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Existencialismo, psicodelismo, critica social e ousadia estética: A História de uma obra-prima. Pink Floyd The Wall 35 anos

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Quando se fala de arte, independentemente do terreno de sua expressão, seja no mundo figurativo da escultura, da pintura, ou não figurativo da dança, da escrita ou música, é muito fácil se enrolar ao tentar definir conceitualmente aquilo que é bom ou ruim, o que é certo, errado ou onde estão, ou mesmo se devem existir os tais limites para a criação. Perde-se muito ao tentar racionalizar um discurso que pertence a outro gênero de conhecimento e experiência humanas, porque geralmente essa fala explicativa opera um reducionismo ao usar uma linguagem estranha para "dizer" e tornar palatável aquilo que foi criado dentro de um outro modo de experimentar o mundo. Na falta de critérios absolutos para definição, uma vez que a arte não se curva à mera análise cartesiana da racionalidade, ao mundo hermético dos conceitos que compõem a Filosofia ou mesmo ao quadro de funcionalidades e relações típicas do pensamento científico, o que acaba acontecendo é a imposição de verdades com

Vitória

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Vitória é linda, essa cidade. E é muito mais bonita agora do que há vinte anos. A vista da  capital pelo grande arco da Terceira ponte. Os navios gigantes esperando para entrar no porto. O mar refulgindo no azul verdão os espelhos do sol da tarde. De cima do morro, a vista de lá para cá, de Vila Velha e a foto tradicional panorâmica de cima do Convento da Penha, pegando desde a entrada à esquerda da baía, entrando na ilha num belo dia de sol na ponte de ferro Florentino Avidos, deslizando os olhos suavemente à direita pela estreita beira-mar aparada pelos morros até a  Ilha do Boi. A via portuária central da Codesa, e a expectativa sempre presente do Cais das Artes enfim poder virar uma realidade que será sempre necessária e urgente. O centro histórico, com sua arquitetura antiga e as ruas estreitas que fazem os edifícios parecerem muito maiores do que são. As luzes do Palácio Anchieta, edifícios e semáforos em noite de chuva por detrás dos vidros embaçados dos ônibus. Toda a En

Mineral

Escrever para não morrer, escrever para não morrer como se isso tivesse alguma real importância como se não fôssemos apenas aqueles grãos de areia da praia misteriosos minerais capturados durante bilhões de anos no seu passeio livre e plasmados em forma orgânica de filamentos helicoidais transmitindo-se impunemente às futuras gerações era após era Enquanto humanos, indivíduos ou coletividade que seja aos olhos do universo somos uma espécie de nada _ou talvez menos que isso, posto que até mesmo o vácuo espacial tem lá suas funções na física dos planetas_ somos portadores de uma tamanha insignificância que daqui a algum tempo _ para nós, um tempo enorme_ _para a natureza, um tempo ínfimo_ não terá feito a menor diferença o fato de termos existido ou de ter subsistido na hipótese remota qualquer tipo de legado depois de varridos os últimos vestígios da civilização não haverá qualquer choro, palmas ou pedido de bis Tanta arrogância, tanta pretensão condensadas

O vazio

O verso nasce pro que falta porque a poesia é que me completa. Esperasse eu que um dia o mundo fizesse sentido esperasse eu que a vida um dia se estabilizasse na beleza esperasse eu que as pessoas enfim vivessem para sempre na mais bela harmonia e todas as suas virtudes sobrepusessem definitivamente todas as suas falhas, todo o vício de errar É da necessidade de preencher o vácuo do que ainda não existiu com algo que possa sustentar a dor, manter a beleza ocupar a esperança que surgem as metáforas, esses garranchos disformes no papel nem sempre belos, às vezes terríveis mas cuja essência é apenas apostar na própria vida mesmo quando esse cavalo ainda não largou na raia Se consigo preencher o espaço com meus versos, sou poeta se não consigo, morro Mas morro tentando

O dia seguinte

Esqueçam o chato do Maradona e a famosa goleada de 7 x 1!!! Rivalidades futebolísticas à parte, o fato é que o mundo seria bem mais triste sem os argentinos e bem menos instigante sem os alemães. Qual leitor sobreviveria sem a riqueza legada pelos escritores Borges, Cortázar, Bioy, do lado dos hermanos, e em que universo hoje habitaria a humanidade sem Nietzsche, Schopenhauer, Einstein, Thomas Ma nn, Heidegger, Freud, Marx, Hoelderlin, Benjamin, Kant, Hegel, Schiller, Rilke e é claro, Goethe?? O incomparável Goethe? Ganhe quem ganhar na bola, nesta copa que até hoje foi a mais bonita e perfeita que já vi, o fato é que nós seremos eternamente devedores dessas nações. Mais de um mês com tantas bandeiras, línguas, tradições, cores. No balanço geral, não dá pra achar jamais que saímos perdendo alguma coisa quando o brasileiro soube receber tão bem os visitantes, desempenhando perfeitamente o papel do bom anfitrião e exercitando a essencial (e rara) oportunidade de receber o olhar do outro

Quero copa!

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Quero Copa!! Claro que sim,... gente na rua, de verde e amarelo, comemorando a vida, comemorando ser brasileiro, não importa sob qual governo. Já passamos por coisas muito piores e não perdemos a fé na vida e a capacidade de lidar com a dor. Como dizia o poeta : "É melhor ser alegre que ser triste" . Não importa também se o time vai ganhar ou perder, o que importa é que jogue com raça e dignidade, de cabeça erguida, e que vença o melhor.  Hospitais? Escolas? Infra-estrutura e logística? Sempre serão demandas justas e merecidas, e sempre estivemos entre os piores do mundo nesse quesito. No entanto, não vejo qualquer relação entre uma coisa e outra. A cobrança por melhorias econômicas e sociais deve persistir sempre, em qualquer contexto, e é uma luta que nunca acaba. Desvios ou corrupção que envolvam as obras para a copa ou olimpíadas podem e devem ser auditadas, fiscalizadas a qualquer tempo, e creio que haverá a ocasião oportuna para isso logo em breve, mas o que isso tem

As palavras e as coisas

Se eu tivesse nascido poeta censuraria as rimas improváveis e mais tudo nessa vida que nunca chora quando vê o destino, por mero capricho, rimar beleza com tristeza torpeza com delicadeza e felicidade com crueldade Se eu tivesse nascido poeta não passaria tantas noites aflitas e insones atrás da melhor palavra para representar um sonho,  uma idéia, um espanto algo que me permitisse me aproximar mais da essência da própria vida as palavras simplesmente me deixariam um dia em paz por saber que a vida não é lugar nem pessoa nem no final não tem nenhuma porcaria de essência e só se permite a aproximação quando bem quer Se eu pudesse ter nascido poeta remediaria todos os males imaginários do mundo aqueles que o mundo sempre pensa que sofre como gente grande mas no fim não há mundo,  porque  não há sofrimento do mundo nem sequer há gente grande o que existe mesmo são pessoas, indivíduos, essas singulares criaturas que sofrem, que choram e que riem cada um por si só

As escadarias da Cidade Alta

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Sob as escadarias da Cidade Alta espreitam olhos acuados o momento em que um sol pontual se precipitará de vez no poente então sedentas criaturas aos poucos ganharão as ruas saindo de suas tocas invisíveis e desfilando no sereno sua fissura A visão  tremida dos passantes depurando em vão a amargura fumaça etérea, cachimbos vorazes cooptando as almas fugazes alimentando as promessas de cura Grunhidos simulam conversas aros de lata queimam no abismo o espírito embarca de boa o vapor entornando seus fluidos alma e corpo caminham insones sobre a  linha da vida divididos Kamikazes por mais um trago a substância inebriando os sentidos pela moeda que um dia foi corpo pela moeda que um dia já foi carro hoje apenas um espírito roto cuspido no chão como escarro Corpo moldado pela violência convulsando-se no limiar da noite para justificar-se a si mesmo sua existência onde termina a vida e aonde começa o açoite Incompreensão e despreparo do mundo-ao-redor n

Motivações

A filosofia sempre buscou a verdade mas o que eu pretendia mesmo era apenas a sombra suave das meias mentiras pois da poesia é que nasce a vida Enchendo os olhos de esperança é que se acorda despindo do sonho as vaidades vãs trocando a certeza da felicidade artificial pela pulsação incontida das manhãs Qual a força que o faria prosseguir? quem o tornaria novamente senhor de si mesmo depois de tanto tempo ouvindo as vozes depois de tanto tempo abandonado                            aos seus próprios elementos? Passeava novamente os dedos insones pelas páginas marcadas da estante mas não via consolo nesse momento as companhias de outro tempo evanesceram deixando um fino rastro de pólvora que alguém ainda não acendeu no seu encalço Atendia o telefone, mas o portal havia se fechado há pouco e a voz perdida para sempre do outro lado sequer pareceu ter existido enquanto uma nuvem de incertezas caía lentamente tornando obtusa sua razão mais uma vez

A sétima porta

Meia-noite encobrindo a neblina densa e fria, e Sylvester lambe as patas, afiando suas garras no tapete da sala. Atrás dele, o sofá de couro cinza puído, embaixo do relógio de parede em estilo gótico que soava a última das doze badaladas ecoando pelo salão principal. Quadros dos antigos moradores da casa adornavam a parede lateral que se estendia pelo corredor de teto amarelado com infiltrações úmidas de musgo verde nas quinas. Desde que momentos antes passara a carruagem pela rua de pedras molhadas de sereno, o silêncio abraçou a imensa casa colonial de dezoito quartos, calçada com assoalho de madeira e sustentada por vigas mestras de seis metros de altura. Outrora aquela casa vivia repleta de crianças, convidados, bebidas exóticas e banquetes variados em razão das recepções acontecidas no salão oval. Agora, uma vez extintas as músicas dos salões, ouvia-se apenas uma coruja do mato piando ao longe, sapos roucos no pântano ao fundo do quintal e o suspiro do vento gelado do mês de j