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O homem do lago

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*Ensaio sobre "Walden", de H.D. Thoreau "Eu fui à floresta porque queria viver deliberadamente... Queria viver profundamente, e sugar toda a essência da vida. Acabar com tudo que não fosse vida. Para que, quando a minha morte chegasse, eu não descobrisse que não vivi." -------------- (H.D. Thoreau) 1)Não existe releitura, porque toda leitura é sempre a primeira   Sendo honestos por virtude e por necessidade de poupar tempo, confessemos logo a verdade: não existem releituras, nem de livros nem da própria vida, porque toda leitura, como cada vivência, é sempre a  primeira para o que nós somos agora Aquela escultura ou pintura que admiramos numa exposição, num bar ou na casa de um amigo; aquela música que nos encantou desde o primeiro momento em que a ouvimos num passado recente ou remoto; o perfume daquela mulher numa festa ou na antessala de um consultório médico; o impacto fulminante de vida que nos tocou pela contemplação de uma dada paisagem

2016 numa perspectiva cultural no apagar das luzes

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Se 2016, como toda pessoa de bom senso já percebeu, foi um desastre completo na área política, felizmente não ocorreu o mesmo quanto à arte e à cultura, de modo geral, que entre apertos e muita força de vontade, continua brilhando em nossa sofrida terra. Tanto em terras capixabas quanto na Terra Brasilis, há muita coisa boa. Algumas novas, porque recém-lançadas ou novas porque eu só tive a oportunidade de conhece-las agora. Outras clássicas, de conhecimento geral, mas que sem dúvida merecem registro pela sua qualidade , e que fizeram o ano da gente mais rico. Cito algumas abaixo, sem pretensão alguma de fazer crítica cultural, apenas como compartilhamento de gosto pessoal. FILMES: “Cinco Graças” e “O filho de Saul” . No primeiro, a beleza pujante do olhar renovado do cinema “do lado de lá” do mundo, exercendo seu fascínio sobre nossos encantados olhos. Crítica e denúncia sobre a opressão feminina no reino dos aiatolás. No segundo, o mais terrível filme já realizado sobre a s

O MURO

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NO RIO DE JANEIRO HÁ MAIS DE OITOCENTAS FAVELAS HÁ MAIS DE OITOCENTAS FAVELAS NO RIO DE JANEIRO O RIO ABRIGA MAIS DE OITOCENTAS FAVELAS NA CIDADE PARA A COMUNIDADE, O QUE É CENTRO, O QUE É PERIFERIA? AONDE O MUNDO NASCE, PARA ONDE É QUE SE IRRADIA? NO RIO DE JANEIRO HÁ MAIS DE OITOCENTAS FAVELAS HÁ MAIS DE OITOCENTAS FAVELAS NO RIO DE JANEIRO O RIO ABRIGA MAIS DE OITOCENTAS FAVELAS NA CIDADE PARA A COMUNIDADE, O QUE É CENTRO, O QUE É PERIFERIA? AONDE O MUNDO NASCE, PARA ONDE É QUE SE IRRADIA? NO RIO DE JANEIRO HÁ MAIS DE OITOCENTAS FAVELAS HÁ MAIS DE OITOCENTAS FAVELAS NO RIO DE JANEIRO O RIO ABRIGA MAIS DE OITOCENTAS FAVELAS NA CIDADE PARA A COMUNIDADE, O QUE É CENTRO, O QUE É PERIFERIA? AONDE O MUNDO NASCE, PARA ONDE É QUE SE IRRADIA? NO RIO DE JANEIRO HÁ MAIS DE OITOCENTAS FAVELAS HÁ MAIS DE OITOCENTAS FAVELAS NO RIO DE JANEIRO O RIO ABRIGA MAIS DE OITOCENTAS FAVELAS NA CIDADE PARA A COMUNIDADE, O QUE É CENTRO, O QUE É PERIFERIA?

Metamorfose

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Esforçar-se o tempo todo para ser formiga andar com formigas pensar como formigas aprender a comer  feito formigas no tempo próprio de formigas E ter nascido com asas e ter nascido com voz para cantar e não ter garras para carregar mas para tocar Não ter vocação para contar o tempo mas gostar de ver o tempo passar gostar da rede, do livre movimento de uma agenda focada em si mesmo ser o sujeito principal de sua própria vida a sina de tentar ser formiga quando a alma nasceu cigarra nasceu cigana e existe  para dançar Reconhecer sua natureza e fazê-la vicejar contra a lógica da era desafio de rachar tijolos estourar  o mundo previsível de formigas acumuladoras deixar chegar o inverno com vida, viola e vinho na despensa Esta a  verdadeira metamorfose: transformar-se no que se é ------------ editado em 07-10-16

FRAGMENTOS DO DIA

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Manhã praia, sol ardendo nas costas, e debaixo do guarda-sol a sensação boa do vento fresco pra rebater o excesso de calor. Os olhos boiando como um barco a vela, observando as fragatas que voam ao longe, vigiando ondas e pequenos peixes. De vez em quando elas disparam num mergulho reto, fechando asas e entrando de cabeça na salgada água fria, e na maioria das vezes retornando com peixe no bico. Voam, apenas pairando a alguns metros sobre as águas, sem fazer força. Aprenderam a aproveitar os ventos favoráveis. Aspirando fundo aquele cheiro molhado de mar, os pensamentos flanam perdidos por segundos quando largo o Camus por um instante e imagino se as aves deveriam ensinar esta arte das artes qualquer dia. Cerveja gelada no isopor. Franguinho frito com farofa. Corpo pujante de mulher estendido na chaise ao lado, maiô preto com um chapéu de palha e abas largas, taça de “dry martini” com todas as azeitonas do mundo e bastante gelo ao alcance da mão. Óculos escuros para poder ver melh

TROTE

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Ela subiu no ônibus toda assim, meio sem graça. Chinelos, bermuda jeans e camiseta, com uma mochila nas costas.  Pintada da cabeça aos pés. O rosto, os cabelos e o corpo todo marcado por diversas cores. Traços de verde na roupa com cabelos tingidos de azul, os braços riscados de listras  laranja e as pernas de rosa, tudo polvilhado com bastante purpurina e o que parecia ser um pouco de trigo também. Saíra para o ponto de ônibus próximo ao portão lateral da universidade, onde acabara de haver um trote de recepção aos calouros. Entrou sozinha e passou pela roleta assim, meio inibida sob os olhares inquisidores de todo mundo. Uns riam baixo, outros não entendiam muito bem do que se tratava. Na falta de outros lugares disponíveis, veio se sentar ao meu lado. F., 21, aparelho ortodôntico nos dentes, aprovada no curso de publicidade da federal, pelo sistema de cotas. Tira da bolsa a Revista "Trip" com Criolo na capa,  "Daft Punk" tocando na playlist.  Intrigado,

ESTÉTICAS URBANAS E ALGO MAIS

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Que me desculpem os excessivamente contemporâneos, liberais, libertários ou anarquistas pós-modernos que sempre têm a tendência a valorizar em absoluto toda e qualquer “qualquer atitude” humana como ato artístico. Nem mesmo o mestre Aristóteles, um dos maiores pilares de nossa herança filosófica sobre o conhecimento do mundo, com toda sua cabeça organizadora e classificadora extremamente ampla, talvez admitisse tamanha abertura. Para não me perder nas infinitas e densas discussões acadêmicas sobre estética e teoria da arte, falo aqui especificamente da contradição sólida que existe entre a pichação e o grafite, como atitude, pertencimento ou como propostas estéticas na ótica da cidade aberta, tendo seus muros expostos como verdadeiros painéis potenciais da arte ou do seu completo impedimento. Então, sem maior necessidade teórica que não seja ao menos complementada com a efetividade prática de uma boa e atenciosa andada po