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Patuá
Início de 2022 enveredando pela "coleção Patuá" que vinha marcando lugar em minha estante, mas ainda sem estrear Ótimos livros, Poemas O discursivo e existencial " Topografia das ondas", de Arruda Do intimista "Folhas dos ossos" de Pamela Fillipini , ao engajado e contundente "Exercício de leitura de mulheres loucas", de Cinthia Kriemler Supresa no livro de contos de Renata Correa, com" Vaca e outras moças de família",uma autora até então desconhecida pra mim. Uma mistura de sarcasmo, humor e uma inteligência fluida de texto que, sem qq dúvida, o tornou um dos melhores livros de contos que li nos últimos tempos por aqui.
Da série: Alegrias e desventuras de leitor
Dois autores distintos com histórias e propostas muito diferentes, o médico (já falecido) Scliar e o músico Chico Buarque. Em comum, nessas obras, o tema sobre a longa noite pós-64. Scliar foi militante durante muitos anos e dedicou, no período ainda da ditadura, seu fabuloso "Carnaval dos animais" a metaforizar de forma brilhante pela estética do realismo fantástico o quadro trágico -político da época. Chico fez isso por uma vida, também na militância ora mais calada, ora mais explícita, mas principalmente pelo trabalho poético- musical, nesse aspecto ainda sem igual no país, a ponto de me fazer pensar que, se o Bob Dylan merecidamente recebeu um Nobel pelo conjunto da obra, se aqui houvesse premiação pelo mesmo critério, sem dúvida Chico seria o nome. Contudo, aqui me estendendo na comparação de duas obras tão distintas, lidas recentemente, apenas por uma razão: a sensação de estranheza no contato com o livro novo do qual esperava muito mais. A decepção por ver, onde eu
Casa do Saber
Giacoia, Scarlett Marton, Franklin Leopoldo, Christian Dunker e outros Das melhores coisas que surgiram neste país dos horrores, cada vez mais atolado no fundamentalismo. Gente fera, autores, pesquisadores, gente que faz a diferença, expondo generosamente o trabalho de uma vida nos mais diversos campos de saber, através dessa maravilhosa viagem de conhecimento a um preço acessível Casa do Saber
Matrix Resurrections
Ok, não é ruim, mas eu confesso que esperava mais do filme. Deixando de fora o primeiro, um clássico absoluto, e na minha opinião um dos melhores filmes da história do cinema, neste 4 teve melhora dos diálogos e contextualização dos personagens na comparação com os dois últimos, mas esse esforço se perde quase todo nas entediantes cenas icônicas de luta e na ação em geral, no estilo do II e III, além de exagerar na tentativa de explicar a ressurreição dos protagonistas e na busca irritante de referência ao clima cativante do primeiro da franquia
Sapiens
Dos rudimentos do quase-humano mapeados no tempo, até a inteligência artificial da civilização que neste instante procura superar o legado monolítico do 0 e 1 dígitos binários, tudo isso através de uma leitura bastante ampla sobre as ambivalentes potencialidades conjugadas às incoerências e mazelas da era digital, passando com um olhar de enorme síntese sobre todas as fases da humanidade bem conhecidas (acrescentando a cada tópico pontos curiosos e histórias paralelas sobre fatos e eventos fortuitos) , a grande virtude desse livro ao se propor tarefa um tanto pretensiosa, é fazer isso com uma linguagem acessível principalmente a quem não é da área de humanidades. Não é um livro sem alguns méritos, ainda que a meu ver tenha sido superestimado desde o início (a grande arte do mercado editorial gringo, de sempre se fazer passar por algo original e virar best-seller). Se alguém há pouco já ouviu falar das contundentes leituras contemporâneas de Zizek, Agamben, Baumann, Byung Chul-Han,
Kodak
( Para meu pai) ------ Barra de Itapemirim, dia desses. Gaivotas, muitas. Dando rasantes na beira Catando resto de peixes da rede estendida Os cascos dos barcos emborcados na areia tomando sol. O forte cheiro do sal Maresia cortando o ar O diesel dos motores e tinta fresca num pequeno estaleiro mais afastado Nomes de mulheres pintados nas proas e alguns nomes de santo: Evelyse, Tia Joana, Flores de Iemanjá, Nossa Senhora dos Navegantes, Santa Clara Naquele tempo me pareciam grandes Navios descansando depois do temporal Solenes, Gigantes guerreiros em honorável silêncio. Medo de imaginar até onde teriam ido, dias e dias na pesca sem ver terra e agora jaziam calmos recompondo-se beira dareia como recém-chegados da luta contra Moby Dick Atarefados, nós, na venda de beira-cais. Biscoitos e café, suco, maçãs numa sacola, balas. Camarões amarrados no gancho, chumbada pesada demais para a modalidade de pesca Boné na cabeça pra ter sossego Pai: joga a chumbada, filho Filho: mas não lan
Leituras 2021
Vou lendo pra onde me aponta o nariz , às vezes com um propósito claro. Tantas vezes vou no vento. No fim de cada ciclo, paro pra ver o que foi que aconteceu, se houve uma conversa entre essas intenções e buscas para o resumo da ópera. Um ano de pouco pulso na escrita, uma desmotivação radical no osso com essa atividade, como há década não sentia, e talvez como forma de autocompensação, de outra mão a pegada até meio exagerada na leitura. Ser escritor é sempre uma profissão de fé, uma fé laica e universalista. Todo criador se alimenta do texto que ainda não veio, mas eventualmente já existe em germe. Enquanto a veia não retorna, seguindo nas leituras (essas co-autorias de apropriação segundo Barthes) Uma espécie de busca pela renovação que a palavra traz independente do gênero pelo qual se manifeste. De todo modo, feliz com as leituras. Dizia Mainardi (a quem tenho muitos motivos políticos para odiar e alguns motivos literários para me aproximar), que é mais feliz como leitor qu
Outras viagens
Já dois séculos passados são nada diante da beleza dessa obra imortal Uma das prosas mais bonitas que eu li, em suas inacreditáveis 60 páginas. Um manual de estilo, leveza e asas escrito de forma intuitiva e sagaz, sem perder o sentido do mundo e o ilimitado da imaginação Livro mais intimista do autor, retomando a vida de pequeno não bem numa autobiografia Muito mais por nuances, luzes e sombras, como na forma que mais comumente nos vêm os fatos à memória de sonho É quando as impressões do vivido surgem entre o imaginado e o percebido com toda a poesia de que sua prosa já se mostrou capaz Um libelo em favor do pensamento livre e da capacidade de ir contra o senso comum A curiosidade de saber como boa parte dos "problemas da era" , que supomos inéditos como condição humana, são na verdade bastante recorrentes e foram enfrentados das mais diversas formas por pensadores, filósofos e poetas nesses curtos três mil anos Crítica à forma genérica com que em
A prosa do mundo
Enquanto vou fazendo a anual revisão de estante e separando os livros para doação, vou também reorganizando prateleiras. Daí me vieram como um tapa aquelas obras das quais ainda não estou preparado para me desfazer, posto que integram, já, meus ossos, desde a primeira leitura. Que seria desse mundo triste sem os livros? ------ ----------
Seinfeld e o humor como poesia
Saiu "caro", conforme divulgado pelo streaming mais poderoso do planeta, mas no fundo a arte não tem preço A mais inteligente série de humor de todos os tempos , e uma das melhores coisas que habitaram uma tela, agora no Netflix A curiosidade ao rever - com certa emoção - as histórias de doce-ácido dos autores Seinfeld e Larry David que me faziam pocar de rir , e a infinita criatividade na criação de diálogos e abordagem de cenas hilárias das desventuras cotidianas cabíveis a qualquer mortal Tudo isso gravado tempos atrás, e eu reparando hoje como a estética muda tanto e fica inevitavelmente datada Cabelos, roupas, a urbanidade retratada na série dos 90's, vivida entre os apartamentos de dois cômodos e o "Monk's cafe", na periferia de N York Ao mesmo tempo reparando no Stand-up do protagonista (que sempre traz alguns flashes na abertura e fechamento dos capítulos) Seinfeld faz lembrar como existe algo na inteligência e no humor que são
Round One
A série coreana "Round 6" , do Netflix, influências e desdobramentos. Na tela, depois de doses cavalares de " O Poço"e "Parasita" (porrada social bastante crua) "Hunger Games" ( sarcástica analogia ao capitalismo na metáfora neoliberal dos jogos de meritocracia e à tal competição pela vida apequenada em subsistência) e uma pitada de "Pokemon" (icônico jeito "Japa" de criar diálogos acelerados e cenas de ação no cinema) , vem aí nossa versão política: "First Round 2022". Dependendo do que acontecer em outubro do ano que vem e da capacidade deste nosso povo em saber separar o joio do trigo, é possível que o resultado seja ainda mais dramático que no filme. Ou não. É esperar pra ver...
Por tempos melhores que virão
Do garoto que se apaixonava pela primeira professora quando ela entrava perfumando a sala e fazia sol nestes olhos A inesquecível água-de-colônia e sua essência de quadro-e-giz batizando minha cabeça Ivo roubava a uva do avô depois sumia no mato sobre o morro pelo vendaval azul de uma águia Um brinde à profissão-arte que, vai lá vem-cá : a mais bonita guarda um tanto de vocação A certeza, na cidade sem esquinas, que varrida a praga e entoada a rima (Ensinada e aprendida a lição) Novos e melhores tempos virão trazendo então palavras vivas como tijolos para uma outra construção