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Mostrando postagens de junho, 2020
A máquina (Economia Política, parte I)
Smith, do alto de seu iluminismo todo achando que bastava a vontade atávica O homem querendo levar à frente sua própria veia empreendedora, como no ranger das tecelagens recém-iniciadas em sua terra natal "Laissez faire", que haverá sempre uma mão invisível a consertar os grandes erros Uma racionalidade latente inscrita no cerne da vida -- força benévola a empurrar o humano para seu destino de grandeza O governo servindo apenas como meio de manter a ordem e garantir a fiscalização de um jogo que se auto-regula Seguiríamos assim, numa sociedade perfeita conjugando perfeitamente meios e fins e estaria certificada a felicidade coletiva quando a ação, mesmo individual e egoísta servisse de forma indireta para puxar à frente a carga da história, em inventividade dividindo seus dividendos livremente com o resto da humanidade A realidade, como sempre mais rasteira, tratou de demonstrar, nesses últimos 200 que embora tenha se desvencilhado do antigo regim
"Os caminhos da liberdade" (J.P. Sartre, trilogia)
Os volumes da trilogia "Caminhos da liberdade" "A idade da razão" "Sursis" "Com a morte na alma" Juntamente com o ensaio "Que é a literatura?", onde defende o engajamento do escritor e um papel inovador para a literatura, o romance "A Náusea" (incrivelmente escrito antes da segunda grande guerra, expondo pontos-chave da filosofia existencialista que seriam mais desenvolvidos posteriormente, e profeticamente antecipando um status de humanidade que só surgiria a partir da guerra), a belíssima autobiografia de "As Palavras", onde inaugurou o estilo literário de "autobiografia inventada" e o livro de contos "O muro", ainda hoje retrato das subjetividades contemporãneas, isso tudo faz de Sartre, quase que independentemente do seu vasto trabalho filosófico em paralelo, um dos principais e mais prolíficos escritores do séc XX. E como não podia deixar de ser , o tema principal que p
Orvalho
Aquando a manhã súbita o surpreende sem sono (Não que tenha dormido demasiado ) Mas a pujança do mundo desde cedo acordado lhe falou mais alto que a anunciada em sonho E todas as palavras que existem e também aquelas que ainda não foram escritas nem soadas, parecem dotadas de uma vontade de se instilar e aguardam ansiosamente o seu despertar A folha branca te olha de banda Desperta-se, ainda situado na transição em andamento por esses dois mundos Entre a vigília e o sonho há uma terceira categoria Fugidia, fugaz mas de uma beleza atroz Como se por dentro uns outros olhos sonolentos fossem vendo coisas que daí a pouco quando o café fizer efeito e a máquina do mundo se puder a girar se dissiparão em pleno ar É por isso que, sabendo da perda breve dessa magia alguma coisa por dentro segue renitente, querendo brincar É tudo diferente aqui e agora (A absurda imensidão que pode habitar um quintal) Mais ainda nesta época do ano onde mora nas costas das
Cinema, literatura e metalinguagem
(Eungyo - Coreia, 2012) Quando a poesia na tela transcende à própria narrativa e quer mostrar, pela dinâmica entre beleza, dor, desejo,criação e cotidiano, que tanto a vida quanto o verso jamais são lineares e habitam o mundo variando entre incomensurável silêncio e ruidosa potência antes de se tornarem arte. A curiosidade do filme, que é coreano, uma adaptação do romance do escritor Park Bum-Shin mas reflete intensamente -- em alguns momentos literalmente-- estéticas e formas narrativas muito próprias de alguns autores japoneses. Um possível "olhar oriental"que transcende nacionalidade? Uma tentação, esse vício de nós, ocidentais, atribuirmos um excesso de semelhança ao desconsiderarmos que, apesar de repleto de permeabilidades e histórias conjuntas, -- até por conta de reinos contíguos ou geminados que posteriormente se erigiram em nacionalidades e culturas próprias -- não se trata da mesma coisa. Pegando bem de perto a China, a Coréia e o Japão de hoj
Hierarquias
O trágico é bruto e intermitente O dramático, refinado e cotidiano O cômico é o grande mistério e ainda segue tão relegado sem lhe reconhecerem o valor (O poder da comédia: Segundo Umberto Eco e alguns especialistas, essa foi a última e mais difícil descoberta de Aristóteles -- fácil de saber por que -- pelo antiplatônico que carrega no bojo) O humor é sensorial e anárquico O dramático é do intelecto O trágico é quase metafísico O homem, animal que ri definiria muito mais um pertencimento do que qualquer outro dogma Muito mais que "um animal que pensa " "uma alma divina" "um ser capaz de autodeterminação" A percepcão do trágico permitiu o império do medo Guerras sem fim, religiões As variações argumentativas do dramático trouxeram à tona a razão, a ciência o amplo espectro das artes O cômico derruba os castelos Cartesianos e a causalidade erigida por todas as formas artificiais do pensamento Não subsiste a prete
Dos nomes de bandas e álbuns que não poderiam ser diferentes
RHCP, uma das melhores bandas em um de seus melhores álbuns . Um funk de rua, em proposta de fusão-rock, letras e vocais que ora estão nos becos de N York, com rimas e levadas de rap e hip hop, ora nas praias californianas, uns batidos quebrados na batera que lembram afro- jazz, um baixo virtuoso e uma das guitarras mais criativas de que alguém já teve notícia.
Poesia de se tocar
(Criolo -" Nó na orelha") Quando o ácido entorna o doce A crítica eleva o verso e a poesia torna-se assim a mistura explosiva e tão real entre música e grito de guerra Essa coisa bonita de encher a vida de sentido por meio da luta realçando a beleza que há no conceito de ser potência sem perder coração
Corpo e processo criativo
O prazer de testar o limite Até onde o peso Até onde o passo Até onde a dobra do desejo [até onde o outro ou no fundo é tudo eu mesmo em insanos giros ao redor] Músculo retesado Contração e explosão Relaxamento Novo ciclo Respiração Um aumento da força que advém quando o desanimar é o novo normal Por que insistir por que não se deixar levar por que não homologar essa final entrega Até onde a motivação quando tudo o mais é queda Até onde o corpo refugando o que está morto põe-se, mesmo torto em movimento de espiral contínua Sacode-se em poeiras e se põe a escrevinhar não sou eu mais, não estou sozinho é algum outro, algo que me continua o caminho Experimentações : o desarrolo de palavras tomado pelo êxtase sexual o espojar-se em gozo A continência e seu preço alto demais A pena conduzida pelo amor pelo ódio, pelo medo e a dor Paixão e pulsão, ebriedade Os garranchos irresolúveis do álcool a turvar profundidades A solução a criar n
A laje (delírios covidianos I)
Jobson é a lagartixa que disputa comigo diariamente, no quintal a laje do sol matinal nestes tempos de quarentena Nas manhãs frias, já reparei que ele nem dá as caras assim como eu mas basta ameaçar um calorzinho que ele logo se estatela na plataforma de cimento com aquele olhar zombeteiro do tipo: cheguei primeiro E fica de lá, sacudindo a cabeça pra confirmar seu domínio . Parece querer me lembrar --- não sem um certo sarcasmo -- a famosa história dos seus primos que mandaram na porra toda durante milhões de anos Em silêncio, é como se dissesse: Olha lá, hein!! Também leio jornais e sei que tudo pode estar por um fio. Calma aí, Jobson! Segundo o Goooooogle o prazo desse passe livre expirou em algum lugar entre o Jurássico e o Cretáceo-Mesozóico E talvez apressado (dizem) pelo tal meteoro No período Covidiano, tempo atual, trata de ir baixando a bola e voltar pra sua parede enquanto um novo meteoro não vem (Juro que o flagrei dando
Descalço
Textando texturas Grama seca, grama molhada Poeira, barro Livres das barreiras de borracha Chão- saudoso- chão Me abrace enquanto o aperto entre meus dedos Em acolhida empolgada destes pés fugidios Atentando contra o áspero do concreto O liso no fundo das plantas A linguagem das terminações traduzindo para mim o mundo Cócegas que sobem pela espinha, ao caminhante quando caminha As solas raspando a areia de beira-praia num final de tarde fazendo de golfinhos afundando e levantando nesta outra água em pó (Tudo isso meio em surdina, máscara a postos para qualquer ataque surpresa de uma massa de ar suspeita) Não é como pedalar -- que mais parece vôo-- Andar descalço é como montar as costas das coisas Roubar essa pequena liberdade boba de sair ali na esquina (furtiva e clandestina) -- criança fugindo sorridente do cercabraço de mãe-- Para saber do lafora o que é que há