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"O que se cala não nos cura" (Poemas - Casé Lontra Marques)

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"O que se cala não nos cura" (Ed. Aves de água, 2017 -  (Livro contemplado Edital 2016 Funcultura, categoria “Poemas”) " O som das coisas se descolando" (Ed. Aves de água, 2017) Como começar uma resenha que, no fundo, não e´ resenha coisa nenhuma, talvez seja uma “pseudo resenha” ou quem sabe  muito mais uma celebração, uma homenagem e um agradecimento? Pois inicio este textão, novamente sem me desculpar ou pedir perdão a ninguém, primeiro porque amo textão meu e textão dos outros. Com os temas variando desde criação de cachorros e manutenção de guitarra a política, turismo e gastronomia, sempre leio todos, e confesso que, independente de concordar ou não com tudo que leio, eu talvez só continue pelejando hoje em dia nessa estranha rede social de facebook (divina? maldita?) justamente por causa dos textões. Bora lá. A primeira imagem que me veio à cabeça depois da experiência de imersão no mais recente livro de poemas de Casé Lontra Marques, e mais

Resenha : "O Ensaio como Forma" (In "Notas de Literatura - Theodor W. Adoorno)

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“É inerente à forma do ensaio a sua própria relativização: ele precisa compor-se de tal modo como se, a todo momento, pudesse interromper-se. Ele pensa aos solavancos e aos pedaços, assim como a realidade é descontinua, encontra sua unidade através de rupturas e não à medida que as escamoteia. A UNANIMIDADE DA ORDEM LÓGICA ENGANA QUANTO À ESSÊNCIA ANTAGÔNICA DAQUILO QUE ELA RECOBRE. A descontinuidade é essencial ao ensaio, seu assunto é sempre um conflito suspenso “ (Adorno, “O Ensaio como Forma”) ---------------------- "O ENSAIO COMO FORMA" (Adorno) Desnecessário dizer que se trata de um pensador essencial da cultura. Entretanto, este livro, em particular, pela beleza e ousadia de suas abordagens, merecia ser resgatado por quem tem interesse no debate cultural, e em particular, sobre a relação forma x conteúdo, não apenas no que pertine ao gênero literário, mas com possíveis derivações para as humanidades, em geral. Sem ingenuidade, partindo da idéia (nem tão nova)
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Literatura e vida: Ser e linguagem. Relação entre gênero, forma e conteúdo. O Ensaio como síntese possível entre Poesia e Prosa Ser e linguagem, forma, conteúdo e gênero literário. Escrever sobre tudo, alcançar a totalidade. Tarefa pretensiosa e impossível para o pensamento. Não há como apreender o 'todo", se isso mesmo, o todo, é algo que se apresenta a mim, não aos meus sentidos exatamente, mas principalmente a uma certa propensão intelectual como uma categoria da imaginação. Não há essa totalidade, isso é certo. Nem na natureza, nem na tal "vida exterior", aleatória e desgovernada. A arrumação, o sentido, o filtro que aglomera ou separa é artifício humano, e é por isso que a tarefa já fracassa antes mesmo de começar. Dito isso, como alinhavar nessas redes neurais, afetivas, palavrísticas e de sons os infinitos significados das coisas e das inter-relações entre coisas sem arriscar-se a naufragar nesse pântano conceitual? Ora, o poema, meu caro. Já poderia Or
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A função do trágico nos contos de fadas: Literatura infantil e videogames “violentos”. A violência fundadora contra a disneylandização da infância. “Os contos infantis, com suas luzes puras e suaves, fazem nascer e crescer em nós os primeiros pensamentos, os primeiros impulsos do coração. São também contos do lar, porque neles a gente pode apreciar a poesia simples e enriquecer-se  com sua verdade. E também porque eles duram no lar como herança que se transmite”. (Jakob e Wilhelm Grimm, 1812) (Trad. direto do alemão:  Tatiana Belinky , com ilustrações primorosas de Janusz Grambianski. Ed. Paulus, 2016) 1)“Então a rainha chamou o caçador e lhe disse: _Leva a menina para o meio da floresta, não quero tê-la diante dos meus olhos. Tu deverás mata-la de trazer-me seu pulmão e seu fígado como provas. (...) Ao libertar a menina no meio da floresta, por conta própria, o caçador sentiu como se lhe tirassem um peso do coração, porque não precisou matar a menina. E como naque

O homem do lago

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*Ensaio sobre "Walden", de H.D. Thoreau "Eu  fui  à  floresta porque queria viver deliberadamente ...  Queria viver  profundamente, e sugar toda a essência da vida. Acabar com tudo que não fosse vida. Para que, quando a minha morte chegasse, eu não descobrisse que não vivi." -------------- (H.D. Thoreau) 1)Não existe releitura, porque toda leitura é sempre a primeira Sendo honestos por virtude e por necessidade de poupar tempo, confessemos logo a verdade: não existem releituras, nem de livros nem da própria vida, porque toda leitura, como cada vivência, é sempre  primeira e única. Aquela escultura ou pintura que admiramos numa exposição, num bar ou na casa de um amigo; aquela música que nos encantou desde o primeiro momento em que a ouvimos num passado recente ou remoto; o perfume daquela mulher numa festa ou na antessala de um consultório médico; o impacto fulminante de vida que nos tocou pela contemplação de uma  dada paisagem que observamos há uma