Kodak










(Para meu pai)

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Barra de Itapemirim, dia desses.

Gaivotas, muitas. Dando rasantes na beira 

Catando resto de peixes da rede estendida


Os cascos dos barcos emborcados na areia 

tomando sol. O forte cheiro do sal

Maresia cortando o ar

O diesel dos motores e tinta fresca num pequeno estaleiro mais afastado


Nomes de mulheres pintados nas proas e alguns nomes de santo: Evelyse, Tia Joana, Flores de Iemanjá, Nossa Senhora dos Navegantes, Santa Clara

Naquele tempo me pareciam grandes

Navios descansando depois do temporal 


Solenes, 

Gigantes guerreiros em honorável silêncio. Medo de imaginar até onde teriam ido, dias e dias na pesca sem ver terra

e agora jaziam calmos

recompondo-se beira dareia

como recém-chegados da luta

contra Moby Dick


Atarefados, nós, na venda de beira-cais. Biscoitos 

e café, suco, maçãs numa sacola, balas.

Camarões amarrados no gancho, chumbada 

pesada demais para a modalidade de pesca 

Boné na cabeça pra ter sossego


Pai: joga a chumbada, filho 

Filho: mas não lanço muito longe, pai 

Pai: joga assim mesmo que o peixe vem buscar  

Filho: tá garrando o anzol nas pedra, pai 

Pai: toma o meu molinete que vai dar, joga 

além da arrebentação que o anzol não volta 


(Vem bagrinho, vem mais um vem outro maior

o embornal cheio em algumas horas)


--Hoje a fritada vai ser boa, 

com Guaraná Antártica


O sol mediando o dia. 

Aberto, eloquente, bonito


Em casa, fim de tarde na foto Kodak 

que hoje dança laranja

na face das minhas mãos


Posando os homens da casa

O sustento do dia na fieira




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Livro de poemas "Maremar", pub blog "Castelos de Ar", dez 2019- reg AVCTORIS jan 20