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Mostrando postagens de maio, 2019

O caniço pensante

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" O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza. Mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota d' água, bastam para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria mais nobre do que quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso" (Pascal) ----------- - O paradoxo de Pascal: a sabedoria          finitude como causa a ingenuidade          razão como remédio

Adonis

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quando a Terra invade as veias e a poesia torna-se o chão

Mal da poesia

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Sonhava, e foi sonhando que caí da cama um dia cismando e rasgando papéis em busca da poesia não sabia se era eu quem rabiscava seu universo ou era ela quem me versava quando me escrevia Surgida, assim sem mais explicação, pela necessidade de aprender a estar só comigo mesmo fora do mundo descobrir num segundo outras vidas ainda possíveis antes que as terríveis gárgulas acabassem com tudo Febre e calmaria, concreto e utopia, tesão e tédio nada mais neste mundo que me fosse remédio a própria vivência passou a valer só quando sabia que, passada a onda, a palavra permanecia De uma vida dividida entre o comum das dores o comum das alegrias, sem sua paleta de cores que mais haveria de honesto, senão declarar a quem pudesse suportar a imanência do verso Que o resto,  tudo o que não cabia no papel era na tibieza do inferno ou na ausência de céu uma outra palavra ou lugar e que as vivências mesmo arraigadas nas costas do mundo Evaporavam-se, num segundo, e não

Multiverso

contra o conceito de universo posto que a vida habita o mundo em múltiplas possibilidades e enquanto discutimos, cá em cima a chance maior de quem monopoliza a verdade há mundos, submundos, trasmundos seguindo sem nos saber pelas frestas de soalhos quinas de pedras janelas de ônibus olhos de loucos sons de passarinho não há como transpor a consciência para as coisas --posto que a maldição de si é fado apenas do humano -- mas há uma outra sintonia, além de empatia quando essa consciência se eleva e se torna algo além a gota d'água posta contra a luz num dia cinza a poeira que levita corpúsculos de matéria ao sol e vem mirando em jato na manhã do meu quarto meu cachorro quando conversa comigo a expressão da vendedora quando saiu o último cliente da loja uma tarde sob os sóis de Alfa Centauri ou à noite na beira do píer, em ameaças de neón

As horas

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Gira  no fio do ímã ginário                                                                            dispara o ponteiro  do arco                                                                            --ao contrário traslada o tempo pra longe da lida baila linda baila inda o corpo como alvo para a  flecha expendida

A única certeza além da morte

Viver é pequeno dolorido e sem jeito E não adiantam os esforços para parecer sábio tudo vai acabar quando estivermos aprendendo Um dente quebrado umas noites em febre um pãozinho quente com café bem cedo Ora grito ora cafuné lençóis com cheiro de mulher tentar não fumar muita água contra ressaca Ora sim ora não disposição para acolher o outro (porque há outros em mim que demandam muita energia) Caminhar todo dia uma outra conta vencendo lembrar de responder à mensagem da mãe O trânsito engarrafado papéis para despachar a percepção da crueza a fé que se busca na beleza No fim, tudo é apenas o pulso do mundo quando o mundo mesmo não está lá mas apenas aqui dentro Que mais importaria ao poeta além da própria arte? nada , a partir de algum momento já se pode dizer nada!

Anarquista

O homem do sindicato falava do alto do caminhão manejava seu megafone com calor e eloquência falando de um Estado pai-de-todos como o homem da batina, no púlpito aclamando a Deus, pai-de-todos O homem dos dinheiros, por sua vez mais cerebral e sagaz que ambos celebrava um outro pai-de-todos em contratos de sangue e falava na sua cátedra de vidro (sorrateira e silenciosamente) respingando em todo mundo com seu discurso pegajoso Nutria enorme respeito  pelo homem dos sindicatos Tinha muitas reservas quanto ao homem da batina Nascera com total desprezo pelo homem dos dinheiros O que vicejava nele buscava outras falas e não queria , ou antes, não sentia que as verdades daqueles homens fossem exatamente as suas --nenhum dos três Achava ingênua a história de que as coletividades utopizadas no Leviatã moderno pudessem trazer a qualquer indivíduo algo de valor maior em si algo que um alguém, em algum momento não tivesse tentado cavar primeiro só com sua coragem no me

Phosphorus

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no susto do como-é-possível mais rápido mais sutil que um estalar de dedos uma leve caixa oca de madeira com um desenho estranho na superfície dentro apenas aquelas finas alminhas enfileiradas cabeças tingidas tiras de fogo ao riscar do céu dois sólidos tornando-se em atrito uma terceira coisa ainda em estado indeterminado (nem sólido, nem líquido nem gasoso) transitando entre as formas da matéria passeando entre a vida e o além o sorriso na cara de quem descobriu o mundo uma leve caixa oca de madeira a reverberar neandertais meninos saltando ao redor de fogueiras em resguardadas cavernas ao primeiro descuido, o furto e a fuga pequeno Prometeu a roubar a honra dos deuses e testemunhar sozinho aquele milagre debaixo dos pés de manga rodeado pelos cerrados arbustos de pitanga -- a caverna particular -- um canivete sem corte um estilingue torto caixas grandes de papelão pequenos ícones de madeira e agora, mais essa conquista bota fogo em graveto mas nã

A outra orla

É só um tiroteio Não é futebol Não são fogos São os jogos do morro no domingo à noite Iluminando como meteoro a outra orla da cidade Lá onde não tem luz suficiente Não tem guarda suficiente Lá onde o Estado se conhece Pelo seu status ausente Sem qualquer piedade, pobre Piedade Nobre Piedade, Moscoso ou qualquer nome de morro Em Vitória, Rio ou Salvador Morros onde se morre à toa nesses jogos Vorazes Vidas fugazes Homens equipados, -- jovens em sua maioria Subindo novamente as escadarias Uns jamais descerão como os outros que eles deixarão para trás E a melodia que tinge de tiros a noite escura Enfeitando corpos de meninos mesmo fora do carnaval Amanhã vai colorir os sedentos jornais O Fla não ganhou hoje: a página de esportes não virá em imortal rubro-negro fazendo felicidades Mas a página policial estampará um outro rubro-negro mais triste e persistente: mortal retrato da noite de domingo na Piedade