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Mostrando postagens de dezembro, 2017

Sete minutos depois da meia noite

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OS MONSTROS Dorme dorme, doce criança enquanto a noite tece a teia de todas as vãs esperanças e nos sonhos incontidos que tua fértil imaginação alcança é que residem incontestes os sentidos do dia Aos que eles denominam monstros tu chamarás de amigos;  quando teus inimigos  fugirem  em pânico porque não entendem (simplesmente pelo prazer de serem homens), tu deitarás no colo dessas criaturas e elas velarão teu rico sono cantarão para ti velhas cantigas de ninar e com os dedos longos vão acariciar teus cabelos afastando os piores pesadelos e te darão novos motivos para viver Dorme dorme, doce criança e essa tua agressividade é apenas a reação em face de um mundo cruel que nunca te deu o devido acolhimento um purgatório povoado de maus espíritos tolhidos de sentir por um instante sequer a pusilanimidade de que são capazes em suas melhores intenções Para quando houver a dor haverá sempre o ombro amigo de quem nunca

Oferenda

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Súbitos os símbolos brotam da esquina uma humanidade retomando                                         rituais coletânea de tendências depositadas brutas ancestrais nascidos assim do chão caleidoscópio de poesias densas épocas costumes crenças penso em fotografar (um cético que adora o sagrado) até tiro do bolso o celular mas meu medo de roubar a metafísica do ato me dissipa como os primeiros índios do Xingu no contato com a câmera branca preocupados em que o viajante lhes roubasse a alma (e roubou) velas brancas, velas vermelhas umas inteiras outras quase inteiramente derretidas ardendo ainda nas primeiras horas da manhã moedas de vários tamanhos numa cesta com grandes rosas brancas bonitos arranjos alguns búzios e sementes alguns santinhos também (eu não saberia dizer quais) a cachaça, litro a meia o grande galo negro, pescoço cortado seu sangue coagulado sobre o chão e pedaços de vidro sobre fragmentos de cristal pedra o sol refletindo

Cabelos do vento

Era algo de não se falar sobre mas sim de sentir a presença contemplar, ir ter com os olhos acolher o silêncio eloquente no fundo do peito, deixar que a sensação boa mergulhasse e se multiplicasse em nervos em pele em uma espécie estranha de felicidade Que poderia dizer eu do alto de minha não-sabedoria do alto ainda tão raso de tudo que me falta abandonando todos os esteios das minhas vãs filosofias da minha parca ciência ou da vontade de mudar o mundo um mundo que sequer sabe da minha existência que poder me reconduziria ao topo do nada porque tão pequena e carente de sentido é a perspectiva da vida humana Um pôr-do-sol, um simples ocaso seguindo seu curso como qualquer dia e pouco antes da luz sumir detrás dos morros naqueles minutos mágicos que  antecedem a tomada do crepúsculo onde a luz é diferente de toda a luz do dia e o efeito de seu toque na superfície das coisas faz com que seu verdadeiro brilho apareça em sua plenitude é onde o verde

Versos que bailam

Tirar um pouco o pé do acelerador cotidiano e sentir o tempo voltar sentir o corpo respirar novamente perceber como somos roubados em energia, pulso e criação pelo grande pacto entre a ideologia e o sistema sob o eufemismo do trabalho Que a arte parida por nós parida de nós seja a negação de tudo o que oprime e com um verso corajoso e afirmativo um verso alegre que nao esconde nem aliena mas mesmo tenaz, é terno e chama pra dançar bailemos sobre essas tragédias todas

Pare e siga

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Vôo sem asas, braços abertos desço o morro na ventania duas rodas sem freio nas mãos, a brisa generosa do dia Paro na curva, fotografo apenas de memória a bela baía de Vitória atletas e remos  Álvares versus Saldanha o bonito quadro que surge quando contrariando a natureza (sempre egoísta), homens conseguem concordar em alguma coisa e seus esforços  remando na mesma direção são algo mais além de mera duração o esporte é a metáfora da beleza do algo além contra o puro desperdício de tempo e  força bruta do cotidiano Sigo leve, fotografo (e meus olhos são câmera, memória meus olhos são imaginação) A garota de patins na pista livre passa deixando seu rastro não é daquelas experts na arte como vejo tanto por aqui. é até meio desengonçada  pra dizer a verdade Em seus patins como um patinho que ensaia os primeiros passos um pouco longe da mãe a solidez em seus vintepoucos na  fluidez dos traços de um mesmo corpo a

Sumo

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Sangue de uma terra em transe videiras ganhando minhas veias o colorido a se formar atrás dos olhos quando a especial graça do mundo súbito surge onde antes tudo era pálido deserto pujantes brasas em total desatino a razão finalmente adormecida por obra de duendes delirantes os sentidos despertos para o que não viam antes a engrenagem sob o peito insone, imaginativa instilando o líquido insidioso lentamente gotejando sob minha pele gole por gole na pura demora enquanto o sol não nasce me abraça a seiva que prepara a aurora

MUDANÇA DE ESTAÇÃO

Discípulo do sol Amante da chuva Úmido, húmus, umidade Hora e meia contemplando a chuva da minha janela Meu lugar perdido na cidade (hoje de manhã tá frio pra eu me molhar lá fora) Sobre o topo de igrejas a neblina de picos carregados passando Contemplo os suspiros do mar subindo a serra e prometendo mais temporal até o final da tarde As plantas já bem verdes da estação a terra encharcada recusando-se a absorver a água exagerada e a chuva ainda assim derramando-se e armazenando-se em pocinhas renitentes Toda essa água é soberba dissolvendo sentimentos O ritmo das coisas se quebra Seres de água surgem do nada suplicando de volta aquilo que lhes pertence Caracóis e lesmas ganham coragem animando os sapos que saem no seu encalço Formigas egoístas se retraem Garimparam antes seus tesouros e agora reúnem-se para as festas a portas fechadas O húmus se revolve, se encharca, Transmuta-se O húmus é o que seremos, em breve quando voltarmos ao p

A festa

O melhor palhaço é sempre o mais triste mas quase ninguém percebe porque o alegre não sabe a alegria