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Sou um animal com asas, um quadro antigo 

na parede testemunhando a história 

Um causo inventado

Avião perdendo controle nas alturas

Um guerreiro  que viveu há 3000 anos

no cerco a Tróia 

Um soldado de Napoleão tomando notas


Manejo discursos sobre a existência de Deus

Vivencio tramas e enredos de amor

Um velho meditando entre cachaças e o cigarro de paia o que passou

e o que não 


Uma senhora bordando a vida

em guardanapo na porta de um restaurante 

A criança em seu processo incessante 

de descobertas


Sofro a angústia de personagem 

O êxtase do gozo antes durante e depois 

A raiva, o Desalento 


Vislumbro o jogo de xadrez na cabeça do autor

e erro quase sempre porque vejo mais tarde que autor não é personagem e nada do que pensei tinha qualquer relação com qualquer coisa 


Vislumbro o jogo de xadrez na cabeça do autor

mas me aproprio da sua estória, sou eu ali agora

Não compreendo algumas personagens, me apaixono por outras só para perceber depois que como leitor fui enredado [e isso é uma grande arte que leva tempos a se aprimorar]

Leio poemas e isso não é bem literatura porque poesia é uma outra coisa maior a definir mundos 

Às vezes um verso me paralisa por dias


Isso de fluido em que me transformo

quando embarco nesses livros 

e sempre retorna a mim tão sólido , tão forte


Respiro, inspiro e o cheiro intenso da vida 

me repleta em seu incansável ritmo


Início sem fim, mesmo parando no meio 


Leio