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Mostrando postagens de janeiro, 2012

Sobre o perdão

"A Felicidade consiste em poder falar a verdade sem machucar ninguém ..." ( Fellini ) A noite é o momento de todas as angústias. Se há um pequeno esconderijo durante o dia, elas ferinas  se escondem sem dificuldade: na agitação, no disfarce, na ocupação planejada da mente. Mas à noite não: no apagar do sol é que elas saem para o que é seu, tiranizando os sentimentos e mostrando ao mundo suas verdades mais escondidas. Como poderia a vida ser algum tipo de caminho, se no caminhar não fosse possível , a quem causou mágoa, obter em algum momento  o perdão daquele a quem tiver ferido , mesmo que nem por uma fração de segundo tenha passado por sua mente ou por seu espírito que pudesse ter lhe causado qualquer  dor? Mesmo se, no seu mais desvairado sonho, sequer tenha ousado pensar que com suas atitudes ou palavras tivesse lançado mais do que apenas palavras soltas  ao vento, nada mais pretendendo além de se mostrar, encenando o antigo exercício da  vaidade humana, ou apenas  

Sobre aprender a não envenenar a própria alma

Dormir com ódio no coração, sufocando seu peito após o último jornal da noite. Receita certa para um ataque cardíaco, uma úlcera ou coisa que o valha. Necessidade de aprendizado constante de como contar sempre com a humanidade, ou aquilo que persiste nela sendo bom e verdadeiro. Nisso parece que cada vez menos há vozes convergentes. Esse conflito estúpido entre árabes e israelenses é aquilo de mais baixo a que se pode aplicar o termo guerra. Desde que me entendo por gente é a mesma coisa; dois lados jurando inocência, dois lados que querem se sufocar mutuamente, cada um desejando que o outro seja em breve extinto. E o pior: historicamente e biblicamente, tanto os muçulmanos quanto os judeus vêm de um tronco comum, em Abraão. Não fosse esse aspecto, vêm ainda da mesma região, falam idiomas que guardam muitas semelhanças, e até a alimentação tem muito em comum. Habitam com desenvoltura há séculos o mesmo deserto rico em lamentações, rico em pedras secas e em falta d'água como todo de

Alma de cortiça

"Minha alma, insaciável com sua língua, já provou de todas as coisas boas e ruins, em cada profundeza já mergulhou. Mas sempre igual à cortiça, sempre bóia outra vez à tona. Bruxuleia como óleo sobre os mares morenos: por ter essa alma me chamam o afortunado". (F. Nietzsche). "Sertão é dentro da gente". (Guimarães Rosa) Andava flutuando sem saber de onde vinha o som; somente absorvia em silêncio as notas levadas  pelo ar, como se estivesse matando uma sede interior, aquela sede do deserto que pede pela água de todo rio. O trinado místico de flauta por detrás do muro surge de repente trazendo à tona seu portador: apenas brinquedo de criança. A pequena causa estava dada e fugiria em disparada, mas seus efeitos não. A música tem o dom de ser imortal. A noite ainda se escondia e a  mente fugidia tentava medrosa retornar pela estrada do batido caminho, mas hoje não, porque hoje qualquer melodia é metafísica demais para um passante que navega sobre o som. Históri

Linhas

No não dizer, no falar não há como esconder minha voz para não parecer insano entre tantos passos o passo de um singular ser humano Histórias impossíveis de um simples olhar como sofrer, andar sozinho sem parecer estranho? O sonho de quem escreve não é ser idolatrado mas compreendido não importa a quem plantou se o fruto dado não foi consumido

Praia (pequeno ensaio renascentista)

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Um manual da diversidade, da convivência, da melhor regra de estética, recomendações para o mundo. Nada existe de mais democrático que uma praia em dia de domingo, em solos brasilis. Até para mim, que não alimento ufanismos baratos nem sigo a cartilha do nacionalismo espalhado pelo globo ( esse discurso doentio que alimenta o sonho dos ditadores, ameaça a vida no planeta e enfraquece o que há de melhor no ser humano em prol de uma insanidade coletiva chamada Estado, e que encanta feito flauta de Hamelin  a massa de manobra essencial para as terríveis guerras genocidas), esse momento de praia quente e mar verde esmeralda me faz renegar cerebralismos e pessimismos ancestrais, cair de joelhos nesse particular verde azul e amarelo e fazer a retratação à qual se negou veementemente Giordano Bruno, na fatídica inquisição: neste dia, o universo é que gira em torno da Terra, afinal. Gente de todo tamanho, de todas as cores, todos os cabelos, todos os sotaques, mosaico de vidas movimentando

A dúvida

E a vida segue assim mesmo doída, ácida, escorregadia quente, pujante, evanescente desejada, sôfrega e até odiada Mas o que me espanta é não saber  nesses intervalos todos repletos de sentido onde eu estava? Tanta conversa boa viagens interessantes companhias e bons amigos livros a se perder filmes a se perder E eu continuamente inexoravelmente naufragando em minha própria existência Posso certificar, com carimbo e protocolo, se precisar que apesar de tanto esforços apesar de tanta preocupação e de tanta ansiedade de me eximir me perdoar por estar vivo justificar-me pela respiração de cada segundo não andei nem sequer um centímetro em qualquer direção e sei absolutamente nada sobre o mundo não conheço sequer um ponto a mais de minha pessoa _isso sem falar nos outros_ Nada sei quanto à viagem dos outros mas quanto à minha, se terminasse neste exato instante posso afirmar que teria sido um ponto feliz a maior parte do tempo mas sobretudo apenas mais u