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CANTO NOTURNO...

* Por Marcos Silva de Oliveira Mil vezes o poeta dentro da noite Corrói sua dor em versos... Seu canto noturno e lépido: Guarda uma noite maior – a poesia. Em balada no ritmo frio e silencioso: Na melancolia do sem saída... Nesta noite imensa e fria Com o céu pleno de nuvens Alguma luz risca a amplidão. A noite é cálida e silenciosa Faz o poeta meditar... Desfia seus cantos olhando o céu. Amanhã o veremos soturno. Agora está grave e macambúzio. Cabisbaixo sonha não o amanhã: Mas o sem saída da condição. A poesia é seu refúgio... A noite prossegue plena de poesia...

partilhar o mundo

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Sem a pressão do mundo sermos só nós dois caminhando neste pôr-do-sol com água morna nos pés e a areia envolvente Não há problemas, não há gente Somente o som calmante do vento, nas filas de casuarinas Você me dá a sua mão a vida se torna arte e o mundo faz sentido enquanto caminhamos unidos contemplando o azul A voz do mar, que tanto diz sem precisar falar esse discurso precioso que minha alma reverencia em profundo silêncio A brisa leve que balança seu chapéu de praia o charme desse vestido de flores espalhadas sobre uma grama solta, figurativa conchas de todo desenho, pintadas na areia muitas cores para acentuar a vida

Perspectivas

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         X O homem, o mundo e Deus, num contraponto da visão dos filósofos Jean Paul Sartre e Sören Kierkegaard O que finalmente teria despertado em Kierkegaard (1813-1855) a introspecção característica da atividade filosófica, depois de uma vida burguesa, alegre e hedonista, típica de um jovem de sua aristocracia e época, onde ao modo de um Agostinho em sua juventude, não tinha mais tempo ou disposição para outras atividades que não aquelas que dissessem respeito somente aos prazeres da mesa e às coisas do corpo? Teria sido tocado por um anjo, na expressão usual dos meios eclesiásticos para a definição de epifania? Como em alguns casos onde há o desenrolar de análogo comportamento, metaforizado por vezes na história de forma figurativa, quer seja como  um raio a atingir em cheio o personagem, por uma visão ardente mais próxima da própria morte, uma contemplação de algo místico inominado, ou ainda como resultado tardio de um  amadurecimento já longe da tenra idade

INTERRUPÇÃO FILOSÓFICA

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* Por Marcos Silva Oliveira O poeta mastiga A vida filosófica Destila metafísica Come a poética Com dentes vampirescos. A lua no céu resplandece Enquanto o poeta no tempo Com a-lógica discursa. Kant está incerto do sistema. Os versos descambam som. Nas ruas e avenidas Pisadas pelo poeta O tempo das estrofes Que busca e inventa Fulgura o ser. O jardim de pensamentos Encontra-se assento Dois poetas dramatizam A imaginação livre A poesia delira outra vez. ===================== *Marcos Silva Oliveira é Filósofo, Autor da Academia Brasileira de Letras, Historiador, adora caminhadas e ler bons livros. A escrita como atividade lúdica -é Internauta.*

Sobre o perdão

"A Felicidade consiste em poder falar a verdade sem machucar ninguém ..." ( Fellini ) A noite é o momento de todas as angústias. Se há um pequeno esconderijo durante o dia, elas ferinas  se escondem sem dificuldade: na agitação, no disfarce, na ocupação planejada da mente. Mas à noite não: no apagar do sol é que elas saem para o que é seu, tiranizando os sentimentos e mostrando ao mundo suas verdades mais escondidas. Como poderia a vida ser algum tipo de caminho, se no caminhar não fosse possível , a quem causou mágoa, obter em algum momento  o perdão daquele a quem tiver ferido , mesmo que nem por uma fração de segundo tenha passado por sua mente ou por seu espírito que pudesse ter lhe causado qualquer  dor? Mesmo se, no seu mais desvairado sonho, sequer tenha ousado pensar que com suas atitudes ou palavras tivesse lançado mais do que apenas palavras soltas  ao vento, nada mais pretendendo além de se mostrar, encenando o antigo exercício da  vaidade humana, ou apenas  

Sobre aprender a não envenenar a própria alma

Dormir com ódio no coração, sufocando seu peito após o último jornal da noite. Receita certa para um ataque cardíaco, uma úlcera ou coisa que o valha. Necessidade de aprendizado constante de como contar sempre com a humanidade, ou aquilo que persiste nela sendo bom e verdadeiro. Nisso parece que cada vez menos há vozes convergentes. Esse conflito estúpido entre árabes e israelenses é aquilo de mais baixo a que se pode aplicar o termo guerra. Desde que me entendo por gente é a mesma coisa; dois lados jurando inocência, dois lados que querem se sufocar mutuamente, cada um desejando que o outro seja em breve extinto. E o pior: historicamente e biblicamente, tanto os muçulmanos quanto os judeus vêm de um tronco comum, em Abraão. Não fosse esse aspecto, vêm ainda da mesma região, falam idiomas que guardam muitas semelhanças, e até a alimentação tem muito em comum. Habitam com desenvoltura há séculos o mesmo deserto rico em lamentações, rico em pedras secas e em falta d'água como todo de

Alma de cortiça

"Minha alma, insaciável com sua língua, já provou de todas as coisas boas e ruins, em cada profundeza já mergulhou. Mas sempre igual à cortiça, sempre bóia outra vez à tona. Bruxuleia como óleo sobre os mares morenos: por ter essa alma me chamam o afortunado". (F. Nietzsche). "Sertão é dentro da gente". (Guimarães Rosa) Andava flutuando sem saber de onde vinha o som; somente absorvia em silêncio as notas levadas  pelo ar, como se estivesse matando uma sede interior, aquela sede do deserto que pede pela água de todo rio. O trinado místico de flauta por detrás do muro surge de repente trazendo à tona seu portador: apenas brinquedo de criança. A pequena causa estava dada e fugiria em disparada, mas seus efeitos não. A música tem o dom de ser imortal. A noite ainda se escondia e a  mente fugidia tentava medrosa retornar pela estrada do batido caminho, mas hoje não, porque hoje qualquer melodia é metafísica demais para um passante que navega sobre o som. Históri

Linhas

No não dizer, no falar não há como esconder minha voz para não parecer insano entre tantos passos o passo de um singular ser humano Histórias impossíveis de um simples olhar como sofrer, andar sozinho sem parecer estranho? O sonho de quem escreve não é ser idolatrado mas compreendido não importa a quem plantou se o fruto dado não foi consumido

Praia (pequeno ensaio renascentista)

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Um manual da diversidade, da convivência, da melhor regra de estética, recomendações para o mundo. Nada existe de mais democrático que uma praia em dia de domingo, em solos brasilis. Até para mim, que não alimento ufanismos baratos nem sigo a cartilha do nacionalismo espalhado pelo globo ( esse discurso doentio que alimenta o sonho dos ditadores, ameaça a vida no planeta e enfraquece o que há de melhor no ser humano em prol de uma insanidade coletiva chamada Estado, e que encanta feito flauta de Hamelin  a massa de manobra essencial para as terríveis guerras genocidas), esse momento de praia quente e mar verde esmeralda me faz renegar cerebralismos e pessimismos ancestrais, cair de joelhos nesse particular verde azul e amarelo e fazer a retratação à qual se negou veementemente Giordano Bruno, na fatídica inquisição: neste dia, o universo é que gira em torno da Terra, afinal. Gente de todo tamanho, de todas as cores, todos os cabelos, todos os sotaques, mosaico de vidas movimentando

A dúvida

E a vida segue assim mesmo doída, ácida, escorregadia quente, pujante, evanescente desejada, sôfrega e até odiada Mas o que me espanta é não saber  nesses intervalos todos repletos de sentido onde eu estava? Tanta conversa boa viagens interessantes companhias e bons amigos livros a se perder filmes a se perder E eu continuamente inexoravelmente naufragando em minha própria existência Posso certificar, com carimbo e protocolo, se precisar que apesar de tanto esforços apesar de tanta preocupação e de tanta ansiedade de me eximir me perdoar por estar vivo justificar-me pela respiração de cada segundo não andei nem sequer um centímetro em qualquer direção e sei absolutamente nada sobre o mundo não conheço sequer um ponto a mais de minha pessoa _isso sem falar nos outros_ Nada sei quanto à viagem dos outros mas quanto à minha, se terminasse neste exato instante posso afirmar que teria sido um ponto feliz a maior parte do tempo mas sobretudo apenas mais u

Estranhamento

Sou um estrangeiro em meu próprio mundo o tempo, que importa o tempo? que passe, que deslize sua suave guilhotina sobre pescoços, pessoas e coisas ao redor Que o tempo transforme os segundos nessas agulhas de prata que rasgam atravessadas quando entram  pelas frestas entre nossas costelas salpicando seus ácidos suspiros sobre a face cansada e marcando a golpes de cinzel suas curvas e pontos enquanto derretem sua escrita insincera rosto abaixo Deixem o tempo brincar de ser isso pouco me importa se tudo fosse imóvel e nada fosse objeto das transformações, ainda assim eu não me reconheceria nas coisas que me rodeiam não refletiria meu rosto nesses falsos espelhos estagnados pois se algo é capaz de subsistir sem ser um mero reflexo (pálido) de si mesmo ainda que por um segundo, em narrativas de contos de fadas esse algo seria inominado e habitaria uma profunda caverna inexistente, somente o sonho de uma possibilidade que por paradoxo não teria nome e por não ter nome

Mãe da Lua

Itz, minín, sai da rúa e entra pradêndicasa já! sereno caíno, Mãe da Lua já chamô trêis vêis sá mãe tá chegâno iqué vê tômunjunto di bãe tomado arre! Minín tentado. Tá c'os ispríto sô? nos meu tempo a correia cumia no lombo! Gilzim, o mais pequeno, o mais pretim de seis irmãos multicores de volta do seu artelívrio profissão brincadeira, na porta do quintal do sério, arrelia sol se pôs na cacunda, a febre de ser moleque se pudesse , pelas noites ardia,  Gilzim mas como não pode, queima mesmo de dia Auscuta só, moleque, qui vô dizê só u'a vêiz si pegá ocê  di novo na árvi, leva de chinelão na orêia íz, causo qui seu pai nuntáquí, qui sinão a surra era de correia seu pai assumiu-se no mundideus por dênd'úa garrádipinga i dexô sá mãe cás mininada todinha tomá conta dicomê qui farta é nhá Rosa quem agarante no precisado qui si nuéra os pessoár da vila nem num tinha ôtra saída

Metamorfose

Esforçar-se o tempo todo para ser formiga andar com formigas pensar como formigas aprender a comer  feito formigas no tempo próprio de formigas E ter nascido com asas e ter nascido com voz para cantar e não ter garras para carregar mas para tocar Não ter vocação para contar o tempo mas gostar de ver o tempo passar gostar da rede, do livre movimento de uma agenda focada em si mesmo ser o sujeito principal de sua própria vida a sina de tentar ser formiga quando a alma nasceu cigarra nasceu cigana e existe  para dançar Reconhecer sua natureza e fazê-la vicejar contra a lógica da era desafio de rachar tijolos estourar  o mundo previsível de formigas acumuladoras deixar chegar o inverno com vida, viola e vinho na despensa Esta a  verdadeira metamorfose transformar-se naquilo que se é

SANATÓRIOS E SANITÁRIOS

* Por Antônio Rocha Neto Sanatório o são faz para o louco. Sanitário, dele fazem uso o louco e o são. Sanatórios são sanitários onde o louco é defecado pelo são. Sanitários de sanatórios, são coisa de louco! No sanitário do são, habitam as loucuras da imaginação! Mas loucos...quem são? Quem é louco de se dizer são? Na minha opinião, Talvez de louco, quiçá de são, Só os loucos são!

ESCOLA DE POESIA

* Por Marcos Oliveira   Versificar não é pequeno Mesmo grande de mundo A ser descoberta a medida Universo pessoal do poeta... O tamanho de gente feliz... A imensidão do espaço Da poesia cabe em estrelas No céu e firmamento Na palma da mão. E nada mais não...     O amor do poeta O sentimento da poesia Viaja pela imaginação Intuição e  insight Em tudo que imagino. Amanhã garimparei O chão de estrelas Os astros e a mão Do velado que inventa Versos lúdicos do poeta.

Caminho de praia

Manhã de julho. Sol frio que cega pelo brilho. A volta do caminho pisado, da longa caminhada pela praia, sal e  sol nas costas de uma manhã qualquer de inverno. Pés afundando sem destino. As folhas das folhas de verde, à beira da estrada, tornadas amarelo. Aquelas que ainda persistem na falta d'água, nesta seca que castiga fora de época, nos meados deste  inverno. Cactus imponentes, Guriris fortes nessa areia que desanima raízes, vento cortante e rude chicoteando pernas incautas com garras  de areia. Nada inspira otimismo quando faz frio e o vento desfolha sadicamente as últimas castanheiras da estação. O sol não se impõe, de propósito. Apenas afasta-se orgulhosamente e deixa os humanos às próprias nuvens. Neste caminho de praia , em meio a tanto cinza, a única cor é o amarelo daquela pequena flor, à beira da estrada. Parece apenas mais uma flor comum, como tantas outras. Não sei o nome, não sei a espécie, nem mesmo o apelido. E eu que achava que sabia tudo. Sua foto não está no

Profissões em baixa II

*Por Adrianna Meneguelli E se eu decidisse ser poeta? Perscrutar esferas e cosmogonias que não fossem as minhas...enxertar desejo em cotidianos rarefeitos...Seria um encontro, definitivo, sobre-humano, que me faria jogar tudo para o alto, abdicar de ser direito, assumir atos desviados, repintados de movimentos gauchescos. Idéias novas irromperiam no dia-a-dia plano, e as coxias em transe subsistiriam incólumes ao palco conformado, à parte de toda horda infame que se esparramaria bacante pelo lado avesso. Seria eu então o anti-contexto, o desconcerto do fluxo, ou apenas mais um marginal pedante? (extraído do blog: http://prosasludicas.blogspot.com )

Profissões em baixa I

* Por Adrianna Meneguelli Cansei de ser arquiteta. Medição de rua, circunscrição de bairros, perscrutação de atalhos, suor pouco agradável. A matemática me enganou, tornou-me irracional convicta: não há lógica que subsista a tanto desencontro no espaço humano. Com profissões falsamente pragmáticas flertei desconfiada, só me faltou ser puta. A síndrome da seletividade exacerbada privou-me do prazer que poderia sorver em esporádica labuta. Melhor ser artista, fingir que desenha, que pinta, que cria coisas inovadoras... glamour da imagem, da produção só corpo fazendo a cena. Pouca profundidade, circular esporadicamente em vernissages ...basta. E que não me cobrem mais nada, entender o básico já é muito difícil! Se chamarem para palestras, é só falar da última proposta ou da última idéia. É prazeroso ser egóico. E se for efêmero demais? Talvez produzir vídeos: basta comprar óculos deslocados e se fazer de inteirado. Mas é deleite acessível a poucos, aos que têm grana ou co

Goethe

Seguindo as estradas possíveis do livre pensador, o eterno dilema de Fausto acerca da valoração coletiva dos objetos que constituem a essência de qualquer ordem social; as figuras emblemáticas do bem estático e do mal dinâmico... o conflito interior entre o Mephisto que há em cada ser humano e a sua luz própria... conflito que há de ser resolvido em prol de uma vida maior. A estagnação benevolente ou as trágicas mudanças? Não se estanca uma narrativa por lembrarmos que na história desta  triste raça, guerras trouxeram mais benefícios que a chamada "paz". Isso para não falar da arte, que pressupõe quase sempre um estômago forte,  além de uma alma inquieta e guerreira. Haveria dúvidas realmente em sua concepção, sobre a razão de ser, as justificativas para a ação humana, e qualquer tipo de  preocupação com essas pequenas formigas que trafegam mecanicamente em seu contínuo ir e vir?? O poderoso e perigoso ímpeto alemão do espírito absoluto do tempo subjugando os destinos individ