A sétima porta
Meia-noite encobrindo a neblina densa e fria, e Sylvester lambe as patas, afiando suas garras no tapete da sala. Atrás dele, o sofá de couro cinza puído, embaixo do relógio de parede em estilo gótico que soava a última das doze badaladas ecoando pelo salão principal. Quadros dos antigos moradores da casa adornavam a parede lateral que se estendia pelo corredor de teto amarelado com infiltrações úmidas de musgo verde nas quinas. Desde que momentos antes passara a carruagem pela rua de pedras molhadas de sereno, o silêncio abraçou a imensa casa colonial de dezoito quartos, calçada com assoalho de madeira e sustentada por vigas mestras de seis metros de altura. Outrora aquela casa vivia repleta de crianças, convidados, bebidas exóticas e banquetes variados em razão das recepções acontecidas no salão oval. Agora, uma vez extintas as músicas dos salões, ouvia-se apenas uma coruja do mato piando ao longe, sapos roucos no pântano ao fundo do quintal e o suspiro do vento gelado do mês de j