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Mostrando postagens de novembro, 2017

Instintos

A natureza me fez assim porque é da sua essência ser bela, pura E sem culpa Se sou águia, vôo  porque é meu o céu Se sou tigre, caço, tocaio e mato porque preciso comer Se sou cigarra, canto e minha metamorfose justifica Se sou macho, cubro porque replico a vida Se sou fêmea, emprenho porque sou a explicação Se sou homem  e tenho em mim o tanto de águia, de tigre, de cigarra Se sou homem e vibra em mim o tanto que a natureza me doou de vida e intensidade Por que legitimar a lida em sociedade Se é apenas na natureza onde me realizo?

Limitless

Respira, respira, até onde vai respira a bomba por dentro, bomba bomba centevinte, centequarenta, centesessenta subindo a têmpora lateja as veias dilatam as pernas anestesiam a estrada se abre e o peito esquenta respira respira o sol resseca a garganta as costas doem centesessenta, mais centesetenta, mais por quanto tempo mais meia hora, mais uma hora, mais até onde mais a endorfina injeta o peito enche beleza nos olhos que surge respira...............                respira..................                                      respira..................... tempo lento lá fora encantos de se pegar com a mão tardes de toda pele sombra sob sol aparador de árvores e vermelho de castanheiras na beira molhada de areias meu próprio vinho entornado no meu sangue carregando comigo minha contínua embriaguez respira

Créditos

Deus aposta sempre na paz e na harmonia como fins ainda que seja preciso a guerra para obtê-los O diabo aposta mesmo é na guerra por esporte ainda que seja possível evitá-la E Deus criou a bicicleta dando asas ao homem que queria voar desde criança E o diabo inventou  o preguinho no asfalto a areia no asfalto os ciclistas de headphone nos fins de semana os motoristas que não enxergam e as bikes de dez mil reais E pra matar a sede Deus criou a cerveja e a água de coco geladinha na praia drink de um dia de sol E o diabo faz você perder a carteira não apenas com os trocados para a água de coco mas com um monte de documentos que o farão literalmente viver no inferno por um mês E para acalmar os olhos e sossegar o espírito  Deus inventou a brisa leve os passarinhos coloridos a água azuverdinha o mar em sublime inspiração e, para coroar uma vaidade de criador fez a mulher Enciumado e temendo perder a disputa final o diabo inventou o suplex

Não vou mais dormir

Quando estava no exército gostava de pegar a última guarda das quatro as seis da manhã Era a guarda mais difícil Eu ficava cansado sempre porque emendava com a faina do dia O cansaço quase vingava mas a aurora me impregnava de uma energia tal que eu pensava nunca mais precisar dormir Os tons de lúcido cobalto dos negros azuis no convés da montanha findando estrelas me tomavam por tamanho desespero que eu pensei nunca mais poder morrer O arremate do roxo saindo pro púrpura avermelhando-se tudo em laranja depois para dar no amarelo solar me faziam acreditar em jamais partir

A duração do dia

Vento na cara saudades da estrada sentar beber falar tudo assim ao mesmo tempo há assuntos tão intensos que expulsariam rimas e  não caberiam num raio de verso e tão extensos que devorariam um século

Lagoa

P lá ci da Lagoa Di a sem vento Tuas águas são mes mo as sim pro fun das ou apenas mágoas reunidas na po ça dos la men tos?

Contágio

A criança dormia em meus braços e seus cabelinhos cacheados faziam mechas nos meus dedos enquanto a rede balançava lenta A vida que passava, fria fez questão de parar pra ver O mundo girando ao contrário sempre que o amor (tão refratário ) teimava em acontecer

Fearless

A língua rápida e mortal como um cruzado a lucidez desperta nas palavras do seu profeta Mohammed Dizer seu nome É não calar a força É não negar a guerra Alma sem limites Num coração maior que a Terra

Quasar

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A intensidade que trago em mim A pulsão que desde sempre Habita impunemente meu peito Faz chorar à própria vida Quando ela se percebe, assim Algo tão pequeno E sem jeito

Rap da nova ordem

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Sobre o ruído das ruas que era forte e silencia Pra falar sobre o defunto dessa tal democracia Rima fácil irmão, porque na situação O curral de gado manso nasce da hipocrisia Conduzido sem esforço, nublado e sem juízo Turvado em alvoroço, governado em improviso Nunca foi tão fácil convencer  uma nação De que o destino é esse mesmo Arrastados a esmo Engolindo empulhação Menino na escola aprendendo essa lição De que pobre é sola e preto sem ambição Matando criança, matando favelado Matando a liberdade até de ser veado Polícia canalha escolhida pela máfia Se o Estado é o tal, o dono da empáfia É prefeito, é presidente, é político safado Quem acredita em urna só pode tá errado Faz campanha, divulga a conscientização Que adianta amigo, canalha não tem perdão Ovelhinhas pro abate, esperando sua vez Quem quiser que acredite, confiando no talvez O sistema não dorme, na calada escolhe as regras Não admite justiça, não admite liberdade Os pobres de espírito dominando a

O garoto da camisa preta

Ele vivia assim, sentado na mureta da quadra de esportes ensimesmado uma criança bastante comum no que tem de mágico e maldito em ser criança para um mundo governado por adultos Caçula e franzino de três irmãos a irmã mais velha, preferida do pai o irmão mais velho, preferido da mãe ele não era  bom na escola nem era bom em jogar bola Sobrava sempre nos grupos colecionava apelidos e desfeitos entre os supostos amigos enveredava-se, quase sempre sozinho por seus mundos perdidos, confusos dominados por criaturas sem nome Mas um dia logo ao completar de ano um estranho amigo chegou com bandeiras, propósitos e uma camisa preta agora havia outros amigos também tantos que fizeram um clube e todos pensavam do mesmo jeito e todos gostavam das mesmas coisas lá ele era acolhido e respeitado frequentavam os mesmos lugares saíam à noite juntos, sempre em grupo e marchavam juntos também em suas estranhas ginásticas coletivas onde não tinha mais bola e sempre

Infância

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I. Nasci duas vezes A primeira, de parto natural Primogênito das dores e suores De minha mãe A segunda, Foi quando minha mãe Leu para mim As mil e uma noites II. Abre-te Sésamo! Arcas e mais arcas de ouro Rubis do tamanho de laranjas Esmeraldas e especiarias Tesouros inimagináveis Belas odaliscas de grandes olhos negros Embebidas entre luz e pele Nos seus tecidos diáfanos Cavernas secretas no meio do deserto Mundos descobertos por um menino esperto Camelos, incenso e tâmaras Tapetes que voam a um simples comando Gentes que habitavam ora palácios Ora o mais sórdido das ruas Gentes que singravam os sete mares Em busca do desconhecido Exóticas comidas e lâmpadas mágicas Gênios Que sempre atendiam aos três pedidos III. Um dia (Acho que só consegui reparar bem quando completei cinco anos) Descobri que havia as meninas Raça de criaturas diferentes, aquela Cabelos compridos, vestidos coloridos Sorrisos e pirraças Hora podiam brincar com a gente H

“QUASE SERTÃO”

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Colorido e musical como tudo que vem da Bahia,  esse baiano-capixaba e artista multifacetado Paulo Sena (cujo nome quase prenuncia teatro e movimento de cinema) encanta com seus contos. Conhecido aqui no estado do Espírito Santo e fora dele pela  cultura do teatro, do cinema e da dança, com diversos trabalhos premiados nesses gêneros e muito bem acolhidos pela crítica e pelo público, Paulo estreia agora oficialmente no campo da literatura com seu belíssimo “Quase Sertão”, livro de contos contemplado pelo Edital Funcultura/2016.  O livro sai pela Editora Gracal, em primorosa edição, tem no total vinte e quatro narrativas curtas.  Projeto gráfico, belas ilustrações e capa por arte de Diego Scarparo. Capa, aliás, que é talvez a mais bonita do ano, por estas terras capixabas  Tive a oportunidade feliz ao ler uns tempos atrás, em primeira mão, o conto de abertura “Matilda e o Vento”, e sentir o imediato encantamento não apenas pelo estilo, pela enorme vitalidade do texto que saltava

"MINHA LUTA": DESAFIANDO O NADA

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A felicidade indisfarçável de leitor, quando você, nos dias de hoje, ainda fuça essas megastores da vida e topa com um “best-seller” de prateleira que pode ser considerado uma obra de qualidade, algo com o que vale a pena dispender o precioso tempo e saber, por aquela intuição da leitura das primeiras páginas, que isso lhe acrescentará vivência, este sim o maior objetivo, e não apenas a triste erudição perdida em autocomplacências descartáveis. Sim, porque não sei se alguém mais tem essa nostalgia, como eu, de que naufragou o critério antigo e mais rigoroso para definição de livros que chegaram a ser campeões de venda em outras épocas, como “O nome da rosa”, de Umberto Ecco, “Memórias de Adriano”, de Marguerite Yourcenar, ou “Cem anos de solidão”, de Garcia Márquez, e hoje o que vemos por aí, em todos os tristes tons de cinza, é de fazer chorar. Uma das exceções possíveis é a bela trajetória “Minha Luta” ( é bom esclarecer que, apesar do título estigmatizado, não há qualquer apo