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Metamorfose

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Esforçar-se o tempo todo para ser formiga andar com formigas pensar como formigas aprender a comer  feito formigas no tempo próprio de formigas E ter nascido com asas e ter nascido com voz para cantar e não ter garras para carregar mas para tocar Não ter vocação para contar o tempo mas gostar de ver o tempo passar gostar da rede, do livre movimento de uma agenda focada em si mesmo ser o sujeito principal de sua própria vida a sina de tentar ser formiga quando a alma nasceu cigarra nasceu cigana e existe  para dançar Reconhecer sua natureza e fazê-la vicejar contra a lógica da era desafio de rachar tijolos estourar  o mundo previsível de formigas acumuladoras deixar chegar o inverno com vida, viola e vinho na despensa Esta a  verdadeira metamorfose: transformar-se no que se é ------------ editado em 07-10-16

FRAGMENTOS DO DIA

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Manhã praia, sol ardendo nas costas, e debaixo do guarda-sol a sensação boa do vento fresco pra rebater o excesso de calor. Os olhos boiando como um barco a vela, observando as fragatas que voam ao longe, vigiando ondas e pequenos peixes. De vez em quando elas disparam num mergulho reto, fechando asas e entrando de cabeça na salgada água fria, e na maioria das vezes retornando com peixe no bico. Voam, apenas pairando a alguns metros sobre as águas, sem fazer força. Aprenderam a aproveitar os ventos favoráveis. Aspirando fundo aquele cheiro molhado de mar, os pensamentos flanam perdidos por segundos quando largo o Camus por um instante e imagino se as aves deveriam ensinar esta arte das artes qualquer dia. Cerveja gelada no isopor. Franguinho frito com farofa. Corpo pujante de mulher estendido na chaise ao lado, maiô preto com um chapéu de palha e abas largas, taça de “dry martini” com todas as azeitonas do mundo e bastante gelo ao alcance da mão. Óculos escuros para poder ver melh

TROTE

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Ela subiu no ônibus toda assim, meio sem graça. Chinelos, bermuda jeans e camiseta, com uma mochila nas costas.  Pintada da cabeça aos pés. O rosto, os cabelos e o corpo todo marcado por diversas cores. Traços de verde na roupa com cabelos tingidos de azul, os braços riscados de listras  laranja e as pernas de rosa, tudo polvilhado com bastante purpurina e o que parecia ser um pouco de trigo também. Saíra para o ponto de ônibus próximo ao portão lateral da universidade, onde acabara de haver um trote de recepção aos calouros. Entrou sozinha e passou pela roleta assim, meio inibida sob os olhares inquisidores de todo mundo. Uns riam baixo, outros não entendiam muito bem do que se tratava. Na falta de outros lugares disponíveis, veio se sentar ao meu lado. F., 21, aparelho ortodôntico nos dentes, aprovada no curso de publicidade da federal, pelo sistema de cotas. Tira da bolsa a Revista "Trip" com Criolo na capa,  "Daft Punk" tocando na playlist.  Intrigado,

ESTÉTICAS URBANAS E ALGO MAIS

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Que me desculpem os excessivamente contemporâneos, liberais, libertários ou anarquistas pós-modernos que sempre têm a tendência a valorizar em absoluto toda e qualquer “qualquer atitude” humana como ato artístico. Nem mesmo o mestre Aristóteles, um dos maiores pilares de nossa herança filosófica sobre o conhecimento do mundo, com toda sua cabeça organizadora e classificadora extremamente ampla, talvez admitisse tamanha abertura. Para não me perder nas infinitas e densas discussões acadêmicas sobre estética e teoria da arte, falo aqui especificamente da contradição sólida que existe entre a pichação e o grafite, como atitude, pertencimento ou como propostas estéticas na ótica da cidade aberta, tendo seus muros expostos como verdadeiros painéis potenciais da arte ou do seu completo impedimento. Então, sem maior necessidade teórica que não seja ao menos complementada com a efetividade prática de uma boa e atenciosa andada po

O POLITICAMENTE CORRETO É CHATO?

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 Vivemos uma ditadura do " discurso politicamente correto?". Nos últimos tempos, tanto na análise de matérias jornalísticas, postagens em redes sociais ou mesmo no bate-papo entre amigos mais chegados, tenho testemunhado diversas expressões de insatisfação com o que parece ter se tornado senso comum. Os depoimentos, com poucas variações são uma espécie de condenação à “perda da liberdade”, no sentido de que, se alguém tentar exercitar qualquer opinião original, passa a ser considerado um subversivo do mais alto risco, sujeito a todo tipo de intempéries, desde os mais usuais e previsíveis xingamentos de facebook até levar uma cusparada ou uma pedrada na rua. Não são poucas as demonstrações nesse sentido, incluindo os amigos e conhecidos do mais alto gabarito intelectual, humano, científico ou artístico, que ora reclamam e fazem barulho, ora simplesmente se calam diante dos tais dedos ameaçadores surgidos não se sabe bem de onde, após o assentamento inconsciente de qu
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Matéria legal sobre o nosso livro de contos "Manga Verde", contemplado no edital Secult/Funcultura 2015, e publicado este ano, pela Editora Cousa. https://www.anajustra.org.br/espacocultural/post/558/Escritor-autodidata-servidor-do-TRT17-lanca-livro-de-contos Escritor autodidata, servidor do TRT17 lança livro de contos Para ler   15/09/2016 0 Comentário(s) 0 "Sou autodidata e comecei a escrever ainda criança, talvez como resultado direto do primeiro contato feliz com os livros. Tive a sorte de sempre ter tido muito estímulo com a leitura em casa, desde criança." Se a leitura e, principalmente, a escrita sempre esteve presente na vida do servidor do TRT17, Claus Zimerer, a intenção mais "séria" de publicar seus escritos sur

CARTAS A UM JOVEM POETA

"(...) O senhor me pergunta se os seus versos são bons. Pergunta isso a mim. Já perguntou a mesma coisa a outras pessoas antes. Envia os seus versos para revistas. Faz comparações entre eles e outros poemas e se inquieta quando um ou outro redator recusa suas tentativas de publicação. Agora (como me deu licença de aconselhá-lo) lhe peço para desistir de tudo isso. O senhor olha para fora, e é isso sobretudo que não devia fazer agora. Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém. Há  apenas um meio. Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples "Preciso",

Ensaio sobre o gênero Ensaio

Fã absoluto do gênero desde que tive a sorte e o grande privilégio de ter em mãos os "Ensaios", de Montaigne, na minha singela opinião é justamente neste gênero onde, talvez com maior liberdade, o espírito humano conseguiu alçar seus vôos mais altos. Não é à toa que dentre os autores que mais admiro, boa parte pode ser considerada ensaísta, uma vez que sua linguagem e sobretudo a "forma" que adotaram para se expressar não seguiu necessariamente, de um lado, a extrema subjetividade da linguagem poética nem seguiram , de outro, a suposta objetividade da linguagem científica ou, por aproximação, filosófica, de articulação lógica e analítica. Sim, porque ressalvado o poder criativo da poesia, que por sua magnitude não encontra paralelo em nenhuma outra forma de escrita em razão da sua origem musical, seus interditos, das elipses, metáforas, dos não-ditos, dos seus silêncios e dos espaços infinitos de subjetividade que lhe conferem esse status, e ressalvada ainda a

"Are you experienced?"

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E trinta anos depois de conhecer , "isso" ainda me impacta e emociona como se fosse a primeira vez. Porque ouvi-lo é sempre um ritual e tem cara de primeira vez. Horas e mais horas de vinil quase furado de tanto ouvir as faixas. Com sua criatividade e ousadia que jogaram por terra boa parte do "bom-senso" da composição musical tradicional, Hendrix mesclava pegadas do blues moderno com um novo tipo de rock, não necessariamente mais complexo em seu conjunto, na forma em que alguns outros grupos progressivos já vinham mostrando no final dos 60 e começo dos 70, mas com uma proposta de timbres e uma beleza nos solos completamente inovadora. Até porque havia um tipo de "especialização" em voga, e não era muito comum um exímio instrumentista também se aventurar nos vocais. Normalmente as funções na banda eram separadas. Alem de tudo, o cara tinha uma boa voz e mandava bem na forma de cantar , com muito feeling. Ele trazia harmonias inusitadas (normalme

Ser e Existir

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   ( para Manoel de Barros) De tudo o que se vê no mundo a metade existe somente na nossa cabeça                                      Os olhos é que mundeiam para enxergar... Isso, porque ainda nem falei de Heidegger para quem, o que existe mesmo são os humanos Alguns autênticos, Outros inautênticos, enfim O restante das coisas, bichos e plantas ainda que se esforcem , nunca conseguirão pois possuem unicamente sua essência Eles podem ser, mas estão condenados a nunca existir Esta minhoca que agora cava sob meus pés redondeando num girobolante escarafunchar do barro aqui neste terreiro de chão batido parece não concordar muito com o Filósofo Assim como estas formigas que, em organizada carreira, carregam apressadamente suas folhas nas costas e seus grãos de  açúcar furtados no pote da cozinha (ciência de chuva que se aproxima) Acho que não preciso dizer a elas que Heidegger não estava certo ------------ editado em 05-09-16

TOBOGÃS

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No rosto, a chuva Na fuga da tarde Matar aula Cavar tempo Aventura Sem idade Sobre o morro O Espírito Sobre o espírito Velocidade Luzes, Exposição: É a feira da cidade. Gostando dos pingos  Batendo no rosto Os ventos de agosto No alto da colina Na boca, o gosto Os olhos as curvas Presença dos  sonhos Aquela menina Chicletes com música,  Balas de hortelã Pipoca no cinema Drops com adrenalina. Parque- da- festa, de diversões Gente modesta, maçã-do-amor. Meninos pequenos, meninas-com-as-mães Bate-que-bate , meninos-carrossel "Moço, um ingresso!" pra porta do céu Roda que gira, gigante-que-bate Gira-que-bate essa roda de parque Festa do povo, cheiro de pólvora Crianças que rodam Traques-rojões Trem fantasma, trem do terror É festa na cidade do interior. Montanha-russa, algodão-doce Crianças adultas, adultos crianças Ingressos pros sonhos Cavalos girando Fantasias, pipoca, Choro                       E muitas lembran

"Os Filhos de Saul"

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Não vou falar sobre mais um menino sírio que apareceu arrebentado em uma foto de jornal. Há algo que vem de dentro e que se recusa  terminantemente a buscar qualquer racionalização possível. Uma raiva que rejeita por princípio qualquer pacificação dos sentimentos ou sua substituição por um conceito administrável que possa extravasá-los, uma analogia objetiva e fácil que normalmente é direcionada aos maus e notórios personagens políticos do planeta. Achar prontamente "culpados", tanto contextos quanto pessoas, é em todas as vezes nada mais que criar um tipo de remédio psicológico para que a dor alheia não nos incomode tanto, não nos  consuma de uma vez e a vida possa retomar seu curso no dia seguinte. Desta vez, eu quis que a dor continuasse, quis que a dor não arrefecesse e não se calasse mais. Voluntariamente, joguei fora minhas defesas e quis  que a dor ficasse entalada na garganta minha e do mundo, para cada vez que nos lembrássemos com otimismo de qualquer aspecto pos