Postagens

"Tristes Trópicos"

Imagem
  Os Índios (última entrevista Bruno Pereira) MANAUS, AM (FOLHAPRESS) - "O presidente [Jair Bolsonaro] não demarcou um centímetro como ele prometeu. O presidente da Funai, o [Marcelo] Xavier, está lá para isso. É a administração do caos. Não sei não [suspiro]. Difícil, cansativo, perigoso. Vamos simbora." Foi dessa forma que o indigenista Bruno Pereira, 41, completou uma de suas respostas à Folha durante longa entrevista por telefone semanas antes de viajar pela última vez à terra indígena Vale do Javari, no Amazonas. A entrevista é de 22 de abril, dia em que se comemora o descobrimento do Brasil. Passados 44 dias, em 5 de junho, Bruno desapareceu nas imediações da terra indígena. Foi assassinado ao lado do jornalista britânico Dom Phillips, 57, que escrevia um livro sobre a Amazônia e contava com a ajuda do indigenista. Bruno era funcionário licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio). Naquele dia, foi procurado pela Folha para falar sobre os riscos que vivem hoje os in

Indelével

Imagem
  Singela homenagem a Lygia, uma das maiores  escritoras da língua portuguesa

Da série: autopresentes

Imagem
 

Patuá

Imagem
  Início de 2022 enveredando  pela "coleção Patuá" que vinha  marcando lugar em minha  estante, mas ainda sem estrear  Ótimos livros,  Poemas O discursivo e existencial  " Topografia das ondas", de Arruda Do intimista  "Folhas dos ossos" de  Pamela Fillipini , ao  engajado e contundente  "Exercício de leitura  de mulheres loucas", de  Cinthia Kriemler Supresa no livro de contos  de Renata Correa, com" Vaca e  outras moças de família",uma  autora até então desconhecida pra mim. Uma mistura de sarcasmo, humor  e uma inteligência fluida de texto  que, sem qq dúvida, o tornou  um dos melhores livros de contos  que li nos últimos tempos  por aqui.

Sísifo

Imagem
  A ilusória sensação que se tem  pelo belo texto cristalino  Um livro tão pequeno e a elaboração "fácil" tão ao gosto  do leitor  Há muito mais ali Não se escreve um livro desses  sem uma vida inteira de ensaios

Da série: Alegrias e desventuras de leitor

Imagem
  Dois autores distintos com histórias e propostas muito diferentes, o médico (já falecido) Scliar e o músico Chico Buarque.  Em comum, nessas obras, o tema sobre a longa noite pós-64. Scliar foi militante durante muitos anos e dedicou, no período ainda da ditadura, seu fabuloso "Carnaval dos animais" a metaforizar de forma brilhante pela estética do realismo fantástico o quadro trágico -político da época. Chico  fez isso por uma vida, também na militância ora mais calada, ora mais explícita, mas principalmente pelo trabalho poético- musical, nesse aspecto ainda sem igual no país, a ponto de me fazer pensar que, se o Bob Dylan merecidamente recebeu um Nobel pelo conjunto da obra, se aqui houvesse premiação pelo mesmo critério, sem dúvida Chico seria o nome. Contudo, aqui me estendendo na comparação de duas obras tão distintas, lidas recentemente, apenas por uma razão: a sensação de estranheza no contato com o livro novo do qual esperava muito mais. A decepção por ver, onde eu

Casa do Saber

Imagem
Giacoia, Scarlett Marton, Franklin Leopoldo, Christian Dunker e outros Das melhores coisas que surgiram neste  país dos horrores, cada vez mais atolado no fundamentalismo. Gente fera, autores, pesquisadores, gente que faz a diferença, expondo generosamente o trabalho de uma  vida nos mais diversos campos de saber, através dessa maravilhosa viagem de conhecimento  a um preço acessível Casa do Saber  

Matrix Resurrections

Imagem
  Ok, não é ruim, mas eu confesso  que esperava mais do filme. Deixando de fora o primeiro,  um clássico absoluto, e na minha  opinião um dos melhores filmes  da história do cinema, neste 4  teve melhora dos diálogos e  contextualização dos  personagens na comparação com  os dois últimos, mas esse esforço  se perde quase todo nas  entediantes cenas icônicas  de luta e na ação em geral,  no estilo do II e III, além de exagerar na tentativa de explicar  a ressurreição dos protagonistas e na busca irritante de referência ao clima cativante  do primeiro da franquia

Sapiens

Imagem
Dos rudimentos do quase-humano mapeados  no tempo, até a inteligência artificial da civilização que neste instante procura superar o legado monolítico do 0 e 1 dígitos binários, tudo isso através de uma leitura bastante ampla sobre as ambivalentes potencialidades conjugadas às incoerências e mazelas da era digital, passando com um olhar de enorme síntese sobre todas as fases da humanidade bem conhecidas (acrescentando a cada tópico pontos curiosos e histórias paralelas sobre fatos e eventos fortuitos) , a grande virtude desse livro ao se propor tarefa um tanto pretensiosa, é fazer isso com uma linguagem acessível principalmente a quem não é da área de humanidades.  Não é um livro sem alguns méritos, ainda que  a meu ver tenha sido superestimado desde o início (a grande arte do mercado editorial gringo, de sempre se fazer passar por algo original e virar best-seller). Se alguém há pouco já ouviu falar das contundentes leituras contemporâneas de Zizek, Agamben, Baumann,  Byung Chul-Han,

Kodak

Imagem
( Para meu pai) ------ Barra de Itapemirim, dia desses. Gaivotas, muitas. Dando rasantes na beira  Catando resto de peixes da rede estendida Os cascos dos barcos emborcados na areia  tomando sol. O forte cheiro do sal Maresia cortando o ar O diesel dos motores e tinta fresca num pequeno estaleiro mais afastado Nomes de mulheres pintados nas proas e alguns nomes de santo: Evelyse, Tia Joana, Flores de Iemanjá, Nossa Senhora dos Navegantes, Santa Clara Naquele tempo me pareciam grandes Navios descansando depois do temporal  Solenes,  Gigantes guerreiros em honorável silêncio. Medo de imaginar até onde teriam ido, dias e dias na pesca sem ver terra e agora jaziam calmos recompondo-se beira dareia como recém-chegados da luta contra Moby Dick Atarefados, nós, na venda de beira-cais. Biscoitos  e café, suco, maçãs numa sacola, balas. Camarões amarrados no gancho, chumbada  pesada demais para a modalidade de pesca  Boné na cabeça pra ter sossego Pai: joga a chumbada, filho  Filho: mas não lan

Dos filmes necessários

Imagem
 

Leituras 2021

Imagem
  Vou lendo pra onde me aponta o nariz , às vezes  com um propósito claro. Tantas vezes vou no vento. No fim de cada ciclo, paro pra ver o que foi que aconteceu, se houve uma conversa entre essas intenções e buscas para o resumo da ópera. Um ano de pouco pulso na escrita, uma desmotivação radical no osso com essa atividade, como há década não sentia, e talvez  como forma de autocompensação, de outra mão a pegada até meio exagerada na leitura.  Ser escritor é sempre uma profissão de fé, uma fé laica e universalista. Todo criador se alimenta do texto que ainda não veio, mas eventualmente já existe em germe. Enquanto a veia não retorna, seguindo nas leituras (essas co-autorias de apropriação segundo Barthes) Uma espécie  de busca pela renovação que a palavra traz  independente do gênero pelo qual se manifeste. De todo modo, feliz com as leituras. Dizia Mainardi (a quem tenho muitos motivos políticos para odiar e alguns motivos literários para me aproximar), que é mais feliz como leitor qu

VHM

Imagem
  A beleza desse negócio-aqui  perdido no tempo (Mais um lugar que um passar)   VHM testemunhando a dureza  do antigo regime escolar e a superação pelas palavras ( Valter Hugo Mãe em  "Contra mim", Ed. Globo 2020)

Outras viagens

Imagem
Já dois séculos passados são nada  diante da beleza dessa obra imortal  Uma das prosas mais bonitas  que eu li, em suas inacreditáveis  60 páginas. Um manual de estilo, leveza e asas escrito de forma intuitiva e sagaz, sem perder o sentido do mundo  e o ilimitado da imaginação Livro mais intimista do autor,  retomando a vida de pequeno  não bem numa  autobiografia  Muito mais por nuances, luzes e  sombras, como na forma  que mais comumente nos  vêm os fatos à memória de sonho  É quando as impressões do vivido surgem  entre o imaginado e o percebido com toda a poesia de que sua prosa  já se mostrou capaz Um libelo  em favor do pensamento livre  e da capacidade de ir contra  o senso comum A curiosidade de saber como boa parte  dos "problemas da era" , que  supomos inéditos como condição humana, são na verdade bastante  recorrentes e foram enfrentados  das mais diversas formas por  pensadores, filósofos e poetas  nesses curtos três mil anos   Crítica à forma genérica  com que em

A prosa do mundo

Imagem
Enquanto vou fazendo a anual revisão de estante e separando os livros para doação, vou também reorganizando prateleiras. Daí me vieram como um tapa aquelas obras das quais  ainda não estou preparado para me desfazer, posto que integram, já, meus ossos, desde a  primeira leitura. Que seria desse mundo triste sem os livros? ------ ----------

Seinfeld e o humor como poesia

Saiu "caro", conforme divulgado  pelo streaming mais poderoso do planeta,  mas no fundo a arte não tem preço  A mais inteligente série de humor de todos  os tempos , e uma das melhores coisas  que habitaram uma tela, agora no Netflix  A curiosidade ao rever  - com certa emoção - as histórias  de doce-ácido dos autores Seinfeld  e Larry David que me faziam pocar de rir , e a infinita criatividade  na criação de diálogos  e abordagem de cenas hilárias  das desventuras cotidianas  cabíveis a qualquer mortal Tudo isso gravado tempos atrás, e eu reparando hoje como a estética muda tanto  e fica inevitavelmente datada  Cabelos, roupas, a urbanidade retratada  na série dos 90's, vivida  entre os apartamentos  de dois cômodos e o  "Monk's cafe", na periferia de N York Ao mesmo tempo reparando  no Stand-up do protagonista (que sempre traz alguns flashes  na abertura e fechamento dos capítulos) Seinfeld faz lembrar como existe algo na inteligência  e no humor que são

Round One

Imagem
  A série coreana "Round 6" , do Netflix, influências e desdobramentos. Na tela, depois de doses cavalares de " O Poço"e "Parasita" (porrada social bastante crua) "Hunger Games" ( sarcástica analogia ao capitalismo na metáfora neoliberal dos jogos de meritocracia e à tal competição pela vida apequenada em subsistência) e uma pitada de "Pokemon" (icônico jeito "Japa" de criar diálogos acelerados e cenas de ação no cinema) ,  vem aí nossa versão política: "First Round 2022". Dependendo do que acontecer em outubro do ano que vem e da capacidade deste nosso povo em saber separar o joio do trigo, é possível que o resultado seja ainda mais dramático que no filme. Ou não. É esperar pra ver...

Por tempos melhores que virão

Imagem
  Do garoto que se apaixonava  pela primeira professora  quando ela entrava perfumando a sala  e fazia sol nestes olhos A inesquecível  água-de-colônia  e sua essência de quadro-e-giz  batizando minha cabeça Ivo roubava a uva do avô depois sumia no mato sobre o morro pelo vendaval azul de uma águia Um brinde à profissão-arte  que, vai lá vem-cá : a mais bonita guarda um tanto de vocação  A certeza, na cidade sem esquinas,  que varrida a praga e entoada a rima  (Ensinada e aprendida a lição) Novos e melhores tempos virão  trazendo então palavras  vivas como tijolos para uma outra construção