o sono dos justos